A saúde mental dos médicos Residentes e suas consequências no dia a dia

Ao ingressar no programa de residência médica, o jovem médico se depara com um cenário desconhecido. É como se ele dormisse interno e acordasse médico.

Ao ingressar no programa de residência médica, o jovem médico se depara com um cenário totalmente desconhecido. É como se ele dormisse interno e acordasse médico – ou melhor, Médico Residente!

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A responsabilidade profissional associada às relações interpessoais (demais residentes, preceptores, pacientes, equipe de saúde), isolamento social, fadiga, privação do sono e inúmeros outros fatores criam um ambiente propício para alterações psicopatológicas e comportamentais, que variam desde um humor deprimido até a ideação suicida.

A Residência é o padrão ouro da formação médica. No entanto, ao analisar sua estruturação, diversos trabalhos na área demonstraram que algumas práticas podem ser contrárias a um “aprendizado sadio“.

A excessiva jornada de trabalho leva o médico jovem a criar uma espécie de “mundo paralelo”. Como se, por algum momento, ele abrisse mão de sua vida social, dedicando-se quase que exclusivamente a sua formação. Relações conjugais, familiares, amigos e atividade física, por vezes, são deixados de lado.

incidência de burnout está relacionada diretamente a carga de trabalho. Um estudo publicado no BMJ em 2008 concluiu que residentes deprimidos cometem seis vezes mais erros do que os não deprimidos.

Como consequências diretas, já foi demonstrado que a privação do sono e fadiga estão intimamente relacionadas a inúmeros comprometimentos médicos:

Veja também: Tudo que você precisa saber sobre Residência Médica

Em um estudo publicado no JAMA em 2002, que relaciona desempenho clínico com tempo de sono, afirma que, após 24 horas de plantão sem dormir, a performance psicomotora de um profissional de saúde é semelhante a de um indivíduo legalmente bêbado.

Embora aluno, o residente já é um médico formado. Essa dualidade propicia um cenário de extrema cobrança. Como aluno, ele está ali para aprender e deveria ter “o direito de errar”. No entanto, como médico, essa possibilidade não é cogitada. Essa situação vivida diariamente pelo residente faz com que seu nível de cobrança (tanto pessoal quanto por terceiros) seja invariavelmente patológico.

Tal situação expõe os residentes a um prejuízo de suas funções psíquicas e, consequentemente, a sua saúde. Essa situação pode ser melhor visualizada analisando um trabalho que comparou três aspectos no inicio e o final do R1, período no qual o médico tem sua saúde mental notoriamente mais depreciada. Veja esses dados:

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E como os residentes se autoavaliam?

Um estudo americano acompanhou duas turmas de médicos residentes durante seus três anos de formação, e através de perguntas diretas, construiu esses gráficos:

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E como os médicos residentes devem se preparar para lidar com todos esses problemas?

Em seu livro “Residencia Médica: Estresse e crescimento”, o professor Luiz Antônio Nogueira Martins descreve 10 mandamentos, que podem servir como guia para os jovens médicos:

I. Aproveite esse período da sua vida para aprender (a RM é a melhor forma de capacitação profissional em medicina);
II. Exija supervisão diuturna (a supervisão de profissionais experientes é a chave do sucesso da RM);
III. Faça uma lista diária das prioridades no trabalho (suprima tarefas importantes mas não essenciais);
IV. Não sobrecarregue sua agenda (adie alguns projetos e planos);
V. Lembre-se que o R1 é o período mais difícil e estressante (não assuma plantões fora durante o R1);
VI. Lembre-se que folga pós -plantão é para descansar e espairecer;
VII. Participe das atividades da COREME e das associações de residentes diretamente ou por meio de representantes eleitos;
VIII. Converse com os preceptores sobre as dificuldades que você está tendo e sobre o planejamento da carreira profissional;
IX. Procure se alimentar de forma saudável e faça atividades físicas;
X. Peça ajuda profissional se estiver se sentindo estressado, deprimido ou angustiado.

Por fim, há de se destacar que embora com todos os problemas citadas, a residência médica continua sendo a melhor maneira de se formar médicos especialistas. Embora estressante, é uma experiência enriquecedora, que propicia o desenvolvimento profissional e pessoal dos jovens médicos.

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Referencias bibliográficas:

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  • Nogueira-Martins LA. Residência médica: estresse e crescimento. [citado 2009 out ]. Psychiatr On-line Braz. 1998;(3):10. Disponível em: https://priory.com/psych/resid2.htm.

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