Delirium pode acelerar declínio cognitivo?

O delirium é uma síndrome de disfunção cerebral aguda. Estudos recentes sugerem que é um forte preditor de demência e aceleração do declínio cognitivo.

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O delirium é uma síndrome de disfunção cerebral aguda, caracterizada por desatenção e outras alterações mentais. Estudos recentes sugerem que o distúrbio é um forte preditor de demência e aceleração do declínio cognitivo. No entanto, os processos patológicos desta associação ainda não são conhecidos.

Para investigar se o declínio cognitivo acelerado observado após o delirium é independente dos processos patológicos da demência clássica, pesquisadores analisaram os dados de 987 doadores de cérebros de três estudos observacionais de coorte com idosos, realizados entre 1985 e 2011.

Foram analisados os dados da autópsia neuropatológica para a presença de emaranhados neurofibilares e quantidade de placas amiloides neocorticais, e amostras teciduais para a presença de infartos de grandes artérias, lacunas, hemorragia e corpos de Lewy. O desfecho primário foi alteração nos escores do Mini-Mental State Examination (MMSE) durante os seis anos anteriores à morte.

Veja também: ‘Como realizar o diagnóstico de delirium?’

A idade média no óbito dos participantes foi de 90 anos. A pontuação média no MMSE seis anos antes da morte foi de 24,7 pontos. Entre eles, 279 indivíduos que tiveram um episódio de delirium apresentaram escore inicial de -2,8 pontos (intervalo de confiança [IC] de 95%, -4,5 a -1,0; p < 0,001).  O declínio cognitivo atribuível ao delirium foi de -0,37 pontos no MMSE por ano ([IC] 95%, -0,60 a -0,13; p <0,001). Já o declínio atribuível aos processos patológicos de demência foi de -0,39 por ano ([IC] 95%, -0,57 a -0,22; p <0,001).

No entanto, a combinação de delirium e processos patológicos de demência resultou no maior declínio, no qual a interação contribuiu com mais -0,16 pontos no MMSE por ano ([IC] 95%, -0,29 a -0,03; p = 0,01). A natureza multiplicativa dessas variáveis ​​resultou em indivíduos com delirium e os processos patológicos de demência declinando 0,72 pontos por ano mais rápido do que seus controles de idade, sexo e escolaridade.

E mais: ‘Quais antibióticos causam delirium?’

Pelos resultados, os pesquisadores concluíram que delirium na presença dos processos patológicos da demência está associado com o declínio cognitivo acelerado além do esperado. Estes achados sugerem que outros processos patológicos não medidos se relacionam especificamente com a síndrome. O declínio cognitivo relacionado à idade tem muitos contribuintes, e as descobertas suportam um papel independente e multiplicativo do delirium aos processos patológicos da demência clássica.

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Dr. Henrique Cal, neurologista e membro da Academia Brasileira de Neurologia, destaca alguns pontos importantes:

“Como vemos neste artigo, a relevância do delirium mostra-se cada vez crescente. Por isso, vale a pena lembrar alguns detalhes práticos:

  • Nos pacientes internados, fazer sempre o CAM-ICU (escala de avaliação de delirium), relatando no prontuário.
  • Nos pacientes que já estão num quadro de delirium, fazer uma avaliação minuciosa a fim de descartar possíveis diagnósticos diferenciais (como AVC ou crise epiléptica não motora).
  • Investigar para a forma hipoativa do delirium hipoativo, muitas vezes subdiagnosticado.
  • Indicar acompanhamento com neurologista após a alta hospitalar.
  • Incentivar uma atuação multidisciplinar e medidas também não farmacológicas (comportamentais e ambientais) contra o delirium.
  • Nos pacientes que acompanhamos ambulatorialmente, atentar para o fato que episódios de descompensação da função cognitiva podem indicar alguma intercorrência clínica subjacente (infecção, desidratação, infarto, etc)”.

Referências:

  • Davis DHJ, Muniz-Terrera G, Keage HAD, Stephan BCM, Fleming J, Ince PG, Matthews FE, Cunningham C, Ely EW, MacLullich AMJ, Brayne C, for the Epidemiological Clinicopathological Studies in Europe (EClipSE) Collaborative Members. Association of Delirium With Cognitive Decline in Late LifeA Neuropathologic Study of 3 Population-Based Cohort Studies. JAMA Psychiatry. 2017;74(3):244-251. doi:10.1001/jamapsychiatry.2016.3423

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