Advances of Inflammatory Bowel Diseases 2020 virtual: quais foram os principais estudos?

Aconteceu o Advances of Inflammatory Bowel Diseases, um dos principais eventos em doenças inflamatórias intestinais do mundo.

No período de 09 a 12 de dezembro, realizou-se o congresso Advances of Inflammatory Bowel Diseases 2020 virtual, um dos principais eventos em doenças inflamatórias intestinais do mundo. Em uma das principais sessões do evento, “Hot Research Topics Ready for Prime Time“, foram apresentados alguns estudos de grande impacto desenvolvidos no ano de 2020, os quais serão apresentados de forma resumida abaixo:

1) Predictors of anti-TNF treatment failure in anti-TNF-naive patients with active luminal Crohn´s disease: a prospective multicentre cohort study (PANTS) 

Estudo prospectivo observacional com objetivo de identificar preditores clínicos e farmacocinéticos de não-resposta a antagonistas de TNF-alfa. Foram incluídos pacientes virgens de anti-TNF-alfa, com doença de Crohn luminal ativa, iniciando tratamento com infliximabe ou adalimumabe. Os desfechos foram falha primária na semana 14, não-remissão na semana  54, eventos adversos levando a interrupção do tratamento, nível sérico das drogas e imunogenicidade. Foram incluídos 1.610 pacientes (955 em uso de infliximabe e 655 de adalimumabe). Taxas de falha primária na semana 14, não-remissão na semana 54  e eventos adversos foram, respectivamente, de 23,8%, 63,1% e 7,8%. 

Em análise multivariada, o nível sérico de infliximabe e adalimumabe na semana 14 se associou a menor chance de falha primária, sendo considerados níveis ideais 7mg/L para infliximabe e 12mg/L para adalimumabe. Tabagismo, obesidade e sobrepeso se associaram a maior risco de não-remissão na semana 54, especialmente para adalimumabe. Por outro lado, a presença de doença perianal e nível sérico da droga na semana 14 se associaram à maior chance de remissão na semana 54. Imunogenicidade foi observada em 63% dos pacientes em uso de infliximabe e 28% em uso de adalimumabe. Uso de imunomodulador foi associado a redução de imunogenicidade para ambos os medicamentos e maior nível sérico de infliximabe.

Implicações: a intensificação precoce do tratamento e uso de imunomoduladores em associação a antagonistas de TNF-alfa podem levar a melhores desfechos. 

2) HLADQA1*05 carriage associated with development of anti-drug antibodies to infliximabe and adalimumabe in patients with Crohn´s disease.

Subestudo realizado a partir da coorte de pacientes do estudo PANTS, no qual foram incluídos pacientes virgens de anti-TNF-alfa, com doença de Crohn luminal ativa, iniciando tratamento com infliximabe ou adalimumabe. Teve como objetivo avaliar a associação do alelo HLADQA1*05 com a formação de anticorpos contra antagonistas de TNF alfa. Realizada dosagem de anticorpos e nível sérico de infliximabe e adalimumabe nas semanas 12, 30 e 54 de acompanhamento. 

O estudo confirmou uma maior taxa de imunogenicidade entre pacientes portadores do alelo HLADQA1*05, encontrado em 40% da população do estudo (HR 1,9; IC95% 1,6-2,25). As maiores taxas de imunogenicidade (92% em 1 ano) foram observadas em pacientes portadores do alelo HLADQA1*05 tratados com infliximabe em monoterapia. Já as menores taxas de imunogenicidade (10% em 1 ano)  foram identificadas entre pacientes tratados com adalimumabe em associação com imunomodulador. 

Implicações: a identificação de pacientes em maior risco para desenvolvimento de anticorpos contra antagonistas de TNF-alfa pode auxiliar na decisão de utilizar essas drogas como primeira linha de tratamento e de manter ou não a comboterapia com imunomoduladores. 

