A origem de metástases em pacientes com câncer pode ser genética?

Finalmente pesquisadores descobriram evidências consistentes de que a genética interfere na formação de metástases em pacientes com câncer.

Finalmente pesquisadores descobriram evidências consistentes de que a genética interfere na formação de metástases em pacientes com câncer. A descoberta pode levar ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas personalizadas baseadas na variante genética herdada na luta contra o câncer.

Segundo as análises, realizadas por um grupo da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, e publicada recentemente na revista Nature Medicine, alterações no gene ApoE, presente no DNA de um indivíduo desde o seu nascimento, podem afetar a progressão do melanoma.

Supostas variações podem ter o efeito em outros tipos da enfermidade. Até agora, este gene era estudado principalmente por sua ligação com a doença de Alzheimer.

Gene APOE e metástase

As pesquisas identificaram o gene APOE, que está presente no DNA de todas as células do organismo antes de surgir qualquer câncer e pode afetar a propagação do melanoma.

O gene produz uma proteína que parece interferir em diversos processos utilizados ​​pelas células cancerígenas para metastizar ​​e resistir a ataques de células imunes que combatem os tumores.

Cada pessoa carrega uma das três versões diferentes de ApoE no organismo: ApoE2, ApoE3 ou ApoE4. Os cientistas acreditam na hipótese que essas variantes poderiam explicar a causa pela qual o melanoma progride de maneira diferente em pessoas diferentes.

Em experimentos com ratos que possuem uma de cada uma das versões do gene, o grupo descobriu que os tumores naqueles que continham o ApoE4 eram menores e se espalhavam menos.

Uma análise mais detalhada revelou que ApoE4 é a versão mais eficaz em relação ao aumento da resposta imune às células tumorais.

Comparados aos animais com outras variantes, os camundongos portadores de ApoE4 apresentaram uma maior quantidade de células T, importantes no combate a tumores cancerígenos.

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Os pesquisadores envolvidos no estudo acreditam que um grande impacto das variações na ApoE vem de diferenças na forma como elas atacam o sistema imunológico.

Experimentos com pacientes

Dados genéticos de mais de 300 pacientes com melanoma humano ajudaram os cientistas a descobrir que os indivíduos com ApoE4 sobreviveram por mais tempo, enquanto as com ApoE2 viveram menos.

Essa descoberta também pode influenciar o tratamento indicado para pacientes oncológicos, como a imunoterapia. A análise da equipe às informações desses pacientes mostraram que aqueles com ApoE4 respondem melhor às terapias que estimulam o sistema imunológico.

“Precisamos encontrar os pacientes cuja genética os colocam em risco de baixa sobrevivência e determinar quais terapias funcionam melhor para eles”, diz o principal autor do estudo, Sohail Tavazoie.

Tratamento de outras doenças

É importante citar que outros estudos mostraram que a ApoE4 contribui para a doença de Alzheimer, agravando o risco desse distúrbio neurodegenerativo.

“Não está muito claro ainda como a ApoE atua na doença de Alzheimer, mas acreditamos que o nosso trabalho no câncer também pode informar a nossa compreensão dessa doença”, conclui o pesquisador.

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Importância do estudo

“De fato, os resultados desse estudo são importantes, uma vez que sabemos que a cura do câncer está cada vez mais caminhando para ser individual. Justamente por causa dessas alterações genéticas. Então, temos aprendido a codificar e individualizar o tratamento. Quanto mais individualizamos o tratamento, mais resultados positivos teremos. O código genético de cada paciente vai mostrar qual o melhor tratamento que deve ser realizado”, acredita o médico Marcos Belotto, cirurgião do aparelho digestivo, oncológico do aparelho digestivo e robótico, chefe de equipe da retaguarda de cirurgia do Hospital Sírio-Libanês e professor de cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, em entrevista ao Portal PEBMED.

O especialista também destaca que a partir do momento que os médicos conseguirem ver e decifrar alterações genéticas de cada paciente e descobrir qual a quimioterapia mais indicada para o caso específico, conseguirão taxas de sobrevida melhores para os pacientes.

“Futuramente, vamos conseguir fazer a análise de cada tipo de tumor e saber se aquele paciente é candidato para cirurgia, a quimioterapia X ou Y. E saberemos qual o melhor caminho para a cura daquele tumor”, aposta o cirurgião oncológico Marcos Belotto.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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