AAP 2021: impacto da amamentação na gravidade da bronquiolite pelo vírus sincicial respiratório

Uma revisão sistemática apresentada na AAP 2021 teve como objetivo determinar o impacto da amamentação na gravidade da bronquiolite por VSR.

No mundo todo, o vírus sincicial respiratório (VSR) é a principal causa de infecções do trato respiratório inferior em bebês, além de ser uma importante causa de morbidade, hospitalização e mortalidade. Milhões de pacientes pediátricos são hospitalizados anualmente por doença causada pelo VSR e a maioria vive em países em desenvolvimento.

A amamentação demonstrou reduzir a incidência, morbidade e mortalidade da bronquiolite por VSR, mas o mecanismo exato ainda é desconhecido. Entre os países desenvolvidos, a Irlanda relata uma das taxas de amamentação mais baixas.

Uma revisão sistemática apresentada na AAP Experience 2021, congresso da American Academy of Pediatrics, teve como objetivo determinar o impacto da amamentação na incidência, gravidade e mortalidade da bronquiolite por VSR em lactentes de 0 a 12 meses de idade. O objetivo secundário desse estudo foi tirar conclusões sobre o uso da amamentação como uma intervenção custo-efetiva para diminuir a carga global de bronquiolite por esse agente viral.

mãe amamentando bebê com bronquiolite por VSR

Amamentação e bronquiolite por VSR

A pesquisa preliminar no banco de dados foi realizada usando palavras-chave e cabeçalhos MeSH acordados. Os artigos foram selecionados com base em critérios de inclusão/exclusão definidos para crianças de0 a 12 meses. A busca nas bases de dados foi realizada no MEDLINE, PubMed, Google Scholar, EMBASE, MedRxiv e Cochrane Reviews. Foram incluídos artigos com texto completo, resumos e textos de conferências publicados em inglês no período de 2000 a 2021.

Para a extração de evidências usando acordo de investigador pareado, foi utilizado o software Covidence®. O estudo seguiu as diretrizes PRISMA. Os dados foram extraídos manualmente no Microsoft Excel®, gerando tabelas de resumo. As referências foram compiladas no software EndNote X9.

Resultados

Foram selecionados 1.368 estudos. Destes, 217 eram elegíveis para revisão do texto completo. Um total de 183 artigos foi excluído com base em critérios pré-acordados. Para a extração de dados, foram selecionados 34 artigos: 23 estudos sobre bronquiolite com VSR positivo e 15 sobre bronquiolite viral (alguns dos artigos discutiram ambas).

Os resultados dessa revisão mostraram que o aleitamento materno está associado à menor hospitalização de lactentes com diagnóstico de bronquiolite por VSR. A amamentação exclusiva por um período superior a quatro meses reduziu significativamente a hospitalização e a necessidade de uso de oxigênio suplementar. Bebês amamentados por quatro a seis meses também tiveram menor utilização de cuidados de saúde na forma de visitas ao médico não programadas e idas ao pronto-socorro.

Os bebês hospitalizados tinham probabilidade significativamente maior de serem amamentados por um período igual ou inferior a 2 meses ou de não serem amamentados. Por fim, o estudo demonstrou que bebês alimentados com fórmula enfrentam maiores riscos de morbidade no primeiro ano de vida.

Conclusão

A revisão sistemática de Mineva e Philip concluiu que a amamentação demonstrou ter um efeito protetor para crianças com bronquiolite por VSR. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um mínimo de seis meses de amamentação exclusiva para proteção imunológica máxima contra infecções virais em bebês. Esse estudo mostra que o aleitamento materno exclusivo e parcial reduz a gravidade da doença, o tempo de internação e a necessidade de oxigênio suplementar.

Os pesquisadores mencionaram a utilização do palivizumabe, um anticorpo monoclonal que fornece imunidade passiva contra bronquiolite por VSR. Infelizmente, os custos dessa prevenção são elevados, tendo maior de disponibilidade em países desenvolvidos, onde cuidados de saúde adequados estão prontamente disponíveis. É mais difícil sua administração em países em desenvolvimento. As práticas de amamentação minimizam significativamente a gravidade da doença e a hospitalização. Portanto, os pesquisadores enfatizaram a necessidade de incentivo e apoio à amamentação uma intervenção com boa relação custo-benefício.

Comentário

Um ponto negativo desse estudo foi a obtenção de dados por meio também de uma plataforma de divulgação de pré-publicações de artigos científicos sem revisão aos pares. De todo modo, um ponto forte desse estudo é o fato de reforçar o conceito de proteção que o aleitamento materno fornece contra infecções.

Amamentar não é só dar leite: é criar vínculos entre mãe e bebê, fortalecendo não somente a saúde física, mas também a saúde mental desse binômio. Infelizmente, a compreensão do processo da amamentação ainda é defasada em muitas regiões.

Estamos acompanhando o congresso da AAP 2021. Fique ligado no Portal PEBMED!

Mais do AAP Experience 2021:

Referência bibliográfica:

  • Mineva, Gabriela; Philip, Roy. Virtual Oral Poster – Section on Breastfeeding Program. Impact of Breastfeeding on the Incidence and Severity of RSV Bronchiolitis in Infants: Systematic Review. AAP Experience Virtual 2021 National Conference and Exhibition.

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