Você sabe como funciona a cirurgia cerebral com o paciente acordado?

Estudos demonstraram que quanto mais extensa a ressecção, melhor a sobrevida livre de progressão, bem como sobrevida global.

A neurocirurgia moderna para o tratamento de lesões cerebrais malignas prevê uma ressecção máxima sem a agregação de sequelas neurológicas novas ou mínimas sequelas aceitáveis para o tratamento do caso. Estudos randomizados de classe I demonstraram que quanto mais extensa a ressecção, melhor a sobrevida livre de progressão, bem como sobrevida global para os astrocitomas de alto e baixo grau.

O grande desafio para os neurocirurgiões é conseguir uma significativa ressecção (superior 95%) em lesões que estão nas adjacências ou em áreas eloquentes do cérebro sem agregar sequelas neurológicas novas. Para esse sucesso, o fundamento principal para uma boa técnica cirúrgica é uma compreensão dos limites anatômicos e funcionais dos tecidos cerebrais. O avanço tecnológico à disposição da neurocirurgia permitiu um enorme auxilio às técnicas cirúrgicas.

A monitorização eletrofisiológica intraoperatória permite uma avaliação dos limites funcionais do cérebro, nos evidenciando em que região está a função motora do braço ou em qual giro cerebral está localizada a linguagem do paciente, por exemplo. A ultrassonografia intracerebral também auxilia na visualização das diferenças de densidade do tecido cerebral saudável do tecido tumoral, sendo uma ferramenta no auxílio cirúrgico.

O sistema de neuronavegação para a realização da craniotomia é uma tecnologia que funciona similarmente a um GPS do cérebro, pois esse equipamento faz a fusão da imagem da RNM pré-operatória com os pontos anatômicos com crânio do paciente. Essa tecnologia auxilia enormemente na realização da craniotomia, pois permite a fácil marcação da lesão, viabilizando ao cirurgião um corte menor na pele e uma abertura mais precisa do osso craniano.

Entretanto, como esse exame é pré-operatório, quando abrimos a duramater o tecido cerebral apresenta uma queda decorrente da gravidade e isso não pode ser visualizado por esse equipamento, levando a uma retirada de lesão de forma inequívoca ou incompleta.

As melhores condutas médica você encontra no Whitebook. Baixe o aplicativo #1 dos médicos brasileiros. Clique aqui!

A ressonância cerebral intraoperatória para a ressecção máxima segura de tumores cerebrais surge como uma nova ferramenta para a cirurgia das lesões cerebrais. Entretanto, essa tecnologia é cara e pouco acessível na maior parte dos hospitais da rede de saúde pública e privada brasileira.

Trabalhos publicados recentemente demonstram que em aproximadamente 40% dos pacientes que foram operados com essa técnica, o exame intraoperatório mudou a opinião do cirurgião, que retornou com o paciente para o centro cirúrgico para ampliar a ressecção cirúrgica em busca de um melhor prognostico para o tratamento oncológico. Nessa série de casos apenas 2,5% dos paciente tiveram déficits neurológicos novos após a cirurgia.

Essa técnica cirúrgica a qual o paciente permanece acordado durante o procedimento não é aplicada para todos os pacientes. Primeiramente, a lesão cerebral necessita estar próximo ou em áreas eloquentes (motoras, sensitivas, linguagem e áreas que estão envolvidas com a função cognitivas, cálculos e artísticas). A seleção dos pacientes ocorre em uma entrevista psicossocial, sendo excluído doentes com quadro de ansiedade geral ou alterações cognitivas pré-operatórias.

No ato cirúrgico é fundamental uma equipe de anestesia com experiência na técnica. A cirurgia inicia com o paciente dormindo, recebendo o suporte ventilatório através de uma máscara laríngea. Após a realização do acesso cirúrgico e a abertura duramater, o paciente é despertado e a máscara laríngea é retirada. Nesse momento, o paciente é avaliado pelo neuro-fisiologista e fonoaudióloga que realizam os testes motores e a avaliação da linguagem, priorizando as funções associadas à área abordada cirurgicamente.

Veja também: ‘Como é sua comunicação com a equipe durante uma cirurgia com o paciente acordado?’

Apos o cumprimento de todo esse protocolo o cirurgião inicia a sua cirurgia, tendo concomitantemente todas as avaliações intraoperatórias ocorrendo. Ao término desse procedimento, o paciente é encaminhado para o equipamento de ressonância, no qual será avaliado o volume da lesão residual e a necessidade de retornar ao centro cirúrgico para complementação cirúrgica. Caso essa necessidade se confirme, é gerado um novo protocolo para o equipamento de neuronavegação e seguimos com a cirurgia para a retirada do resíduo tumoral até o limite funcional da região.

Essa técnica cirúrgica também apresenta complicações como crise convulsiva intraoperatória, sangramentos, infecção e principalmente a fadiga física do paciente quando o ato cirúrgico começa a se estender por períodos superiores a 3 horas.

Mediante ao discutido, a cirurgia das lesões cerebrais com o paciente acordado é uma ferramenta muito importante para uma cirurgia cerebral oncológica segura, com intuito de poupar o paciente de novas sequelas neurológicas. A cirurgia, na maior parte das vezes, não gera a cura oncológica, mas quando bem realizada é fundamental para o tratamento oncológico (quimioterapia e radioterapia) gerar um melhor prognostico ao paciente acometido por essa terrível enfermidade.

Veja abaixo trechos de uma cirurgia cerebral com o paciente acordado:

Referências:

  • Journal of Neurosurgery. Oct 2014 / Vol. 121 / No. 4 / Pages 810-817. Awake craniotomy for gliomas in a high-field intraoperative magnetic resonance imaging suite: analysis of 42 cases (https://thejns.org/doi/10.3171/2014.6.JNS132285)

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades

Tags