Acompanhamento telefônico por enfermeiros na insuficiência cardíaca

Um estudo buscou entender como o acompanhamento telefônico por enfermeiros poderia ajudar pacientes com insuficiência cardíaca. Veja os resultados!

O estudo “Orientação de alta e acompanhamento telefônico na adesão terapêutica da insuficiência cardíaca: ensaio clínico randomizado”, publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem em agosto deste ano, mostrou que o acompanhamento telefônico realizado por enfermeiros a pacientes com insuficiência cardíaca pode reduzir a mortalidade após a alta hospitalar.

A ideia do experimento é que os pacientes sejam capazes de gerenciar os seus tratamentos de forma mais eficaz, visando levar à redução nos eventos de reinternação, assim como a taxa de mortalidade.

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estetoscópio em cima de elerocardiograma de paciente com insuficiência cardíaca

Acompanhamento telefônico

O ensaio clínico randomizado foi realizado durante o ano de 2016, com a participação de 201 pacientes, internados em um pronto socorro de uma instituição pública especializada em cardiologia, com seis leitos de emergência, 21 de observação e 40 de retaguarda. A cidade não foi divulgada.

Foram incluídos pacientes com insuficiência cardíaca descompensada, com outros diagnósticos associados ou não, maiores de 18 anos e que não foram submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio nos últimos 30 dias.

Os pacientes foram distribuídos através de sorteio eletrônico em dois grupos: o de controle e o de intervenção, no qual os voluntários eram contatados para uma reorientação via telefonemas em 7, 30 e após 90 dias. Posteriormente, era avaliada a adesão ao tratamento através de testes de Morisky, Brief Medical Questionnaire.

O grupo de controle recebeu orientações de alta usuais, através de folder explicativo padronizado pela instituição, com informações sobre restrições alimentares, exercícios recomendados, importância da adesão medicamentosa e retorno ao serviço de emergência em caso de piora dos sinais e sintomas.

Após três meses da alta hospitalar, o grupo de controle foi contactado por telefone, por uma pesquisadora. Foram avaliadas a adesão e as barreiras para a não adesão às medidas farmacológicas, a adesão às medidas não farmacológicas, a ocorrência de re-hospitalização e óbito no período. A ligação teve, em média, 15 minutos de duração.

Já o grupo de intervenção recebeu orientações de alta da pesquisadora, no leito em que o paciente estava internado e com a presença do acompanhante, se houvesse. Antes do início da orientação, a pesquisadora avaliou o conhecimento prévio do paciente em relação à doença e tratamento através de um questionário estruturado com base na literatura médica.

A orientação começou com a apresentação ao paciente de um vídeo ilustrativo, da Associação Brasileira de Insuficiência Cardíaca (DEIC), sobre a definição de insuficiência cardíaca. Após essa etapa foi realizada orientação de alta individualizada, de acordo com as necessidades de cada paciente, por meio de leitura de folders explicativos.

Os folders foram elaborados embasados nas diretrizes de insuficiência cardíaca crônica, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) com informações sobre a definição da doença, aspectos nutricionais, restrição hídrica e tratamento medicamentoso.

A orientação no grupo de intervenção seguiu um roteiro que levou em consideração o conhecimento prévio do paciente e as suas dúvidas, composto dos seguintes itens:

  • Conhecimento do paciente sobre a doença e o tratamento;
  • Necessidade de manutenção de restrição hídrica, calórica e de sódio;
  • Realização de atividade física, se prescrita;
  • Necessidade de controle de peso;
  • Conhecimento sobre os sinais e sintomas de descompensação da insuficiência cardíaca;
  • Importância do acompanhamento ambulatorial.

Durante a orientação, a pesquisadora tinha em mãos a prescrição médica para esclarecimento de dúvidas dos pacientes e familiares em relação ao uso dos medicamentos e possíveis efeitos colaterais. As orientações duraram, em média, 20 minutos.

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Após 30 dias da alta hospitalar, os pacientes do grupo de intervenção foram contactados por meio telefônico pela pesquisadora para esclarecer dúvidas e identificar dificuldades quanto ao tratamento, sendo que ela forneceu as reorientações de acordo com as dificuldades apontadas pelo paciente. Além disso, foi identificado se houve re-hospitalização ou óbito nesse período. As ligações tiveram, em média, dez minutos de duração.

A avaliação da efetividade da intervenção no grupo de intervenção foi realizada após 90 dias da alta hospitalar através de contato telefônico. Foram considerados desfechos primários à adesão terapêutica por meio da adesão medicamentosa e não medicamentosa e as barreiras para a não adesão medicamentosa e, como desfechos secundários, a ocorrência de re-hospitalização e óbito em 7, 30 e 90 dias após a alta hospitalar.

Resultados

O grupo de intervenção apresentou maior adesão terapêutica medicamentosa e não medicamentosa em relação ao grupo de controle, tendo assim, uma redução nas taxas de readmissão hospitalar em 18,5%, assim como na de mortalidade em 28,5%, após os 90 dias de acompanhamento telefônico.

O estudo conseguiu evidenciar a importância da atuação competente dos enfermeiros na educação à saúde dos seus pacientes.

Na opinião do enfermeiro pediátrico Juan Carlos Silva Possi, os resultados do estudo são promissores e deveriam fazer parte da rotina dos hospitais.

“Achei esse estudo muito interessante, com resultados promissores e que podem ser extrapolados para outras situações clínicas e cirúrgicas, até por conta da tecnologia disponível. Acredito não somente o acompanhamento telefônico pode incentivar a adesão ao tratamento e até mesmo ajudar a reduzir a mortalidade após a alta hospitalar, mas também a utilização de outras tecnologias disponíveis, como aplicativos de troca de mensagem, e-mail, SMS ou web conferências, a depender da afinidade do paciente com o uso da tecnologia”, afirma.

O enfermeiro pediátrico complementa sugerindo que esse tipo de acompanhamento deve ser oferecido aos pacientes que necessitem de alguma mudança de estilo de vida, adesão a novo regime terapêutico ou em adaptação de novas tecnologias.

“Na maioria das vezes, durante uma consulta de enfermagem ou consulta médica, passamos a maior parte das informações possíveis, mas muitas vezes os pacientes encontram dificuldade em operacionalizar as orientações recebidas com o seu dia a dia, por isso acaba não aderindo ao regime terapêutico. Nesse sentido, acredito que essa iniciativa iria facilitar e fazer pequenas correções da adesão terapêutica em domicílio”, conclui.

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