3) Efficacy and safety of Vedolizumab subcutaneous formulation in a randomized trial of patients with ulcerative colitis (VISIBLE 1)

Esse trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia primária e segurança do uso de vedolizumabe subcutâneo  (SC) versus vedolizumabe endovenoso e/ou placebo, após indução com vedolizumabe venoso nas semanas 0 e 2, em pacientes com retocolite ulcerativa participantes do estudo de fase 3 VISIBLE 1. Foram randomizados somente pacientes respondedores a dose de indução venosa na semana 6. A dose subcutânea de vedolizumabe foi de 108mg de 2/2 semanas. 

O desfecho primário foi remissão clínica na semana 52. Desfechos secundários foram melhora endoscópica e remissão livre de corticosteróides.  46,2% dos pacientes que utilizaram vedolizumabe SC atingiram o desfecho primário na semana 52, contra 14,3% no grupo placebo e 42,6% no grupo vedolizumabe endovenoso. Já a melhora endoscópica foi observada em 56,6% dos pacientes em uso de vedolizumabe SC, versus 21,4% no grupo placebo e 53,7% no grupo vedolizumabe endovenoso. Eventos adversos no sítio de aplicação da dose SC foram reportados por 10,4% dos pacientes, mas sem necessidade de descontinuação do medicamento. 

Implicações: a formulação subcutânea do vedolizumabe é tão eficaz quanto a endovenosa e pode ser empregada em um futuro próximo. 

4) Ustekinumab is associated with superior effectiveness outcomes compared to vedolizumab in Crohn´s disease patients with prior failure to anti-TNF treatment

Trata-se de estudo prospectivo observacional conduzido na Holanda com objetivo de avaliar a eficácia de ustequinumabe e vedolizumabe no tratamento de pacientes com doença de Crohn que falharam a terapia com antagonista de TNF-alfa. Incluídos 128 pacientes em uso de vedolizumabe e 85 de ustequinumabe. Os desfechos de remissão clínica livre de corticosteróide, remissão bioquímica e segurança, todos na semana 52, foram analisados por modelos de regressão logística com correção por escores de propensão de pareamento. 

A proporção de pacientes em remissão clínica livre de corticosteróide na semana 52 foi de 46% no grupo ustequinumabe contra 27% no grupo vedolizumabe (p = 0,004).  Não houve diferença estatisticamente significativa quanto a remissão bioquímica e desfechos de segurança (infecções, eventos adversos e hospitalizações). A proporção de pacientes que atingiram remissão bioquímica e clínica livre de corticosteróide combinadas foi de 23% no grupo ustequinumabe e 10% no vedolizumabe. 

Implicações: em pacientes com doença de Crohn que falharam a antagonista de TNF alfa, o tratamento com ustequinumabe é mais eficaz que com vedolizumabe na terapia de 2a linha. 

5) Corticosteroids, but not TNF antagonists, are associated with adverse Covid-19 outcomes in patients with inflammatory bowel diseases: results from an international registry

Esse estudo teve como objetivo avaliar a história natural da Covid-19 em pacientes com doença inflamatória intestinal e identificar  fatores de risco para desfechos negativos.

Foi avaliado o banco de dados do SECURE-IBD (Surveillance Epidemiology of Coronavirus Under Research Exclusion for Inflammatory Bowel Diseases), incluindo 525 pacientes com Covid-19 e doença inflamatória intestinal (59,4% doença de Crohn). Realizada análise de regressão logística multivariada para estimar fatores independentemente associados a Covid-19 grave (definida por admissão em terapia intensiva, necessidade de ventilador mecânico ou morte).

 Uso de idade, presença de comorbidades, uso de corticosteróides (OR 6,87; IC95% 2,3-20,51; p <0,001) e aminossalicilatos (OR 3,14; IC95% 1,28-7,71; p = 0,01) se associaram a maior risco de Covid-19 grave, o que não foi observado para antagonistas de TNF-alfa (OR 0,90; IC 95% 0,37-2,17; p = 0,81) ou presença de doença ativa (OR 1,14; IC 95% 0,49-2,66; p = 0,76). 

Implicações: aparentemente, o uso de antagonistas de TNF-alfa não aumenta o risco de Covid-19 grave. Deve-se atentar a risco aumentado de infecção grave por SARS-CoV-2 em pacientes tratados com corticosteróides e aminossalicilatos.  

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