Abordagem prática do método BLW (baby-led weaning) para introdução alimentar

Recentemente, um método de introdução alimentar, conhecido em inglês como, baby-led weaning (BLW) têm ganhado popularidade.

Recentemente, um método de introdução alimentar tem ganhado popularidade e tem sido recomendado em alguns livros, sites e blogs, deixando dúvidas para os pais, que questionam se essa seria uma boa escolha. Esse método é conhecido como “desmame liderado por bebês” (em inglês, baby-led weaning – BLW). É importante ressaltar que o termo ‘desmame’ refere-se à transição de uma dieta composta apenas por leite para a introdução de alimentos sólidos, não se referindo ao desmame do bebê do aleitamento materno ou de fórmula infantil.

O BLW consiste em uma abordagem de introdução de alimentos sólidos em que bebês com no mínimo seis meses de idade consomem todos os tipos de comida desde o início da alimentação complementar (a idade deve ser corrigida para prematuridade). Essa estratégia envolve a oferta de alimentos aos bebês em sua forma integral, ao invés de alimentos com colher na forma misturada ou em papa. Sendo assim, os bebês devem ser apresentados a uma grande variedade de alimentos para comer com mão (finger food), podendo escolher o que, quando e quanto comer, e compartilhar os alimentos e as refeições com sua família.

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O quadro abaixo resume os benefícios e as precauções hipotéticas relacionadas a esse método e descritas por Anderson e colaboradores (2020):

Benefícios e precauções hipotéticas relacionadas ao método BLW
Benefícios Precauções
§  Crescimento ideal e redução da obesidade, devido ao controle e autorregulação do apetite

§  Melhora da coordenação/desenvolvimento motor

§  Melhora da fala, devido ao fortalecimento dos músculos da boca e da mandíbula

§  Aprimoramento dos padrões alimentares, tornando a criança um comedor menos exigente

§  Aumento do risco de engasgo

§  Crescimento deficiente devido à ingestão insuficiente

§  Baixa ingestão de ferro, devido ao consumo limitado de carne e de cereais fortificados com ferro

Fonte: Adaptado de Anderson et al., 2020.

Anderson e colaboradores (2020) apontam algumas considerações sobre o método, descritas na literatura:

1. Existem evidências limitadas para apoiar ou refutar o método BLW como um método de introdução alimentar.

Um grande estudo controlado randomizado denominado BLISS (Baby-Led Introduction to Solids Study) comparou o BLW com a introdução tradicional de sólidos e não identificou diferenças em engasgo, peso ou índice de massa corporal (IMC). No entanto, foi descrita uma redução da confusão alimentar e uma menor responsividade à saciedade aos 2 anos de idade para crianças no grupo de intervenção BLW. Nesse estudo, o protocolo BLW foi adaptado para incluir conselhos específicos sobre como oferecer alimentos com alto teor de ferro e calorias, evitando-se alimentos com elevado risco de asfixia.

Além disso, as revisões sistemáticas avaliando o BLW identificaram poucos estudos e concluíram que mais pesquisas são necessárias para responder às questões-chave sobre se esse método leva à ingestão adequada de nutrientes, incluindo o ferro, e se ajuda na prevenção da obesidade, sem aumentar o risco de engasgo.

2. Não existem diretrizes clínicas para o BLW na América do Norte.

Não há diretrizes norte-americanas sobre o BLW. No Canadá, a Canadian Pediatric Society (CPS) incentiva o aumento gradual da textura do alimento complementar após os 6 meses de idade, com texturas irregulares oferecidas aos 9 meses e uma variedade de texturas oferecidas quando a criança tem a idade de 1 ano. A CPS também enfatiza a importância da alimentação responsiva para promover habilidades de alimentação saudável. A alimentação responsiva é definida como a reação imediata e emocionalmente apropriada do cuidador aos sinais de fome de seu bebê.

Na Europa, a European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition não recomenda o BLW devido à falta de evidências. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a introdução de alimentos semissólidos, em papa ou triturados, a partir dos seis meses de idade. De acordo com a OMS, deve haver um aumento gradual da consistência e da variedade dos alimentos, de modo que, aos oito meses de idade, os bebês possam comer finger food e atingir, até os 12 meses, a ingestão de alimentos preparados para toda a família. Devemos nos lembrar que a OMS orienta a alimentação responsiva.

Saiba mais: Quais as principais recomendações para uma alimentação saudável em crianças?

3. Os pediatras devem fornecer informações práticas sobre o método BLW para os pais.

  • O bebê deve ter idade igual ou superior a seis meses (corrigindo para prematuridade) e deve estar com o desenvolvimento adequado para se alimentar sozinho;
  • Os pais não devem deixar o bebê sozinho com a comida: devem supervisionar sempre quando o bebê estiver comendo;
  • O bebê deve estar sentado ereto ao comer;
  • O bebê tem que comer no seu próprio ritmo;
  • Os pais devem apresentar ao bebê alimentos que ele possa esmagar no céu da boca com a língua, como vegetais cozidos moles;
  • Devem ser evitados alimentos com alto risco de asfixia, como nozes, uvas, biscoitos, maçã crua, vegetais crus, salsichas ou outros alimentos cortados em rodelas ou “moedas”;
  • Devem ser oferecidos alimentos ricos em ferro em cada refeição, como carne vermelha, aves, peixes, feijão, lentilha e ovos;
  • Os pais também devem oferecer uma grande variedade de alimentos e, pelo menos, um alimento calórico em cada refeição, como abacate e carne;
  • Alimentos processados e alimentos com adição de sal e/ou açúcar devem ser evitados;
  • É importante que os pais prestem atenção aos sinais de fome e saciedade do bebê.

Importante!

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o bebê está apto para regular sua fome e saciedade desde o nascimento (e isso pode ser observado durante a amamentação). Portanto, é necessário saber interpretar essa habilidade tanto na amamentação, quanto no processo de complementação alimentar e também na formação dos hábitos alimentares. A SBP enfatiza que não há comprovação científica sobre o BLW e alerta sobre a importância de se prestar atenção a alguns pontos, como: observar se existe impacto sobre o crescimento e o desenvolvimento da criança, se a ingestão de micronutrientes é suficiente, se o método influencia a formação dos hábitos alimentares e o comportamento dos pais ou cuidadores, se é viável para a família, se é seguro e se existe o risco de asfixia. A SBP considera válida toda forma de a criança se relacionar com a comida e que o BLW pode ser uma opção. Todavia, os pais devem supervisionar o bebê na hora da refeição, sendo importante que ele interaja não só com o alimento, mas também com a família.

Referências bibliográficas

  1. Anderson L, et al. Practical tips for paediatricians: Baby-led weaning. Paediatr Child Health. 2020;25(2):77-78. doi: 10.1093/pch/pxz069
  2. Sociedade de Pediatria do Estado do Rio De Janeiro. O Método BLW – Introdução Alimentar. 2020. Disponível em: http://soperj.com.br/o-metodo-blw-introducao-alimentar/ Acesso em: 18/10/2020

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