Ácido tranexâmico e cirurgia cardíaca: Altas doses reduzem necessidade de transfusão?

O Optimal Trial é um estudo, om objetivo de comparar doses de ácido tranexâmico em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Confira!

O ácido tranexâmico é o agente antifibrinolítico mais utilizado para diminuir sangramento em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca, porém a dose de escolha para infusão ainda é controversa. Apesar de reduzir sangramentos e necessidade de transfusão a medicação está associada a ocorrência de eventos trombóticos, crises convulsivas e acidente vascular cerebral (AVC).  

Foi feito então um estudo, o Optimal Trial, com objetivo de comparar altas e baixas doses de ácido tranexâmico em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. As doses se referem a infusão contínua. Abaixo estão os principais pontos do estudo. 

 

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Cardiologia e o ácido tranexâmico

Cardiologia e o ácido tranexâmico

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi estudo multicêntrico, randomizado, duplo cego, comparando duas doses de ácido tranexâmico em pacientes adultos submetidos a cirurgia cardíaca com uso de circulação extra-corpórea. O objetivo foi comparar a eficácia e segurança dessas duas estratégias e a hipótese do estudo era que altas doses seria superior em eficácia e não inferior em segurança comparado a baixas doses. 

Os critérios de exclusão eram deficiência de visão de cores, coagulação intravascular ativa (trombose venosa profunda, embolia pulmonar, trombose arterial, deficiência de antitrombina III), história de trombofilia, crises convulsivas, alergia ou contra-indicação a medicação, amamentação ou gravidez e doença terminal com expectativa de vida menor que três meses. 

Os grupos foram randomizados em uma razão 1:1 e o grupo altas doses recebeu ácido tranexâmico na dose de 30mg/kg em bolus após a indução anestésica e dose de manutenção de 16mg/kg/h. Já o grupo baixas doses recebeu 10mg/kg em bolus e dose de manutenção de 2mg/kg/h.  

O desfecho primário de eficácia foi a proporção de pacientes que recebeu transfusão de hemácias entre a cirurgia e a alta e o desfecho primário de segurança foi a ocorrência de crise convulsiva, disfunção renal, eventos trombóticos e mortalidade por todas as causas em 30 dias. 

Resultados 

Foram avaliados 1525 pacientes no grupo altas doses e 1506 no grupo baixas doses. As características dos pacientes dos dois grupos foram semelhantes, sendo a idade média de 52,8 anos e 62% do sexo masculino.  

Em relação ao desfecho primário, 21,8% dos pacientes do grupo altas doses e 26% do grupo baixas doses recebeu transfusão de hemácias (p = 0,004). O desfecho primário de segurança ocorreu em 17,6% do grupo altas doses e 16,8% do grupo baixas doses, com o grupo altas doses sendo estatisticamente não inferior ao grupo baixas doses.  

Não houve diferença em relação a transfusão de outros componentes, volume encontrado nos drenos, necessidade de reabordagem por sangramento, tempos de ventilação mecânica, internação em UTI ou internação hospitalar. Também não houve diferença em relação a ocorrência de eventos trombóticos e crises convulsivas em 30 dias. Estes compunham o desfecho secundário. 

A dose de ácido tranexâmico foi maior que 2 gramas em todos os pacientes do grupo altas doses e a dose média do grupo baixas doses foi 1,3 gramas. 

 

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Comentários e conclusão sobre o uso do ácido tranexâmico

Neste estudo, o uso de altas doses de ácido tranexâmico na cirurgia cardíaca mostrou redução discreta, porém estatisticamente significativa, na proporção de pacientes que necessitou de transfusão de hemácias, sem ocorrência de aumento de eventos adversos como crises convulsivas, eventos trombóticos, disfunção renal e mortalidade em 30 dias. 

Um dos motivos que pode explicar a não ocorrência de crises convulsivas maior no grupo altas doses, visto em estudos prévios, foi a infusão contínua da medicação. Muitos faziam a medicação toda em dose única, atingindo uma concentração de pico muito alta no sangue do paciente. 

Algumas limitações foram que este estudo incluiu apenas pacientes chineses e submetidos a diversos tipos de cirurgia cardíaca, o que incluiu correção de arco aórtico, cirurgia mais complexa e com maior risco de sangramento, o que pode ter mascarado ou reduzido os efeitos do acido tranexâmico. Além disso, a identificação de convulsões foi apenas clínica, sem uso de eletroencefalograma, o que pode não ter identificado todos os casos com essa manifestação. 

Como conclusão temos que o ácido tranexâmico em altas doses parece reduzir necessidade de transfusão na cirurgia cardíaca sem aumentar efeitos adversos, porém mais estudos são necessários para confirmar esses resultados e avaliar se são reprodutíveis em outras populações. 

 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
    • JAMA. 2022;328(4):336-347. doi:10.1001/jama.2022.10725