Todos os anos, cerca de 20 mil médicos se formam no Brasil. Mais de 1800 novas vagas acabam de ser criadas nas faculdades de medicina. Junto a este grupo de recém formados, outros milhares de residentes terminam suas especialidades todos os anos. Então, vem a tão temida pergunta: E agora?
Esta dura reflexão não é exclusividade dos profissionais de medicina. Na verdade este é um debate muito mais comum em outras profissões do que no meio médico. O mais interessante é como esse desafio coloca-se na frente do médico.
Pense bem, o médico vem acompanhado de toda a segurança do que fazer ou não, em uma rotina guiada por staffs e professores, com carga horaria definida desde o período final de internato médico até o término da residência. Essa segurança um dia termina. E em seguida vem o inicio de uma rotina totalmente nova, de profissional liberal autônomo com o poder de decisão sobre o que irá fazer. Para muitos isso pode ser um desafio animador, para outros um desafio assustador.
Em Abril deste ano, o MedScape publicou os erros mais comuns que o jovem médico americano comete ao se lançar no mercado de trabalho. Separamos os que mais se enquadram a realidade do médico brasileiro. Eles são:
- Recusar-se a procurar uma maior rede de relacionamentos: Médicos jovens tendem a seguir a rede já conhecida de opções de trabalho. Isto muitas vezes gera uma escolha pouco sábia, e, principalmente, pelo o que é mais familiar, ou seguro. Geralmente isto conduz a um arrependimento pela insatisfação ou frustação de não estar fazendo algo que ele realmente se enquadra. O mais importante é saber que tipo de trabalho você quer fazer e com quem você quer trabalhar.
- Não iniciar a busca com tempo o suficiente: Isto é muito comum de ocorrer com os residentes. Começar a procurar o melhor local para trabalhar com 12 a 18 meses de antecedência do fim da especialização, aumenta as chance de conseguir encontrar a vaga ideal ao terminar residência. Assim, provavelmente você não ficará frustrado por não estar trabalhando com a sua nova especialidade.
- Não buscar oportunidades no interior: Colocar-se a disposição de uma vaga ou entrar como especialista no interior pode aumentar as chances de sucesso e satisfação pessoal. Grandes áreas metropolitanas tendem a acumular médicos que já dominam o cenário, sendo assim uma concorrência muito mais difícil se você já não está trabalhando com alguém mais experiente. No interior, muitas vezes não tão distante de um grande centro, pode-se encontrar um excelente oceano azul para iniciar a sua especialidade.
- Não compreender os prós e os contras de trabalhar em um hospital: A maior parte dos médicos jovens preferem iniciar suas carreiras trabalhando em grandes redes de hospitais. Essa preferência baseia-se não só no contexto de segurança para médico, mas também na possibilidade conhecer equipes de outros médicos com quem possa trabalhar. Porém, essa sensação de segurança muitas vezes vem a custa de altas cobranças, responsabilidades institucionais, competitividade entre funcionários e necessidade constante de provar-se como profissional, exatamente como em um ambiente executivo. Este ambiente muitas vezes não é familiar aos estudantes de medicina e residentes.
- Aceitar a primeira oferta que aparece: Essa é uma das principais causas de insatisfação do médico jovem com o seu primeiro emprego. Aceitar uma oferta de trabalho sem conhecer previamente os prós e contras do local pode desencadear decepção. O ideal é conversar com outras pessoas que já trabalham no local, buscar informações e recomendações.
- Falhar ao negociar os pontos chaves contrato: Médicos não costumam aprender sobre negociação de contratos na faculdade e na especialização. Além disso, a ansiedade por fechar uma proposta de emprego pode fazer com que o médico não busque os benefícios desejados e as melhores possibilidades de ascensão profissional no novo emprego. Reveja os principais pontos do contrato, direitos e deveres da área de atuação. Levar o documento a um advogado pode evitar dor de cabeça.
Os primeiros anos como médico ou especialista irão influenciar na carreira que será construída. Escolher um caminho para iniciar a jornada para o sucesso é cheio de riscos e falsas oportunidades. É preciso ter atenção ao que vai de encontro com seus interesses pessoais e profissionais. Muitas vezes uma oferta mais valiosa não significa ganhar mais dinheiro, mas sim ascensão profissional ou qualidade de vida. Insatisfação profissional é um dos grandes males do século XXI. Plantar as sementes dos frutos que você deseja colher é a melhor maneira para conseguir realizar-se profissionalmente.
Bruno Lagoeiro Médico, CEO e Co-Fundador da PEBmed
Referência Bibliográfica:
- Seven Job-Search Mistakes of New Physicians – Leigh Page – April 07, 2015