4 mitos sobre o antibiótico

Muito se sabe sobre os antibióticos, o problema é que boa parte dessas informações não se baseia em nenhuma evidência clínica.

O antibiótico foi inventado pelos seres humanos? Usar antibiótico por mais tempo é melhor para o paciente? Muito se sabe sobre esses medicamentos, o problema é que boa parte dessas informações não se baseia em nenhuma evidência clínica. Então, o que é realmente o certo? Veja quatro mitos:

500x120-rosa

Mito 1: humanos inventaram os antibióticos no século 20

O primeiro antibiótico clinicamente seguro e eficaz foi o Prontosil Rubrum, sulfonamina sintetizada em 1931. No entanto, este não foi o primeiro agente.

A análise genética indica que as bactérias inventaram os antibióticos e um mecanismo de resistência a eles há cerca de 2,5 bilhões de anos. As bactérias foram matando umas as outras com estas armas e usando mecanismos de resistência para se protegerem.

Para se ter uma ideia, em 2011 foi publicado um estudo em que pesquisadores exploraram uma caverna profunda no Novo México, nunca antes acessada por seres humanos. Eles cultivaram inúmeros tipos de bactérias nas paredes da caverna. Cada estirpe era resistente a, pelo menos, um antibiótico moderno; a maioria era multirresistente.

Mito 2: uso inapropriado de antibiótico desenvolve resistência

“Se pudéssemos eliminar o uso inapropriado de antibióticos, a resistência bacteriana não se desenvolveria”, esse mito é muitas vezes repetido, no entanto não é isso que mostram as evidências. Todo uso de antibióticos causa pressão seletiva na bactéria. O uso adequado aplica a mesma pressão seletiva do inadequado.

A verdadeira questão é que devemos sim parar o uso inadequado de antibióticos, mas porque este não oferece nenhum benefício. O uso apropriado é necessário para reduzir a mortalidade e morbilidade por infecções bacterianas.

250-BANNER2

Mais sobre antibióticos:

– Cientistas desenvolvem polímeros que podem matar superbactérias sem antibiótico
– Exposição precoce a antibióticos aumenta risco para rinite e eczema
– Usar antibiótico por menos tempo é melhor para as crianças
– O tempo para o início do antibiótico na sepse faz diferença?

Mito 3: para prevenir a resistência, os pacientes devem tomar todas as doses prescritas, mesmo depois de se sentirem melhor

Não há dados para apoiar a ideia de que continuar tomando antibióticos prescritos, mesmo após a melhora dos sintomas de infecção, reduz o aparecimento de resistência.

Na verdade, diversos estudos indicam que as terapias de curto período são menos propensas a criar resistência aos antibióticos. Cada ensaio clínico randomizado que já comparou terapias de curta duração com as de longo curso, em vários tipos de infecções agudas bacterianas (incluindo sinusite bacteriana aguda, pneumonia associada à ventilação mecânica, infecções do trato urinário, etc), descobriu que as de curto prazo são tão eficazes quanto.

Pacientes que se sentem melhor, sem mais nenhum dos sintomas de infecção, devem ser orientados a retornar ao médico para determinar se os antibióticos podem ser interrompidos mais cedo. Os profissionais de saúde devem estar receptivos a este conceito e não temer a personalização da duração do tratamento.

Mito 4: resistência é, geralmente, uma consequência de novas mutações no local da infecção

Este mito provavelmente deriva do conhecimento de que a resistência em tuberculose ocorre no local da infecção, devido à mutações espontâneas do tratamento. No entanto, a doença possui características distintas de outras infecções bacterianas.

No caso da tuberculose, a resistência só pode ocorrer no local de infecção porque não há reservatório ambiental e ela não faz parte da flora natural das pessoas. Suas cavidades também contêm densidades muito elevadas de bacilos (> 1012 por grama), que predispõem o surgimento de resistência em monoterapia.

Quando se utilizam antibióticos típicos (diferentes de isoniazida, que é específico para a tuberculose), eles  inevitavelmente causam uma pressão seletiva na flora bacteriana. Na maioria dos casos, a resistência não surge no local da infecção durante o tratamento, mas sim entre as bactérias no intestino ou na pele.

Orientações

A resistência aos antibióticos é inevitável e, por isso, é muito importante não desperdiçar seu uso. Eles não devem ser prescritos para pacientes sem infecções bacterianas. Além disso, não instrua os pacientes a tomar todas as doses prescritas, mesmo depois de melhora clínica. Explique que eles podem voltar para uma nova consulta e finalizar o tratamento mais cedo.

As melhores condutas médicas você encontra no Whitebook. Baixe o aplicativo #1 dos médicos brasileiros. Clique aqui!

