Adenomiose e infertilidade

Apesar de ser benigna, a adenomiose pode gerar: dor pélvica crônica, ciclos hipermenorrágicos, abortamento habitual e infertilidade. Saiba mais.

Adenomiose é uma infiltração do endométrio no miométrio com mais de 2,5 mm de profundidade ou, no mínimo, um campo microscópio de grande aumento distante da camada basal do endométrio, com presença de glândulas e estroma endometrial circundado por hiperplasia e hipertrofia das células miometriais (CARNEIRO, 2018). Apesar de ser uma patologia benigna, a mulher com adenomiose pode apresentar: dor pélvica crônica, ciclos hipermenorrágicos, abortamento habitual e infertilidade. De acordo com Carneiro (2018) a adenomiose tem prevalência muito variável na literatura, entre 31% a 61,5% e isto é explicado pelas diferentes definições histológicas utilizadas.

Adenomiose e infertilidade

Estudo sobre a adenomiose e a infertilidade

Em janeiro de 2021 foi publicada uma revisão sistemática sobre adenomiose e infertilidade no International Journal of Environmental Research and Public Health. O objetivo do estudo é mostrar o que tem de novo no manejo da paciente com adenomiose e infertilidade com respaldo científico. Foram selecionados artigos de 1982 a 2019 nas plataformas PUBMED, EMBASE e COCHRANE. Os termos usados para a pesquisa foram “adenomyosis and infertility” e “adenomyosis and pregnancy outcomes”. O foco dos pesquisadores foram: sintomas, patogênese, diagnóstico e possível manejo da paciente com adenomiose e infertilidade.

Segundo Szubert (2021), antes dos 40 anos a adenomiose afeta duas entre dez mulheres, já entre os 40 e 50 anos a incidência aumenta, afetando oito entre dez mulheres. Não existem sintomas clínicos patognomônicos de adenomiose, e até pouco tempo atrás, o diagnóstico era feito somente com o resultado do exame anatomopatológico após uma histerectomia. Hoje, o diagnóstico pode ser realizado através de exames de imagem, como a ultrassonografia e a ressonância magnética da pelve com contraste.

Vale ressaltar que esse diagnóstico é operador dependente, além de depender da qualidade do aparelho de ultrassom e de ressonância. Não podemos esquecer que em nosso país, nem sempre as mulheres terão acesso a esses exames, e também, nem sempre serão realizados por profissionais qualificados para o estudo de endometriose e adenomiose, dificultando o tratamento e manejo dessas pacientes.

A histeroscopia pode ser usada para realizar o diagnóstico de adenomiose para as pacientes com hipermenorrea e infertilidade através do estudo imunohistoquímico. Alguns sinais durante o exame de histeroscopia sugerem adenomiose, como: miométrio irregular, distorção da arquitetura endometrial avaliada durante a dissecção do endométrio e a presença de endometriomas intramurais (DI SPIEZIO SARDO, 2017).

A patogênese da adenomiose ainda é incerta, mas uma nova direção de pesquisa é sobre a expressão de RNA mensageiro (mRNA) e RNAs longos não codificantes (lncRNAs) na adenomiose. Zhou (2016) estudou a expressão dos lncRNAs nos tecidos humanos de adenomiose, e mostrou uma super manifestação nos tecidos de adenomiose quando comparados a tecidos de endométrio tópicos. Mas ainda são necessárias mais pesquisas para elucidar a patogênese da adenomiose.

Outros estudos

Estudos recentes mostram um impacto negativo da endometriose em pacientes submetidas a fertilização “in vitro”, além de aumentar a incidência de aborto espontâneo, trabalho de parto prematuro e roptura prematura de membranas ovulares. A infertilidade nas mulheres com adenomiose podem ter diversas origens, como: distorções anatômicas, transporte inadequado do gameta, migração prejudicada dos espermatozóides, falha na nidação e hiperatividade do miométrio ( SZUBERT, 2021).

O manejo das pacientes com adenomiose e infertilidade ainda é incerto, apesar de semelhante com o tratamento das pacientes com endometriose, muitas pesquisas ainda são necessárias para uma melhor assistência. A maioria dos tratamentos interferem na fertilidade das pacientes, e normalmente, o controle dos ciclos hipermenorrágicos melhoram apenas com ablação endometrial ou histerectomia. Além disso, a paciente com adenomiose tem uma taxa de sucesso menor de fertilização quando comparada a outras mulheres (SZUBERT, 2021).

Leia também: Uso de implante de Etonogestrel em pacientes com endometriose e adenomiose

Considerações

Ainda são necessários mais estudos para nos guiar no manejo adequado de adenomiose e infertilidade. Diversos estudos mostram o papel da alimentação e da suplementação de vitamina D e ômega-3 na melhora dos sintomas e da fertilidade das mulheres com endometriose, nos mostrando que pode ser um caminho também para as pacientes com adenomiose. O tratamento da paciente com adenomiose, assim como a paciente com endometriose, deve ser multidisciplinar, apesar de ainda pouco discutido, essa abordagem deve ser levada em consideração quando pensamos em pacientes com essas patologias que querem preservar a fertilidade (NODLER, 2020).

Referências bibliográficas:

  • Szubert M, Koziróg E, Olszak O, Krygier-Kurz K, Kazmierczak J, Wilczynski J. Adenomyosis and Infertility-Review of Medical and Surgical Approaches. Int J Environ Res Public Health. 2021 Jan 30;18(3):1235. doi: 10.3390/ijerph18031235. PMID: 33573117; PMCID: PMC7908401.
  • Carneiro MM, Ávila I, Ferreira MC, Lasmar B, Gonçalves MO, Oliveira MA, et al. Adenomiose. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2018. (Protocolo FEBRASGO – Ginecologia, no. 31/ Comissão Nacional Especializada em Endometriose). Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/es/component/k2/item/download/235_d8e835f3846d5ee5121382194932942c
  • Zhou, C.; Zhang, T.; Liu, F.; Ni, X.; Huo, R.; Shi, Z. The differential expression of mRNAs and long noncoding RNAs between ectopic and eutopic endometria provides new insights into adenomyosis. Mol. Biosyst. 2016, 12, 362–370. doi: https://doi.org/10.1039/C5MB00733J
  • Di Spiezio Sardo, A.; Calagna, G.; Santangelo, F.; Zizolfi, B.; Tanos, V.; Perino, A.; De Wilde, R.L. The Role of Hysteroscopy in the Diagnosis and Treatment of Adenomyosis. BioMed Res. Int. 2017, 2017, 2518396. doi: https://doi.org/10.1155/2017/2518396
  • Nodler JL, DiVasta AD, Vitonis AF, Karevicius S, Malsch M, Sarda V, Fadayomi A, Harris HR, Missmer SA. Supplementation with vitamin D or ω-3 fatty acids in adolescent girls and young women with endometriosis (SAGE): a double-blind, randomized, placebo-controlled trial. Am J Clin Nutr. 2020 Jul 1;112(1):229-236. doi: 10.1093/ajcn/nqaa096. PMID: 32453393; PMCID: PMC7326593.

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