Abuso sexual na internet: há uma população com maior risco?

Outubro, mês das crianças, e vamos abordar um tema para o qual pais e profissionais de saúde devem estar atentos: crimes de abuso sexual na internet.

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Outubro, mês das crianças, e vamos abordar um tema para o qual pais e profissionais de saúde devem estar atentos: crimes de abuso sexual na internet. Faremos essa discussão através de um artigo sueco recentemente publicado (no final de agosto) na revista Child and Adolescent Psychiatry and Mental Health.

Uma boa parte das crianças no mundo ocidental faz uso diário da internet. Além do acesso para atividades escolares, jogar ou assistir músicas ou vídeos e manter contato com as pessoas, a internet também é usada para conhecer pessoas, seja para manter relacionamentos de amizade, namoro ou sexuais. Mandar e receber “nudes” (o que o artigo descreve como “sexting“) também se tornaram comuns. Dependendo do que se entende por “sexting“, sua prevalência pode ser estimada entre 2,5% e 21%, sendo mais comum no sexo feminino do que masculino.

criança que sofreu abuso sexual na internet

Abuso sexual pela internet

Num estudo sueco com estudantes de 18 anos, 20,9% participaram de alguma forma de exposição sexual voluntária online, seja postando fotos de si mesmos parcialmente vestidos ou de nudez, se masturbando ou fazendo sexo na frente de uma webcam. Essa prevalência voltou a se repetir em estudos posteriores. Contudo, em alguns casos a motivação por trás foi além de sexual. Muitos admitem fazer isso por diversão, para serem vistos, se reafirmarem ou simplesmente porque acham que é isso que o parceiro espera deles. Mas também pode ocorrer mediante ameaça, ou seja, surge uma situação abusiva onde o ato se torna involuntário.

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A maioria é voluntária, mas sempre há o risco de um jovem estar sofrendo abuso online. Isso pode ocorrer através de uma abordagem sexual indesejada, geralmente por adultos que tentam contactar crianças e jovens com fins sexuais. Em outro estudo sueco, 30% dos adolescentes entre 14 e 15 anos, na maioria do sexo feminino, disseram que um adulto desconhecido tentou iniciar um contato com eles através da internet, fazendo colocações de caráter sexual no ano anterior à pesquisa.

Isso, além de ocorrer com mais frequência com o sexo feminino, foi também mais comum entre adolescentes mais velhas, entre jovens que se arriscam mais online (seja por busca de satisfação ou problemas familiares) e entre homossexuais, bissexuais e aqueles que ainda estão em dúvida sobre sua sexualidade. Esse conjunto da população acaba por compor o grupo mais vulnerável e que possui maior risco de abuso online.

Algumas das vítimas de abuso sexual online relataram que a situação de abuso envolvia controle, permanência, chantagem, culpa e vitimização. Uma parte dos jovens afetados chegou a desenvolver o diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), corroborando a gravidade do quadro, o sofrimento das vítimas e a necessidade de encontrarem suporte entre os profissionais de saúde.

Resultados do estudo

Neste estudo, foram consultados estudantes do ensino médio em escolas suecas através de um questionário. Há algumas limitações, como o número normal médio de alunos faltosos à escola no dia de aplicação do questionário, viés de recordação, uma amostra relativamente pequena de vítimas, problemas nas respostas (não respondeu ou a resposta não foi adequada). Contudo, este ainda seria o primeiro trabalho com a intenção de avaliar o abuso sexual de adolescentes online por uma pessoa que eles conheceram na internet e pela qual se sentiram persuadidos ou por quem sofreram coerção.

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Destacam-se quatro achados:

1. A maior parte dos contatos sexuais feitos pela internet foram considerados como experiências positivas, principalmente quando os indivíduos tinham a mesma idade ou eram apenas um pouco mais velhos. Contudo, trabalhos anteriores colocam que se envolver em relações sexuais com pessoas que se conheceram online pode ser considerado um fator de risco, já que esse tipo esse tipo de contato aumenta o risco de consequências negativas no futuro, como ser alvo de uma abordagem sexual indesejada. Esse risco também é maior no compartilhamento de material sexual com pessoas que se conhecem apenas através da internet. Como dito antes, esse tipo de abuso é mais frequente no sexo feminino e, neste caso, é mais comum que o abusador seja mais velho.

2. Neste estudo não se observou diferenças sociais e demográficas estatisticamente significantes entre o grupo que sofreu ou não abuso.

3. Os adolescentes vítimas desse tipo de abuso geralmente possuem elementos importantes na sua história que merecem atenção, como outras experiências de abuso (inclusive físico, psicológico e sexual). Alguns achados apontam que quanto mais grave a forma de abuso sexual, mais sérias as consequências para a saúde. De todas as formas, o abuso sexual com penetração seria a mais grave. O abuso online pode estar associado à baixa autoestima, problemas de saúde e nos relacionamentos (especialmente com os pais ou cuidadores). Há um padrão adverso de efeitos emocionais e psicológicos, tendo, de acordo com os modelos múltiplos de regressão logística, uma forte associação com a depressão.

4. Os adolescentes vítimas de abuso online também apresentaram mais comportamento de risco, ou seja, comportamentos que aumentam as chances de que venham a ser vítimas de abuso. Alguns desses comportamentos são: compartilhar informações pessoais importantes com maior frequência, postar “nudes” em comunidades online e procurar pessoas na internet para conversar sobre sexo.

Conclusões

A partir desses achados podemos concluir que há uma população sob maior risco, principalmente aqueles que já sofreram algum tipo de abuso, comportamento de risco online e maior vulnerabilidade causada por um mau relacionamento com os pais, baixa autoestima e problemas na saúde mental.

O abuso sexual online, apesar de não ser tão comum ainda, é uma forma séria de abuso que deve chamar a atenção dos profissionais de saúde, cabendo orientação, alerta, avaliação de risco e consequências.

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Referência bibliográfica:

  • https://capmh.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13034-019-0292-1

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