A ultrassonografia é útil no acompanhamento de pacientes com arterite de células gigantes?

Foi publicado um estudo que avaliou a utilidade da US o acompanhamento de pacientes com arterite de células gigantes. Saiba mais.

Já discuti previamente a importância da ultrassonografia das artérias temporais superficiais e axilares (US) no diagnóstico da arterite de células gigantes (ACG). No entanto, ainda não temos dados definitivos que comprovem o papel da ultrassonografia seriada dessas artérias no acompanhamento dos pacientes com ACG.

Ponte et al. publicaram recentemente na Annals of the Rheumatic Disease (fator de impacto: 19.103) um estudo que avaliou a sensibilidade da US para detectar mudanças no sinal do halo após início do tratamento em pacientes recentemente diagnosticados com arterite de células gigantes, com intuito de avaliar a importância dessa ferramenta no acompanhamento desses pacientes.

A ultrassonografia é útil no acompanhamento de pacientes com arterite de células gigantes?

Métodos

Trata-se de um estudo observacional prospectivo que incluiu pacientes de dois centros (um em Portugal e outro na Itália). Para participar do estudo, os pacientes deveriam preencher os critérios classificatórios da ACR 1990 ou os critérios da ACR revisados em 2016, possuir o sinal do halo na artéria temporal superficial e/ou axilar e não estar em uso de corticoide ≥30 mg/dia de prednisona ou equivalente por ≥15 dias.

Os pacientes foram avaliados clinicamente e com US nas semanas 0, 1, 3, 6, 12 e 24, após início do tratamento da arterite de células gigantes. Caso o paciente apresentasse sintomas de reativação (definida como presença de sintomas relacionados à ACG ou PCR ≥1 mg/dL e/ou VHS ≥30 mm/h, sem outras explicações e com necessidade de aumento de corticoide), novas visitas seriam agendadas. Remissão foi definida como ausência de recorrência com prednisona <30 mg/dia.

O protocolo de US realizado foi: avaliação bilateral das artérias temporais superficiais comum e seus ramos parietal e frontal e artérias axilares. Foram registrados a presença ou ausência de sinal do halo e o maior valor da espessura médio-intimal medida no corte longitudinal.

Resultados

Foram incluídos 49 pacientes, em sua maioria do sexo feminino (73,5%), com idade média de 78,2+-7,4 anos. Cerca de 40% apresentavam manifestações oftalmológicas.

Com relação à análise ultrassonográfica no baseline, 95,9% dos pacientes apresentavam acometimento das artérias temporais superficiais, 22,4% das artérias axilares, 18,4% de ambas e 4,1% apenas das axilares.

Na semana 24, 16 de 36 pacientes (44,4%) apresentaram sinal do halo, sendo 12 com acometimento das artérias temporais superficiais e 5 das artérias axilares. Apenas 3 desses pacientes apresentaram reativação da doença concomitantemente: neles, houve aumento do número de segmentos arteriais acometidos com halo e do diâmetro do halo, quando comparados com avaliações anteriores.

Com relação à sensibilidade para detecção de mudanças no sinal do halo, o US foi sensível para detectar variações nas artérias temporais superficiais em todos os períodos analisados; já para as artérias axilares, as alterações na espessura médio-intimal foram percebidas apenas após 6 semanas.

Ao longo das 24 semanas de seguimento, o sinal do halo nas artérias temporais se correlacionou positivamente com PCR, VHS e BVAS e negativamente com dose cumulativa de corticoide; no entanto, o mesmo não foi observado para as artérias axilares. Além disso, pacientes com menor número de segmentos das artérias com sinal do halo e menores valores de espessura médio-intimal nas artérias temporais superficiais, mas não nas artérias axilares, apresentaram maior probabilidade de atingir remissão com o tratamento. Durante as reativações, o valor da espessura médio-intimal das artérias temporais superficiais aumentou com relação ao exames anteriores, porém com valores menores do que no início da doença; essas alterações ocorreram em 94% dos pacientes com primeira reativação (n=19 reativações).

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Comentários

Esse estudo traz informações muito relevantes no seguimento dos pacientes com arterite de células gigantes. Os autores demonstraram que o uso do US na avaliação seriada desses pacientes é factível e sensível para detectar mudanças relacionadas ao tratamento, especialmente nas artérias temporais superficiais.

Essa avaliação pode ter especial relevância em pacientes em uso de anti-IL6R, que causam redução das provas inflamatórias por inibir a síntese das proteínas de fase aguda pelo fígado (que, desse modo, apresentam valor muito limitado).

Referência bibliográfica:

  • Ponte C, Monti S, Scirè CA, et al. Ultrasound halo sign as a potential monitoring tool for patients with giant cell arteritis:  a prospective analysis. Ann Rheum Dis. 2021;0:1–8. doi: 10.1136/annrheumdis-2021-220306.

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