As fraturas ósseas são um problema importante de saúde pública cuja tendência é aumentar com o envelhecimento da população. Apesar de algumas referências recomendarem a suplementação de vitamina D para ajudar a manter a saúde dos ossos, os estudos que avaliam se essa conduta possui efeito na prevenção de fraturas demonstram resultados inconsistentes. Ensaios clínicos randomizados já apontaram benefício, dano e ausência de efeito da suplementação de vitamina D e a United States Preventive Services Task Force (USPSTF) avalia que há insuficiência de evidências para recomendar contra ou a favor à mesma.
O estudo
Para contribuir nesse sentido, um ensaio clínico randomizado, publicado na revista científica The New England Journal of Medicine, testou se a suplementação de vitamina D resultaria em uma diminuição do risco de ocorrência de fraturas, quando comparada ao placebo. O estudo avaliou, durante cinco anos, 25.871 indivíduos – homens com 50 anos ou mais e mulheres com 55 anos ou mais -, nos Estados Unidos, não tendo sido eles selecionados por já possuírem deficiência de vitamina D, osteopenia ou osteoporose. Para o grupo que recebeu a suplementação, foi utilizada uma dose diária de 2000 UI. Os desfechos analisados foram fraturas em geral, fraturas não-vertebrais e fraturas de quadril.
Após o período de acompanhamento, os pesquisadores identificaram 1991 fraturas no total, em 1551 participantes. O estudo não identificou efeito significativo da suplementação de vitamina D na redução de fraturas, quando comparada ao placebo, para nenhum dos desfechos selecionados. O resultado manteve-se mesmo após ajustes para variáveis (idade, sexo, etnia, IMC e nível sérico de 25-hidroxi vitamina D). De mesmo modo, não houve diferença significativa entre os grupos para a incidência de efeitos adversos, como hipercalemia ou cálculos renais.
No grupo que utilizou a vitamina D, foram identificadas 769 fraturas em um total de 12.927 participantes; enquanto que no grupo que utilizou placebo, ocorreram 782 fraturas em um total de 12.944 participantes (IC 95%, 0,89–1,08) e a ausência de diferença significativa manteve-se nas fraturas não-vertebrais (IC 95%, 0,87–1,07) e nas fraturas de quadril (IC 95%, 0,70–1,47).
Entre as limitações do estudo, encontra-se uma dificuldade de generalização dos resultados para pacientes internados, em asilos e para aqueles com osteoporose ou deficiência de vitamina D, já que a população selecionada não precisava atender a esses critérios. Além disso, apenas uma dose de suplementação foi avaliada nesse estudo (2000 UI por dia).
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Conclusão
Ainda assim, com uma amostra populacional grande, o estudo demonstrou resultados consistentes. A suplementação de vitamina D não reduziu o risco de ocorrência de fraturas em adultos a partir da meia-idade geralmente saudáveis (não selecionados especificamente por já possuírem deficiência de vitamina D ou osteoporose). Novos estudos ainda são necessários para a definição de recomendações mais sólidas; no entanto, destaca-se mais uma vez a importância da diferenciação de populações assintomáticas e daquelas com fatores de risco no momento de tomada de decisão por intervenções médicas.