ADA 2021: chegou para ficar? A telemedicina no cuidado do diabetes na “Era Covid-19”

Continuando a cobertura do congresso da ADA 2021, selecionamos uma sessão sobre telemedicina, que ganha cada vez mais espaço no cotidiano.

Continuando a cobertura do congresso da American Diabetes Association (ADA 2021), selecionamos esta apresentação por se tratar de um tema extremamente relevante na prática clínica atual, a telemedicina, que deve cada vez mais ganhar espaço em nosso cotidiano, bem como influenciar diretamente no cuidado dos pacientes, incluindo os diabéticos.

médica usando telemedicina para cuidado do diabetes

Telemedicina

A telemedicina vem se destacando e não só ganhou uma apresentação própria dentro dos “Interests of professional groups sessions” da ADA 21 como fez parte também de outras palestras. Ontem, 25, ao abordar o impacto da Covid-19 no cuidado de pacientes gestantes diabéticas, a obstetra Noelia Zork (Columbia University) trouxe uma breve apresentação sobre o impacto da chamada “telehealth” – na tradução livre, telessaúde – no cuidado das gestantes.

A definição de “telehealth” pode variar se buscarmos referências diferentes, sendo às vezes utilizada como sinônimo de telemedicina, às vezes como um conceito mais amplo, que engloba os atendimentos realizados de forma remota, o aconselhamento e promoção de saúde, além do envio de informações úteis como a monitorização glicêmica por meio digital. Com essa modalidade de atenção, existe a possibilidade de manter, nas palavras da Dra. Zork, um seguimento à distância com o mesmo nível de acolhimento e humanização.

Em sua apresentação, ela mostrou os dados de uma metanálise¹ publicada em 2020 de 32 estudos, totalizando um n de 5.108 pacientes, que abordava o impacto da telemedicina comparado aos atendimentos presenciais em pacientes gestantes diabéticas (diabetes gestacional, DM2 e DM1) em hemoglobina glicada (HbA1C), controle glicêmico e desfechos obstétricos. O resultado foi favorável às pacientes que foram seguidas por telemedicina, mostrando redução na glicada em -0,7%, menores glicemias pré e pós-prandiais, menor taxa de cesáreas (RR 0,82), macrossomia (RR 0,49), hipoglicemia neonatal (RR 0,67) e pré-eclâmpsia (RR 0,48).

Leia também: IM/ACP 2021: telemedicina e estratégias para o exame físico

A apresentação de hoje foi dividida em três partes, com especialistas diferentes. No primeiro bloco, a Dra. Michelle Griffith (Vanderbilt University), pesquisadora do centro de telemedicina local, ilustrou as oportunidades no manejo do diabetes no cenário ambulatorial.

Telemedicina e diabetes

Há vários tipos de cuidados na telemedicina, como mencionado antes. O foco foi a avaliação de atendimentos por vídeo, realizados em tempo real, combinando recursos audiovisuais, com o paciente utilizando seu próprio dispositivo para a comunicação.

A experiência em telemedicina da endocrinologia da Vanderbilt University se iniciou em 2017. Com a pandemia, alterações na política de “telehealth” e a necessidade de promoção do distanciamento social, houve um “boom” nas consultas realizadas nessa modalidade no início de 2020. Entre abril/20 e maio/20, os atendimentos da clínica de diabetes ficaram 100% via telemedicina. Após o pior período da pandemia, as consultas presenciais retornaram, sendo que em novembro/20 aproximadamente 50% dos atendimentos estavam sendo realizados via tele, e atualmente figuram na casa de 35%.

E por que continuar com os atendimentos via telemedicina? (ela considera que estamos num momento pós-pandemia – como gostaríamos de poder falar o mesmo…)

  • O acesso a especialistas no cuidado ao diabetes é limitado em algumas regiões;
  • Nos EUA, existe um problema no déficit de endocrinologistas;
  • Existem boas evidências científicas do benefício, com destaque para: a) CoYoT1, 2018, estudo prospectivo: melhor aderência às consultas; b) V-IMPACT, 2021, estudo retrospectivo: mostrou que níveis de hemoglobina glicada e aderência ao tratamento foram equivalentes ao atendimento presencial;
  • O atendimento a distância no DM é facilitado por outras tecnologias e ferramentas no manejo da doença;
  • Competição de novos provedores, que pode melhorar a qualidade e reduzir custos.

