ADA 2022: desfechos renais da tirzepatida – estudo SURPASS-4

O objetivo da análise apresentada no ADA 2022 foi analisar os desfechos renais associados a tirzepatida em comparação à insulina glargina.

Em 2021, o estudo SURPASS-4 foi apresentado no congresso da American Diabetes Association (ADA) e, posteriormente, publicado no Lancet. O trial comparou os efeitos da tirzepatida com a glargina no controle glicêmico, nas doses de 5, 10 e 15 mg.

O resultado foi fantástico, mostrando uma redução na hemoglobina glicada ao final de 52 semanas de 2,58% na dose de 15mg comparado a 1,44% com a glargina, que era ajustada conforme controle glicêmico com objetivo de se atingir uma glicemia de jejum menor que 100 mg/dL. Esse estudo selecionou uma população com diabetes tipo 2 (DM2), com doença cardiovascular estabelecida ou de alto risco cardiovascular, com hemoglobina glicada inicial entre 7,5% e 10,5% e IMC maior ou igual a 25 kg/m2. A média de idade era de 63 anos. Ao final, 2002 participantes foram randomizados. Vale lembrar que esses pacientes já podiam estar em uso de metformina, inibidores de SGLT-2 ou sulfonilureias.

médico aferindo glicose de paciente com diabetes em uso de tirzepatida

Desfechos renais da tirzepatida

O estudo apresentado no primeiro dia do congresso da ADA 2022 já havia tido seu objetivo pré-especificado no desenho original e, portanto, é mais que uma análise post-hoc. O objetivo foi, na mesma população e com poder suficiente para tanto, analisar os desfechos renais associados a tirzepatida em comparação à insulina glargina. O follow up médio foi de 85 semanas, maior que as 52 semanas necessárias para avaliação da diferença média em hemoglobina glicada (o estudo seguiu já que também tinha como objetivo avaliar segurança cardiovascular, que por sinal foi demonstrado).

Desfechos renais

Os objetivos do estudo apresentado, ainda não publicado, foram avaliar declínio na taxa de filtração glomerular (TFG) ao longo do tempo, alteração na razão albuminúria/creatinúria e um desfecho clínico composto (surgimento de albuminúria, queda sustentada de 40% na TFG, doença renal em estágio final ou morte por causas renais).

Quanto às características de base, ambos os grupos foram balanceados e a média de TFG inicial era de 81 mL/min, sendo que cerca de 18% tinham TFG menor que 60 ml/min. A relação albumina/creatinina urinária era em média 16 mg/g, sendo que 63% não apresentavam albuminúria (A1), 26% tinham albuminúria entre 30 e 300 (A2) e apenas 8% tinha albuminúria A3. Vale lembrar sobre o uso de iSGLT-2, que era cerca de 25% em ambos os grupos e iECA ou BRA, presentes em média na prescrição de 81% dos participantes.

Tirzepatida pode contribuir para a doença renal diabética

A tirzepatida reduziu a albuminúria (micro ou macro) em 60%, comparado a -24,6% da insulina glargina, com significância.

Houve também uma tendência a manutenção da taxa de filtração glomerular, independentemente do uso de iSGLT-2 (Queda de 1,4 comparado a 3,6 no grupo glargina no período analisado, uma diferença de 2,21, também com significância). Mas o dado mais relevante foi a demonstração da redução do surgimento de macroalbuminúria (2,5% vs 6,1% no grupo glargina; HR 0,41; IC 95%; 0,26 – 0,66). Muito por isso, também houve uma tendência a redução do desfecho primário composto (HR 0,87), porém sem significância estatística e não tendo ocorrido no estudo nenhuma morte por causa renal.

Vale a pena indicar a tirzepatida para prevenção da doença renal diabética?

Primeiramente, a tirzepatida ainda não está disponível no Brasil e foi aprovada recentemente pela Food and Drug Administration. Esses dados são relevantes mas não sabemos se tal efeito vem do componente do agonista de GLP1 apenas, por exemplo, já que essa classe também vem demonstrando algum efeito renoprotetor. Novos trials mais longos e que comparem a tirzepatida diretamente com placebo ou numa população com maior proporção de doença renal podem trazer dados interessantes.

O lançamento do medicamento para diabetes nos Estados Unidos, com o nome comercial Mounjaro, aconteceu durante o evento: dose inicial de 2,5 mg, progredindo 2,5 mg a cada 4 semanas, até mínimo de 5 mg/semanal; uso subcutâneo.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Del Prato S, et al. Tirzepatide versus insulin glargine in type 2 diabetes and increased cardiovascular risk (SURPASS-4): a randomised, open-label, parallel-group, multicentre, phase 3 trial. The Lancet. V 398, Issue 10313, P1811-1824, November 13, 2021 https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)02188-7