Aborto: 63% das brasileiras consideram que a saúde pública não está preparada para acolher mulheres pós-curetagem

De acordo com pesquisa, 63% das brasileiras consideram que a saúde pública não está preparada para acolher mulheres após a curetagem.

Em uma recente pesquisa realizada pelo site Trocando Fraldas, 63% das brasileiras consideram que a saúde pública não está preparada para acolher mulheres após a curetagem. Muitas vezes, após passar pelo procedimento – tão difícil e doloroso -, as pacientes são simplesmente instruídas a apenas tentar uma nova gravidez. 

Essa impressão só aumenta com o avanço da faixa etária, com mulheres dos 30 aos 34 anos (69%), seguida pelas entrevistadas dos 35 aos 44 anos (68%). 

A pesquisa, realizada com mais de 4.700 mulheres entre 25 de abril e 3 de maio de 2022, revela outro dado importante: 45% delas consideram inadequado o fato da curetagem ser realizada em conjunto com o setor de maternidade, especialmente aquelas dos 18 aos 24 anos, com 47% das entrevistadas. O argumento é que isso pode aumentar ainda mais a tristeza da mulher em relação à sua perda. 

“O aborto é um problema de saúde pública. Pode trazer inúmeras complicações, principalmente quando realizado de forma ilegal. Diariamente nos hospitais lidamos com esse frequente diagnóstico. As mulheres que passam por um aborto podem ficar confusas e enfrentam transtornos físicos e emocionais. E a curetagem, apesar de ser um procedimento rápido, relativamente seguro e não costuma provocar uma dor física pode ocasionar transtornos psicológicos. Sentimentos de fracasso, culpa, medo e insegurança quanto ao futuro reprodutivo permeiam a vida dessas mulheres e, na maioria das vezes, as maternidades não possuem uma equipe completa e treinada para acolher essa paciente psicologicamente. Não contam com psicólogos e nem os médicos recebem esse treinamento humanizado para orientar e atender adequadamente a dor emocional dessas mulheres”, destacou a coordenadora da maternidade do Hospital Icaraí em parceria com a Perinatal, a ginecologista obstetra e especialista em medicina fetal Flávia do Vale, que também é professora de obstetrícia da Universidade Federal Fluminense (UFF), em entrevista ao Portal PEBMED.

Saiba mais: Complicações do aborto inseguro e autogerido

curetagem

Dados divididos por estado 

Os dados por estados demonstram que no Espírito Santo, 77% das participantes concordam com a falta de preparo da saúde pública. No Rio de Janeiro, 72% acreditam nesta afirmação. E em São Paulo, 67% das participantes concordam que o Sistema Único de Saúde (SUS) não está preparado para lidar com mulheres que sofrem aborto e passam pela curetagem. 

No Rio de Janeiro e em Minas Gerais, 49% das participantes concordam que este não é o melhor tipo de acolhimento. No Paraná e no Rio Grande do Sul, 47% e 46%, respectivamente, concordam com esta afirmação. Já em São Paulo e em Santa Catarina, o percentual de mulheres que concordam que este não é o melhor acolhimento é de 43%. 

Falta de preparo dos profissionais de saúde 

Outro ponto importante revelado pela pesquisa é que 40% das entrevistadas concordam que os profissionais de saúde não estão preparados para lidar com mulheres que sofrem perda gestacional. 

“O médico tem um papel importante em munir as pacientes de informações concretas e verídicas acerca do tema aborto. Esclarecimentos sobre a incidência relativamente frequente do aborto e a sua causa, além de amenizar os sentimentos de culpa que algumas mulheres sentem, confortam o sentimento de fracasso e a incerteza do futuro reprodutivo dessas mulheres.  É necessário repassar orientações sobre a segurança do procedimento cirúrgico e da anestesia, equipe de psicólogos, ala hospitalar destinadas exclusivamente a essas mulheres, grupos de apoio, orientações sobre o futuro reprodutivo e até um planejamento familiar ajudariam a sanar o mal-estar que essas mulheres sentem”, ressaltou Flávia do Vale. 

Outro fato a ser levantado, segundo a especialista em medicina fetal, é a prática do aborto ilegal ou induzido pelas pacientes que, apesar de ilegal é uma realidade cotidiana. “Isso gera uma polêmica ainda maior, pois na maioria das vezes as mulheres não assumem seus atos por medo da discriminação e do julgamento que podem sofrer ao serem internadas”, lamentou a ginecologista obstetra. 

Leia também: Uso de contracepção reversível de longa duração após o aborto medicamentoso

Aborto em números 

Cabe ressaltar que de 23 milhões de gestações em todo o mundo terminam em aborto espontâneo a cada ano; conforme estimativas publicadas na revista médica The Lancet, em 26 de abril de 2021. 

No Brasil, diariamente acontecem 535 internações por aborto. Em 2019, a cada 100 internações, 99 foram de abortos espontâneos e tipos indeterminados. Apenas um foi de aborto previsto por lei. 

 *Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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