Referências:

  • Northey EH. The Sulfonamides and Allied Compounds. New York: Reinhold Publishing, Inc.; 1948.
  • Hall BG, Salipante SJ, Barlow M. Independent origins of subgroup B1 + B2 and subgroup B3 metallo-beta-lactamases. J Mol Evol. 2004;59:133-141.
  • Hall BG, Barlow M. Evolution of the serine beta-lactamases: past, present and future. Drug Resist Updat. 2004;7:111-123.
  • Spellberg B, Bartlett JG, Gilbert DN. The future of antibiotics and resistance. N Engl J Med. 2013;368:299-302.
  • Bhullar K, Waglechner N, Pawlowski A, et al. Antibiotic resistance is prevalent in an isolated cave microbiome. PLoS One. 2012;7:e34953.
  • Rice LB. The Maxwell Finland Lecture: for the duration—rational antibiotic administration in an era of antimicrobial resistance and Clostridium difficile. Clin Infect Dis. 2008;46:491-496.
  • Spellberg B. The new antibiotic mantra—”shorter is better.” JAMA Intern Med. 2016;176:1254-1255.
  • Russo TA, Spellberg B, Johnson JR. Important complexities of the antivirulence target paradigm: a novel ostensibly resistance-avoiding approach for treating infections. J Infect Dis. 2016;213:901-903.
  • Pankey GA, Sabath LD. Clinical relevance of bacteriostatic versus bactericidal mechanisms of action in the treatment of Gram-positive bacterial infections. Clin Infect Dis. 2004;38:864-870.
  • Girgis NI, Butler T, Frenck RW, et al. Azithromycin versus ciprofloxacin for treatment of uncomplicated typhoid fever in a randomized trial in Egypt that included patients with multidrug resistance. Antimicrob Agents Chemother. 1999;43:1441-1444.
  • Gasem MH, Keuter M, Dolmans WM, Van Der Ven-Jongekrijg J, Djokomoeljanto R, Van Der Meer JW. Persistence of salmonellae in blood and bone marrow: randomized controlled trial comparing ciprofloxacin and chloramphenicol treatments against enteric fever. Antimicrob Agents Chemother. 2003;47:1727-1731.
  • Arjyal A, Basnyat B, Koirala S, et al. Gatifloxacin versus chloramphenicol for uncomplicated enteric fever: an open-label, randomised, controlled trial. Lancet Infect Dis. 2011;11:445-454.
  • Begum B, Haque MA, Ahmed MS, et al. Comparison between azithromycin and cefixime in the treatment of typhoid fever in children. Mymensingh Med J. 2014;23:441-448.
  • Cenizal MJ, Skiest D, Luber S, et al. Prospective randomized trial of empiric therapy with trimethoprim-sulfamethoxazole or doxycycline for outpatient skin and soft tissue infections in an area of high prevalence of methicillin-resistant Staphylococcus aureus. Antimicrob Agents Chemother. 2007;51:2628-2630.
  • Geisler WM, Pascual ML, Mathew J, et al. Randomized, double-blind, multicenter safety and efficacy study of rifalazil compared with azithromycin for treatment of uncomplicated genital Chlamydia trachomatis infection in women. Antimicrob Agents Chemother. 2014;58:4014-4019.
  • Nathan N, Borel T, Djibo A, et al. Ceftriaxone as effective as long-acting chloramphenicol in short-course treatment of meningococcal meningitis during epidemics: a randomised non-inferiority study. Lancet. 2005;366:308-313.
  • Jaksic B, Martinelli G, Perez-Oteyza J, Hartman CS, Leonard LB, Tack KJ. Efficacy and safety of linezolid compared with vancomycin in a randomized, double-blind study of febrile neutropenic patients with cancer. Clin Infect Dis. 2006;42:597-607.
  • Harbarth S, von Dach E, Pagani L, et al. Randomized non-inferiority trial to compare trimethoprim/sulfamethoxazole plus rifampicin versus linezolid for the treatment of MRSA infection. J Antimicrob Chemother. 2015;70:264-272.
  • Kaplan SL, Deville JG, Yogev R, et al; Linezolid Pediatric Study Group. Linezolid versus vancomycin for treatment of resistant Gram-positive infections in children. Pediatr Infect Dis J. 2003;22:677-686.
  • Weigelt J, Itani K, Stevens D, Lau W, Dryden M, Knirsch C; Linezolid CSSTI Study Group. Linezolid versus vancomycin in treatment of complicated skin and soft tissue infections. Antimicrob Agents Chemother. 2005;49:2260-2266.
  • Wilcox MH, Tack KJ, Bouza E, et al. Complicated skin and skin-structure infections and catheter-related bloodstream infections: noninferiority of linezolid in a phase 3 study. Clin Infect Dis. 2009;48:203-212.