E isso é corroborado pelos próprios pacientes. Em outro estudo rapidamente apresentado, 65% dos pacientes atualmente atendidos remotamente preferiam continuar seus atendimentos por telemedicina.

Veja mais: Telemedicina como um “EPI digital”

Em considerações práticas, é lembrado a importância de se determinar um horário específico, qual ferramenta utilizar, realização prévia de exames, compartilhamento de dados prévios às consultas como os controles glicêmicos, por exemplo.

Para o futuro, oportunidades, sobretudo para empoderamento do paciente e valorização de sua autonomia, flexibilidade e facilidade no acesso à saúde. Também desafios: suporte técnico aos pacientes, mudança na perspectiva dos pacientes uma vez que a pandemia se acabe, regulação nos pagamentos de seguradoras, equidade ao acesso (tanto à internet como à tecnologias no DM).

Uso da tecnologia com pacientes internados

Já na segunda parte, o Dr. Robert J. Rushakoff (University of California at San Francisco – UCSF) transmitiu um panorama sobre o uso da tecnologia no cenário de pacientes internados. Para tanto, compartilhou as experiências de seu serviço, que já previamente à pandemia de Covid-19, utilizavam um sistema “bedside” de consultas com especialistas, utilizando um totem ou telefone para o especialista conversar com os pacientes.

Durante a pandemia, a Universidade desenvolveu um sistema denomidado “vGMS”, um sistema de monitorização de glicemia intra-hospitalar virtual, com o objetivo de suprir a necessidade de contratar um endocrinologista full time. Para tanto, pacientes que apresentassem glicemias maiores que 225 mg/dL em dois momentos em um dia, glicemias menores que 70 mg/dL, tivessem diagnóstico de DM1 ou estivessem em uso de bomba de insulina eram selecionados para o protocolo.

Foi elaborada uma plataforma online que era alimentada automaticamente a partir do prontuário eletrônico com as informações sobre glicemias, prescrições e exames laboratoriais, fornecendo dados sobre evolução do paciente e curva glicêmica. Após, era possível selecionar se o paciente estava em uso de glicocorticoides e qual o tipo de dieta. Então, uma sugestão de prescrição de insulina era fornecida e a equipe assistente podia prescrever.

O impacto no controle de hiperglicemia hospitalar foi publicados no Annals of Internal Medicine² em 2017, mostrando uma redução de 39% no número de pacientes que apresentavam hiperglicemias matinais, além de uma redução de 38% em episódios de glicemias menores que 70 mg/dl.

Vale ressaltar que no Brasil, temos ferramentas parecidas elaboradas e validadas para uso de controle de hiperglicemia hospitalar, como o InsulinApp.

Continuous Glucose Monitoring

Na última parte, destaque para o uso do Continuous Glucose Monitoring (CGM) em ambiente intra-hospitalar no Scripps Mercy Hospital em San Diego. A mensagem foi: “este é o novo normal e o futuro é agora”.

Vale destacar que o impacto se estende a pacientes com DM1, DM2, crianças, gestantes; mesmo idosos e até pacientes hospitalizados!

Estamos cobrindo o congresso da ADA 2021. Fiquem ligados no Portal PEBMED!

Mais do congresso:

Referência bibliográfica:

  1. Xie et al. Effectiveness of telemedicine for pregnant women with gestational diabetes mellitus: an updated meta-analysis of 32 randomized controlled trials with trial sequential analysis. BMC pregnancy and childbirth 20, 198 (2020). https://doi.org/10.1186/s12884-020-02892-1
  2. Rushakoff RJ, et al. Association Between a Virtual Glucose Management Service and Glycemic Control in Hospitalized Adult Patients. An Observational Study. Annals of Internal Medicine: 2017, may 2; 166 (9): 621-627 https://doi.org/10.7326/M16-1413

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