Comprometimento cognitivo leve: uso de biomarcadores de Alzheimer no líquido cefalorraquidiano

Os marcos neuropatológicos da Doença de Alzheimer são a degeneração sináptica e neuronal e depósitos de placas de proteína no meio extracelular

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Os marcos neuropatológicos da Doença de Alzheimer (DA) são a degeneração sináptica e neuronal acompanhada por emaranhados neurofibrilares de proteína TAU hiperfosforilada no meio intracelular, e depósitos de placas de proteína beta amiloide (AB) no meio extracelular. Os sintomas da DA são insidiosos e a progressão da doença costuma ser lenta, geralmente com comprometimento inicial da memória seguido da deterioração de outras habilidades cognitivas, resultando em demência à medida que ocorre também perda gradativa da capacidade de desempenhar atividades básicas da vida diária.

O termo Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) é usado para pacientes com deficiência cognitiva constatada ainda sem comprometimento do aspecto funcional (independentes para a realização de atividades da vida diária) e desse modo, sem critérios para caracterizar demência. O CCL é um fator de risco importante para demência e em alguns casos pode representar uma fase prodrômica de DA ou outras doenças neurodegenerativas. A taxa anual de conversão de CCL para DA é de aproximadamente 10%. No entanto, nem todas as causas de CCL são ligadas a demência e a busca da etiologia pode ser desafiadora principalmente porque seria muito útil identificar os pacientes que tem DA inicial como causa dessa entidade.

No momento, os biomarcadores mais validados para detecção precoce de DA na prática clínica incluem atrofia do lobo temporo-medial através de ressonância magnética (RM), alterações no metabolismo da glicose cerebral através da tomografia com emissão de pósitrons e traçador de glicose (FDG-PET), depósito amiloide cerebral por PET com traçador específico e análise de líquido cefalorraquidiano com AB baixa e proteína TAU elevada.

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Os critérios diagnósticos para CCL desenvolvidos pelo National Institute on Aging e Alzheimer´s Association (NIA-AA), sugerem que um biomarcador positivo de AB (PET ou LCR) em conjunto com um biomarcador positivo para injúria neuronal (RM alterada ou aumento de TAU no LCR) indica CCL devido a DA. Por outro lado, biomarcadores negativos de AB sugerem que o CCL provavelmente não é secundário a DA. Já os critérios propostos para a fase prodrômica da DA são a positividade de biomarcadores associada a presença de declínio da memória episódica como principal sintoma.

Atualmente, não há protocolos para a utilização de biomarcadores do líquido cefalorraquidiano (LCRbio) em pacientes portadores de CCL. Exames de imagem como RM e PET exigem centros especializados nem sempre disponíveis, enquanto que a realização de punção lombar costuma ser mais acessível.  Inúmeros artigos, incluindo grandes revisões e meta-análises já confirmaram o valor preditivo de LCRbio em CCL, porém há carência de um consenso na prática clínica especialmente porque não há padronização do exame e porque o diagnóstico precoce de pré-demência envolve além do desafio clínico com relação a abordagem, preocupações do ponto de vista ético. Desse modo, grupos de trabalho internacionais têm desenvolvido critérios clínicos para o diagnóstico de CCL secundário a DA que incluem a opção do uso de LCRbio para melhorar a acurácia prognóstica.

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No início de 2017, foi publicado na renomada revista “Alzheimer´s & Dementia” um importante artigo no qual esse texto se baseia, visando prover um consenso de recomendações nesse cenário. Resumidamente, após a análise de vasto material científico já publicado e discussões entre os 28 especialistas de 19 países diferentes, concluiu-se que é recomendável adicionar o uso de LCRbio à avaliação clínica para prever o declínio cognitivo ou funcional ou conversão para DA em 3 anos. No entanto, devido a insuficiência de evidências o grupo de trabalho não pôde recomendar o uso de LCRbio como alternativa ao FDG-PET ou PET com traçador para amiloide no intuito de prever declínio cognitivo ou conversão para DA.

Além disso, antes e depois da avaliação com biomarcadores o grupo recomenda aconselhamento. Os riscos inerentes a punção lombar como dor local e cefaleia devem ser lembrados assim como a necessidade da suspensão prévia de anticoagulantes. Os pacientes devem ser avisados que a análise do LCR pode ajudar a identificar condições raras. No caso da relação entre a progressão de sintomas e DA, quando desconhecemos os biomarcadores a progressão para demência em três anos é de aproximadamente 35%. Com biomarcadores positivos a progressão é de 54% e negativos 14%. Logo, em caso de positividade, um plano de avaliação regular e suporte deve ser oferecido enquanto que em caso de negatividade um acompanhamento intensivo não será necessário.

Referência:

  • S.-K. Herukka et al. / Alzheimer´s & Dementia 13 (2017) 285-295

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