  • Duke T, Poka H, Dale F, Michael A, Mgone J, Wal T. Chloramphenicol versus benzylpenicillin and gentamicin for the treatment of severe pneumonia in children in Papua New Guinea: a randomised trial. Lancet. 2002;359:474-480.
  • Asghar R, Banajeh S, Egas J, et al; Severe Pneumonia Evaluation Antimicrobial Research Study Group. Chloramphenicol versus ampicillin plus gentamicin for community acquired very severe pneumonia among children aged 2-59 months in low resource settings: multicentre randomised controlled trial (SPEAR study). BMJ. 2008;336:80-84.
  • Ragnar Norrby S. Atypical pneumonia in the Nordic countries: aetiology and clinical results of a trial comparing fleroxacin and doxycycline. Nordic Atypical Pneumonia Study Group. J Antimicrob Chemother. 1997;39:499-508.
  • Mokabberi R, Haftbaradaran A, Ravakhah K. Doxycycline vs. levofloxacin in the treatment of community-acquired pneumonia. J Clin Pharm Ther. 2010;35:195-200.
  • Ailani RK, Agastya G, Ailani RK, Mukunda BN, Shekar R. Doxycycline is a cost-effective therapy for hospitalized patients with community-acquired pneumonia. Arch Intern Med. 1999;159:266-270.
  • Jacobson SJ, Griffiths K, Diamond S, et al. A randomized controlled trial of penicillin vs clindamycin for the treatment of aspiration pneumonia in children. Arch Pediatr Adolesc Med. 1997;151:701-704.
  • Allewelt M, Schuler P, Bolcskei PL, Mauch H, Lode H; Study Group on Aspiration Pneumonia. Ampicillin + sulbactam vs clindamycin +/- cephalosporin for the treatment of aspiration pneumonia and primary lung abscess. Clin Microbiol Infect. 2004;10:163-170.
  • Kadowaki M, Demura Y, Mizuno S, et al. Reappraisal of clindamycin IV monotherapy for treatment of mild-to-moderate aspiration pneumonia in elderly patients. Chest. 2005;127:1276-1282.
  • Rubinstein E, Cammarata S, Oliphant T, Wunderink R; Linezolid Nosocomial Pneumonia Study Group. Linezolid (PNU-100766) versus vancomycin in the treatment of hospitalized patients with nosocomial pneumonia: a randomized, double-blind, multicenter study. Clin Infect Dis. 2001;32:402-412.
  • Ramirez J, Dartois N, Gandjini H, Yan JL, Korth-Bradley J, McGovern PC. Randomized phase 2 trial to evaluate the clinical efficacy of two high-dosage tigecycline regimens versus imipenem-cilastatin for treatment of hospital-acquired pneumonia. Antimicrob Agents Chemother. 2013;57:1756-1762.
  • Kohno S, Yamaguchi K, Aikawa N, et al. Linezolid versus vancomycin for the treatment of infections caused by methicillin-resistant Staphylococcus aureus in Japan. J Antimicrob Chemother. 2007;60:1361-1369.
  • Itani KM, Weigelt J, Li JZ, Duttagupta S. Linezolid reduces length of stay and duration of intravenous treatment compared with vancomycin for complicated skin and soft tissue infections due to suspected or proven methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA). Int J Antimicrob Agents. 2005;26:442-448.
  • Itani KM, Dryden MS, Bhattacharyya H, Kunkel MJ, Baruch AM, Weigelt JA. Efficacy and safety of linezolid versus vancomycin for the treatment of complicated skin and soft-tissue infections proven to be caused by methicillin-resistant Staphylococcus aureus. Am J Surg. 2010;199:804-816.
  • San Pedro GS, Cammarata SK, Oliphant TH, Todisco T; Linezolid Community-Acquired Pneumonia Study Group. Linezolid versus ceftriaxone/cefpodoxime in patients hospitalized for the treatment of Streptococcus pneumoniae pneumonia. Scand J Infect Dis. 2002;34:720-728.
  • Wunderink RG, Niederman MS, Kollef MH, et al. Linezolid in methicillin-resistant Staphylococcus aureus nosocomial pneumonia: a randomized, controlled study. Clin Infect Dis. 2012;54:621-629.
  • Freire AT, Melnyk V, Kim MJ, et al; 311 Study Group. Comparison of tigecycline with imipenem/cilastatin for the treatment of hospital-acquired pneumonia. Diagn Microbiol Infect Dis. 2010;68:140-151.
  • Bhavnani SM, Rubino CM, Hammel JP, et al. Pharmacological and patient-specific response determinants in patients with hospital-acquired pneumonia treated with tigecycline. Antimicrob Agents Chemother. 2012;56:1065-1072.
  • Antibiotics: 5 Myths Debunked. Medscape. Oct 20, 2016.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.