Cardiomiopatia hipertrófica e esportes: o que devemos saber?

O grande desafio dos médicos que atuam na área de Medicina do Exercício e Esporte é a prevenção da morte súbita (MS) relacionada aos exercícios.

O grande desafio dos médicos que atuam na área de Medicina do Exercício e Esporte é a prevenção da morte súbita (MS) relacionada aos exercícios, quer para a promoção de saúde e/ou competição.

A cardiomiopatia hipertrófica (CMPH) tem seu reconhecimento há aproximadamente 50 anos. É uma doença genética autossômica dominante, cuja incidência fica ao redor de 1:500 adultos. A forma não obstrutiva evolui melhor do que a obstrutiva, inclusive a MS.

Entretanto, aproximadamente 2/3 daqueles não obstrutivos em repouso quando submetidos a manobras como Valsalva e/ou exercícios tornam-se obstrutivos, reduzindo para 24 a 30% a taxa de não obstrutivos numa população referida – diferentemente da citação da literatura que aponta para 75% de não obstrutivos em repouso.

A cardiomiopatia hipertrófica apresenta hipertrofia do VE, esta não relacionada à dilatação de cavidade e/ou condições capazes de produzir hipertrofia, como, por exemplo, HAS, estenose aórtica, coração de atleta.

Os sintomas mais frequentes são a dispneia, angina e palpitações (mais de 50% dos pacientes), porém são inespecíficos por ocorrerem em outras patologias cardiovasculares.

Existe consenso mundial de que CMPH é a principal causa de morte súbita relacionada aos exercícios em indivíduos abaixo de 35 anos, chegando, em alguns estudos, à taxa de 56% destas mortes. Seu diagnóstico tem dois aspectos importantes: exame físico e ECG de repouso, que em se mostrando alterados leva-nos a exames subsidiários para consolidação diagnóstica, como, por exemplo, ecocardiograma. Em dúvidas, associar a RM, podendo ainda lançarmos mão do teste ergométrico e eventualmente o Holter, para uma estratificação do risco no portador desta patologia.

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Aspectos do diagnóstico:

  1. HVE sem fatores cardíacos ou sistêmicos que justifiquem tal ocorrência.
  2. Dispneia, angina e palpitações inespecíficos, mas que em indivíduos jovens chamam a atenção nesta patologia.
  3. ECG, alterado em 75 a 95% dos casos; alterações de ST (ondas T invertidas).
  4. RX de tórax (achados inespecíficos).
  5. Ecocardiograma (hipertrofia assimétrica, sem dilatação do VE): função sistólica normal – disfunção diastólica – movimento sistólico anterior da válvula mitral.
  6. Ressonância Magnética, importante na quantificação da HVE – do volume distólico e sistólico final, volume ejetado e a função do VE.
  7. Teste ergométrico e Holter, pesquisa de arritmias no esforço e repouso, no teste ergométrico, ainda avaliar queda ou não elevação da PA.

O tratamento pode ser farmacológico (tendo como principal droga os betabloqueadores) e ainda por métodos invasivos, como, por exemplo, a alcoolização da artéria septal, miectomia cirúrgica e ainda o marcapasso bicameral.

Como saber se o portador da CMPH encontra-se no grupo de risco de morte súbita?

– História familiar de morte súbita;
– Importante HVE do septo ventricular = ou > 30 mm;
– Taquicardia ventricular não sustentada (TVNS) no Holter;
– Síncope inexplicada;
– Hipotensão ou não elevação da pressão arterial (PA) durante teste ergométrico.

Nestes pacientes é mandatório que avaliemos o implante de cardiodesfibrilador (CDI) como forma de prevenção primária da morte súbita. Assim sendo, aqueles atletas com diagnóstico confirmado de CMPH ficam vetados de qualquer atividade competitiva, sendo liberados apenas para classe IA e IB da AHA/ACC (Scientific Statement –November 3, 2015), que são boliche, bocha, golfe, arco e flecha e tiro. É por esse e outros motivos que esta doença continua sendo o calcanhar de aquiles da cardiologia do esporte, por ser uma doença multifacetada, onde muitas vezes sua primeira apresentação pode ser a morte súbita. São eventos trágicos e que levam à comoção social e familiar, uma vez que envolve indivíduos jovens e, teoricamente, modelos de saúde. Retirar de um jovem o sonho de trilhar uma carreira no esporte e se consagrar campeão é algo muito delicado, por isso precisamos readaptar este jovem atleta, tornando o dia a dia na cardiologia do esporte mais desafiadora.

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Referências:

  • Cardiomiopatia Hipertrófica, Atividade Física e Morte Súbita. Oliveira, Brazão – Rev. Bras. Med Exercício – vol 8 nº 1 – Jan/fev 2002.
  • Implantable CDI And Prevention of Sudden Cardiac Death in CH – Jama, July 25, 2007 – vol 298, Nº 4.
  • Miocardiopatias e Valvopatias – Editora Atheneu, 2011.
  • The Natural History of Nonobstrutive Hypertrophic Cardiomiopathy – Mayo Clin Proc. March 2016, 91 (3): 279 – 287.

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