A presença de fatores de risco na infância aumenta a ocorrência de eventos cardiovasculares?

Estudo testou a hipótese de que o risco cardiovascular ainda na infância também está associado a eventos cardiovasculares na idade adulta.

A prevenção de doenças cardiovasculares é um tema de grande importância em saúde pública, com evidências fortes e bem documentadas da associação entre fatores de risco cardiovascular na idade adulta e a ocorrência de eventos cardiovasculares. Tabagismo, dislipidemia, obesidade e pressão arterial elevada são fatores de risco conhecidos nesse sentido; mas será que a presença deles, ainda durante a infância, também aumentam as chances de doença cardiovascular na vida adulta?

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A presença de fatores de risco na infância aumenta a ocorrência de eventos cardiovasculares

Estudo recente

Há poucas coortes populacionais com informações abrangentes a esse respeito, com acompanhamento desde a infância até a idade em que os eventos cardiovasculares se tornam mais comuns. Um deles é o International Childhood Cardiovascular Cohort (i3C), que possui informações de 7 estudos realizados na Austrália, Finlândia, e Estados Unidos, com coleta de dados sobre fatores de risco cardiovascular na infância e avaliação de ocorrência de eventos cardiovasculares. Utilizando dados do i3C, um estudo de coorte prospectivo publicado no New England Journal of Medicine, testou a hipótese de que o risco cardiovascular ainda na infância também está associado a doenças cardiovasculares na idade adulta.

Foi avaliado um total de 40.648 participantes, entre 3 e 19 anos, cujos dados foram colhidos a partir das décadas de 1970 e 1990, com foco em 5 fatores de risco: índice de massa corporal (IMC), pressão arterial sistólica, tabagismo, nível sérico de colesterol total e de triglicerídeos. Com uma média de acompanhamento de 35 anos, foi avaliada a ocorrência de eventos cardiovasculares fatais entre os participantes, documentada pelo próprio i3C após buscas entre os anos de 2015 e 2019. Para lidar com as variações relacionadas às idades, os fatores de risco foram “transformados” em escores z, através do cálculo dos valores médios das variáveis do próprio estudo i3C, estratificados por idade e sexo (sendo tabagismo considerado uma variável dicotômica — sim ou não). Além dos valores de escore z para cada fator de risco, também foi calculado um escore z “combinado”, de todos os 5.

Como resultados, o estudo demonstrou aumentos de risco de ocorrência de eventos cardiovasculares fatais para todos os fatores de risco analisados, com as razões de risco variando de 1,3 (para uma unidade de aumento no escore z do nível de colesterol total; IC 95%: 1,14 – 1,47) a 1,61 (para tabagismo; IC 95%: 1,21 – 2,13). Com relação ao escore z de risco “combinado” (avaliando os 5 fatores de risco juntos), as chances de apresentar doença cardiovascular fatal aumentam em 2,71 para cada unidade de aumento no escore (IC 95%: 2,23 – 3,29). Os escores de risco cardiovascular na infância também se mostraram positivamente associados à mortalidade total. As associações foram similares quando comparados grupos por sexo, raça e idade — infância (3 a 11 anos) e adolescência (12 a 19 anos)

Pôde-se perceber aumentos de risco cardiovascular em aumentos no escore z até dentro das faixas “normais”. Todos os 5 fatores de risco cardiovascular na infância foram associados à ocorrência de eventos cardiovasculares em idades já a partir dos 40 anos, tanto quando avaliados individualmente, quanto globalmente. Quando avaliados em conjunto, inclusive, — com uma pontuação de risco “média”, similar à utilizada no escore de Framingham — a associação se mostrou ainda mais forte.

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Conclusão

Assim, o estudo demonstra a importância de se abordar fatores de risco cardiovascular já na infância, tanto através de abordagens individuais em consultório — com promoção de estilo de vida saudável, identificação de crianças de alto risco e orientações preventivas — quanto por estratégias de saúde pública, visando manter a saúde cardiovascular em todas crianças e adolescentes, em nível populacional. Os resultados apresentados sugerem que a relevância da abordagem dos hábitos de vida durante a infância vão além das necessidades de ajustes comportamentais na vida adulta, mas envolvem também fatores que podem repercutir diretamente no risco de desenvolver doenças fatais antes mesmo dos 60 anos de idade.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Chen T, Shao F, et al. Childhood Cardiovascular Risk Factors and Adult Cardiovascular Events. The New England Journal of Medicine 2022, 386:1877-1888; Maio, 2022. DOI: 10.1056/NEJMoa2109191

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