A sarcopenia é considerada uma doença e possui o CID-10 de insuficiência muscular. Todavia, ainda é negligenciada e subtratada. É um distúrbio do sistema muscular, caracterizada por alterações da arquitetura micro e macroscópica, progressivo (se não tratado) e generalizado.
Leva a distúrbios da mobilidade; aumenta o risco de quedas e fraturas; prejudica a capacidade de realizar atividades da vida diária; reduz qualidade de vida e independência pessoal.
A prevalência em pessoas com 60 a 70 anos é relatada em 5 a 13%, enquanto aumenta para 11 a 50% em pessoas maiores de 80 anos, a depender dos critérios utilizados para o diagnóstico. Em São Paulo, Brasil, a prevalência na população geral é de cerca de 15%.
Com o envelhecimento, basicamente, ocorre um desbalanço entre catabolismo e anabolismo muscular, resultando em perda de massa muscular em quantidade e qualidade. Esses fatores também contribuem para o aumento da gordura visceral e diminuição da densidade mineral óssea. São eles:
As principais condições que podem estar associadas a sarcopenia são: desnutrição, caquexia (câncer, cardiomiopatia congestiva e doença renal em estágio terminal), síndrome de fragilidade e obesidade sarcopênica.
O consenso europeu da European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) desenvolveu três critérios para o diagnóstico:
A provável sarcopenia é identificada pelo critério 1. O diagnóstico é confirmado pela documentação adicional do critério 2. E se todos os critérios 1, 2 e 3 forem cumpridos, a sarcopenia é considerada grave.
Sarcopenia ou Dinapenia? Por que os idosos perdem força?
O paciente ou a família relata sinais ou sintomas como quedas, caminhada lenta, dificuldade em subir escadas ou perda de peso. Nesses casos, é recomendado, pela EWGSOP, a realização de testes adicionais. Alguns podem ser feitos na própria consulta médica (os links que demonstram os testes estão disponibilizados no fim do texto).
1. Aplicação do questionário SARC-F (Sarcopenia Risk Screening)
É um questionário da percepção do paciente sobre suas limitações de força, capacidade de caminhar, levantar de uma cadeira, subir escadas ou quedas. Este questionário possui sensibilidade moderada e alta especificidade para prever baixa força muscular.
2. Testes clínicos de medição da sarcopenia
a. Força de preensão palmar com dinamometro de mão (Jamar dynamometer)
b. Força de preensão correlaciona-se moderadamente com a força global
c. Teste de elevação da cadeira
Avalia-se a força principalmente do quadríceps. Pede-se para o paciente se levantar e sentar de uma cadeira por cinco vezes sem usar apoio de mãos ou contar quantas vezes o paciente consegue realizar esse movimento em 30 segundos.
3. Exames subsidiários para medição da quantidade muscular
a. Ressonância Magnética (RM) ou Tomografia Computadorizada (TC) – consideradas padrões-ouro para avaliação não invasiva da quantidade de massa muscular. Tem altos custos e são utilizadas para pesquisa cientifica.
b. DXA (Absorciometria de raios X de dupla energia)
c. BIA (análise de impedância bioelétrica)
A vantagem é de ser acessível e portátil.
4. Avaliação de performance física
O desempenho físico é definido como uma função do corpo inteiro, sendo medido objetivamente através da locomoção. Este é um conceito multidimensional que não envolve apenas músculos, mas também a função nervosa central, periférica e equilíbrio. Existem muitos testes para avaliação, os mais comuns são:
A manutenção de um estilo de vida saudável durante toda a vida é o melhor caminho para a prevenção da sarcopenia. Quando instalada, devem ser orientados correções nutricionais juntamente com programa de exercícios físicos. O manejo deve ser preferencialmente multidisciplinar.
Atualmente, nenhuma medicação está aprovada para o tratamento.
A ingestão diária recomendada de proteínas em idosos sarcopênicos é de 1,2 a 1,6 grama por quilo de peso corporal, com exceção de pessoas com disfunção renal significativa. Alguns suplementos mostram melhorias da massa e função muscular, como leucina, β-hidroxi β-metilbutirato (HMB) e creatina, mas devem ser prescritos por um Nutrólogo ou Nutricionista.
Também é recomendada a correção da deficiência de vitamina D – necessária para a função muscular adequada.
A literatura científica de qualidade tem feito estudos com esteroides androgênios e hormônio do crescimento, contudo ainda são necessários mais estudos de segurança a longo prazo e avaliação de outros desfechos (redução do risco de quedas e de fraturas, diminuição da institucionalização e independência funcional). Na prática clínica eles são utilizados com ressalvas.
A prática de exercícios de resistência física ainda é a intervenção mais efetiva. O treinamento físico resistido e aeróbio aumenta a força e a massa muscular e melhora o acúmulo de proteínas nos músculos esqueléticos. Também ocorrem mudanças na inervação e padrão de ativação muscular com o treinamento, melhorando o desempenho motor.
Take-home message
A sarcopenia deve ser lembrada e tratada na prática clínica, pois é fator de piora da funcionalidade nos pacientes. As intervenções focam basicamente em melhorar o estilo de vida, também usadas para tratar várias outras doenças crônicas. Os benefícios a longo prazo são o menor número de quedas e fraturas, aumento da mobilidade e independência funcional.
Testes e parâmetros de normalidade:
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Referências:
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