A proteína de Bence Jones na urina possui valor no diagnóstico do mieloma múltiplo?

Pesquisa urinária da proteína de Bence Jones para detecção de mieloma múltiplo (MM), uma neoplasia maligna da medula óssea.

O mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia maligna da medula óssea, correspondendo a aproximadamente 1% de todas as malignidades, e de 10% dos cânceres hematológicos. É causado por uma proliferação anormal e indiscriminada de um clone plasmocitário medular, levando a um aumento de imunoglobulinas e de seus fragmentos na circulação periférica.

Seu curso clínico é insidioso, podendo permanecer com quadros oligo/assintomáticos por muitos anos, o que rotineiramente atrasa o diagnóstico e o seu devido tratamento, impactando assim diretamente na morbimortalidade. Dessa forma, o Laboratório Clínico pode contribuir, de maneira decisiva, com alguns exames que são utilizados tanto para o diagnóstico, quanto para o seguimento dos doentes.

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Nesse contexto, alguns exames complementares mais específicos são vastamente utilizados em todo o curso da doença, dentre os quais podemos citar: aspirado/biópsia de medula óssea, eletroforese e imunofixação de proteínas séricas e urinárias, dosagem de cadeias leves livres no soro e na urina, e a clássica pesquisa urinária da proteína de Bence Jones.

A pesquisa da proteína de Bence Jones na urina possui valor no diagnóstico do MM?

O que é a proteína de Bence Jones (BJ)?

Descrita pela primeira vez em 1847, pelo Dr. Henry Bence Jones, essa proteína é constituída por imunoglobulinas de cadeias leves que, quando detectadas na urina, recebem essa denominação.

O princípio metodológico (com poucas variações entre os laboratórios) para a sua determinação é relativamente simples: cerca de 10 mL de urina são colocadas em um tubo de ensaio, no qual é adicionado ácido sulfossalicílico a 3%, a fim de acidificar a amostra até chegar a um pH 5,0. Após o aquecimento do tubo em banho maria por 5 minutos, o material é submetido a uma filtragem ainda quente. Caso seja observada alguma turbidez e/ou precipitado durante o resfriamento, a amostra é novamente reaquecida em banho maria. A pesquisa da proteína de BJ é considerada positiva se o precipitado desaparecer a 100 °C e, durante a segunda etapa de resfriamento, for novamente observado.

Desenho e resultados do estudo para a avaliação da proteína de BJ

Foi realizado um estudo retrospectivo, de janeiro/10 a julho/15, em um total de 122 pacientes atendidos no laboratório de microbiologia e urinálise, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Esses pacientes tiveram a solicitação, por variados motivos, da pesquisa da proteína de BJ na urina pelo médico assistente.

O diagnóstico de MM foi feito com base no resultado do aspirado/biópsia de medula óssea, sendo considerado positivo (>10% de plasmócitos) em 19 pacientes. Desses, 52,6% (n=10) eram do sexo masculino e 47,4% (n=9) do feminino, com amplo predomínio de indivíduos da raça branca [84,2% (n=16)].

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No total de 122 pacientes incluídos no estudo, em 104 (82,2%) indivíduos apresentaram uma pesquisa de proteína de BJ negativa, enquanto que esse mesmo teste foi considerado positivo em 18 participantes (14,8%). A análise estatística desses dados pôde demonstrar uma sensibilidade de 47,4%, especificidade de 91,3%, com um valor preditivo negativo (VPN) de 90,4% e valor preditivo positivo (VPP) de 50%.

Considerações finais

Infelizmente, grande parte dos pacientes com MM são diagnosticados já em uma fase avançada da doença, quando alterações ósseas e renais já estão instaladas. Sendo assim, o diagnóstico precoce do MM é imprescindível para o seu adequado tratamento e manejo.

Apesar de ser um método simples e barato, a pesquisa da proteína de BJ na urina pelo método de calor apresenta um desempenho analítico insatisfatório como ferramenta auxiliar ao diagnóstico do MM. Devido ao advento e maior disponibilidade de exames mais sensíveis e específicos, a pesquisa da proteína de BJ deve ser substituída por outros exames, como no caso da eletroforese de proteínas séricas e urinárias.

Referências bibliográficas:

  • Rajkumar SV. Multiple myeloma: 2020 update on diagnosis, risk‐stratification and management. American journal of hematology 95.5 (2020): 548-567. doi: 10.1002/ajh.25791
  • Tomaz APO, et al. A detecção de proteína Bence Jones na urina pelo teste de calor auxilia no diagnóstico de mieloma múltiplo? J Bras Patol Med Lab. 2017;53(1):20-23. doi: 10.5935/1676-2444.20170006

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