A importância da espiritualidade na prática médica

Há evidências empíricas já publicadas que sugerem que a espiritualidade apresenta uma influência benéfica direta no bem-estar do indivíduo.

As infecções pelo coronavírus SARS-CoV-2, associado à pandêmica síndrome de Covid-19, alteraram diversos conceitos organizacionais e estruturas tradicionais em diversos setores da medicina em diferentes países. Uma nova estruturação, talvez uma nova fase, da medicina têm sido necessária para que a qualidade dos cuidados ao doente seja mantida, em diversas vertentes, mesmo diante dos cenários desafiadores impostos pelas epidemias. 

Leia também: A espiritualidade e o suicídio: reflexões sobre o cuidado

A importância da espiritualidade na Prática Médica

Medicina e espiritualidade

Apesar de controverso, recentemente, e especialmente frente às particularidades da Covid-19 moderada a grave, isolamentos respiratórios e de contato, e as inúmeras perdas abruptas de familiares e amigos, têm-se observado uma gradual tendência na incorporação dos conceitos e práticas da espiritualidade como incremento à saúde humana mesmo no ambiente hospitalar. A espiritualidade pode ser definida como: “Práticas ou experiências humanas que buscam dar significado ou propósito à vida através da conexão com outros, com a natureza e/ou com alguma representação não física”. E há evidências empíricas já publicadas que sugerem que a espiritualidade apresenta uma influência benéfica direta no bem-estar do indivíduo, especialmente no doente vulnerável, com consequências fisiológicas que impactam a saúde física e a resposta aos tratamentos. Adicionalmente, o cuidado espiritual compõe a psique humana e consiste em um componente crítico para a integralidade da saúde do indivíduo, com alcance para familiares, outros doentes e os profissionais atuantes. 

E de forma a incorporar ou ampliar as publicações científicas no campo da espiritualidade, diversas instituições têm incluído aulas ou disciplinas sobre espiritualidade na grade curricular. Uma das tendências consiste na educação médica holística. Tais medidas, independente das crenças particulares dos profissionais, visam estreitar a relação médico-paciente, minimizar os sofrimentos dos pacientes e dos profissionais, reduzir as cargas de estresse geradas no ambiente hospitalar para ambas as partes, aplicar métodos de humanização das relações e incrementar a qualidade do acolhimento e atenção ao doente.   

Saiba mais: O coping religioso/espiritual como dimensão do cuidar

Um exemplo de implementação da religiosidade na formação do estudante de medicina, ocorreu na universidade de Ciências Médicas de Qom (Qom University of Medical Sciences), no Irã. Tal instituição desenvolveu um centro de pesquisa para a saúde espiritual (Spiritual Health Research Centre) e uma escola de saúde e religião (School of Health and Religion) nos quais os educadores e pesquisadores tentam incorporar os conceitos da espiritualidade na educação médica, em disciplinas, workshops e congressos para os cursos de graduação e de pós-graduação. Dentre os conceitos ou competências abordados nessa nova tendência, são incluídos: 

  • O respeito às crenças do paciente;
  • A capacidade de manter um diálogo com o paciente em seus conceitos e práticas espirituais;
  • O reconhecimento dos efeitos benéficos de soluções ou práticas espiritualizadas (ex. orações, meditações e outros) como forma de tranquilizar o doente e auxiliar na adesão ao tratamento;
  • O uso da religiosidade do paciente para facilitar o processo de cura ou aceitação da doença;
  • Suporte ou possibilidade de satisfazer as necessidades espirituais/religiosas do paciente; 
  • Demonstração de atributos solidários profissionais ao doente (empatia, honestidade, piedade, compaixão e altruísmo);
  • Alinhamento das tarefas e intervenções médicas com as práticas religiosas do doente.

Alguns autores sugerem que essa abordagem possa ser inserida na disciplina de Ética Médica e de forma consolidada, com estudos de caso, publicações, discussões em grupo, e simulações. 

Mensagem final

Observa-se claramente que com a pandemia da Covid-19, as iniciativas se multiplicaram em diferentes unidades de saúde, seja por altruísmo ou compreensão das necessidades humanas, e permitiu a aplicação ou treinamento prático, em contextos reais, das medidas de conforto com foco em espiritualidade. A atual pandemia de infecções por SARS-CoV-2 ressalta diariamente as necessidades de implementação de respeito às medidas holísticas tanto para os vulneráveis quanto para os profissionais, com alcance aos cuidados à Saúde Mental quanto para a os Cuidados Paliativos, de forma a minimizar o sofrimento individual e do próximo, em seu curso nessa vida real. 

Maiores detalhes sobre essa discussão podem ser vistos nas referências citadas abaixo.   

Referências bibliográficas:

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