Amamentação está associada com redução de doença hepática gordurosa?

Um estudo investigou se um maior tempo de lactação está associado à menor prevalência de doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA) nas mulheres.

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O Journal of Hepatology, uma das mais importantes revistas de hepatologia no meio científico, traz como artigo de capa de janeiro um artigo que propõe que o maior tempo de lactação está associado a menor prevalência de doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA) nas mulheres, mesmo a longo prazo.

A ideia para o estudo se baseou no conhecimento de que o diabetes gestacional é um fator de risco para DHGNA em mulheres na meia-idade, e que a lactação reduz glicemia, insulina sérica e triglicerídeos maternos por meio da captação facilitada de glicose para produção de leite por um mecanismo que não utiliza insulina. Além disso, tem-se demonstrado que maior tempo de lactação está relacionado a menor risco futuro de desenvolvimento de síndrome metabólica e DM2 em mulheres em idade fértil, independentemente de mudanças no estilo de vida ou peso.

A população investigada foi acompanhada pelo estudo CARDIA, que é um estudo de coorte longitudinal multicêntrico de base comunitária para avaliação do risco cardiovascular em adultos jovens de 18-30 anos de quatro cidades americanas. Ao todo, 844 mulheres preenchiam os critérios para permanecer no estudo. Foram excluídas mulheres com outras causas possíveis para esteatose hepática, como ingestão de álcool > 2 drinks/dia, HIV ou hepatite viral crônica, e uso de medicamentos associados à esteatose, como metotrexate, amiodarona, ácido valproico, diltiazem e esteroides.

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Foram levantados os dados sobre número de gestações e tempo de lactação, e separadas três categorias sobre duração da lactação: 0 – um mês, um a seis meses e > seis meses. A esteatose hepática foi avaliada por meio de TC, sendo considerada presente quando a densidade hepática era < 40 HU. Variáveis relacionadas aos fatores de risco para DHGNA que foram avaliadas foram dieta, grau de atividade física, escolaridade, história de diabetes gestacional, HOMA-IR, circunferência abdominal, IMC e DM2.

Das 844 mulheres incluídas, 48% eram negras e 52% brancas, com mediana de idade de 25 anos na inclusão. 32% informaram duração de lactação de 0 a 1 mês, 25% informaram de 1 a 6 meses e 43% informaram > 6 meses. 54 mulheres (6,4%) preenchiam critério de DHGNA pela tomografia, dentre as quais 43% haviam amamentado por menos de 1 mês, 30% por 1 a 6 meses, e 28% por mais de 6 meses. Na análise multivariada ajustada para IMC, raça e paridade, a duração da lactação > 6 meses versus 0 a 1 mês também foi associada a um menor risco de DHGNA para o primeiro grupo (aOR 0,46; 95% IC 0.22 —0.97; p = 0,04).

Por fim, o artigo conclui que os benefícios a longo prazo relacionados a um maior tempo de amamentação já são bem descritos, como menor risco de síndrome metabólica, de doença aterosclerótica, cardiovascular e DM2, mas que reconhecer a lactação também como um fator modificável protetor à DHGNA é de grande valia, uma vez que é uma doença de difícil tratamento, com poucos medicamentos disponíveis atualmente, com resultados modestos.

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Referências:

  • Ajmera, Veeral H. et al. Longer lactation duration is associated with decreased prevalence of non-alcoholic fatty liver disease in women. Journal of Hepatology , Volume 70 , Issue 1 , 126 – 132. DOI: 10.1016/j.jhep.2018.09.013

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