AAS deve ser ajustado pelo peso na prevenção primária de eventos cardiovasculares?

O AAS inibe quase completamente a produção de tromboxano pelas plaquetas, mas reduz de forma apenas modesta os eventos vasculares a longo prazo.

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O ácido acetilsalicílico (AAS) inibe quase completamente a produção de tromboxano pelas plaquetas, através da acetilação irreversível da COX-1, mas reduz de forma apenas modesta os eventos vasculares a longo prazo. Qual o motivo dessa disparidade? Em partes, pode ser atribuída a baixas doses em pessoas com maior peso corporal. Qual a relação da obesidade? Obesos que utilizam baixas doses de AAS demonstram menor inibição da COX-1. Esta medicação é desacetilada no intestino, plasma, fígado e hemácias, logo a dose que atinge a circulação dependerá da massa desses tecidos, correlacionada com o tamanho do corpo magro.

Um ensaio clínico randomizado recente evidenciou que a capacidade de baixas doses de AAS – 75 a 100 mg ao dia – em reduzir eventos cardiovasculares diminuiu com a elevação do peso. O maior efeito desta dose foi em indivíduos com peso entre 50 e 69 kg. Indivíduos com peso de 70 kg ou acima deveriam receber uma dose diária de, no mínimo, 300 mg (alta dose) visando prevenção primária cardiovascular.

Qual a queda estimada do risco com baixas doses? A queda foi de 12% no risco cardiovascular (morte por causas vasculares, infarto agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral) na prevenção primária, no entanto, o decréscimo foi de 23% em indivíduos que pesavam menos de 70 kg.

E com altas doses? A redução do risco cardiovascular com 325 mg de AAS foi de 17% em pessoas com 70 kg ou mais.

O risco de sangramento não aumenta com doses maiores? O risco de complicações hemorrágicas é proporcional ao peso, mesmo com o uso de baixas doses. Há redução do risco de sangramento quando o peso ultrapassa 90 kg.

Quais as conclusões deste ensaio clínico? Indivíduos que pesavam pelo menos 70 kg em uso de baixas doses de AAS apresentaram risco elevado de um primeiro evento fatal (OR 1,33). Além disso, baixas doses reduziram o risco de câncer colorretal em pessoas com menos de 70 kg, mas isso foi perdido em maior peso corporal.

Acredita-se, então, que a dose de AAS deverá ser ajustada pelo peso corporal para que haja um real benefício na prevenção cardiovascular, mas mais estudos serão necessários para recomendação da dose exata.

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Referência:

  • Rothwell P, Cook N, Gaziano J et al. Effects of aspirin on risks of vascular events and cancer according to bodyweight and dose: analysis of individual patient data from randomised trials. Lancet, v. 392, p. 387-399, 2018. Disponível em < https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2818%2931133-4>.

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