Anemia no paciente com câncer: transfusão, eritropoietina e reposição de ferro

Anemia é comum entre os pacientes oncológicos. Vários fatores contribuem para a anemia no contexto do câncer e podem estar relacionados ao câncer ou não.

Anemia é comum entre os pacientes oncológicos. Vários fatores contribuem para a anemia no contexto do câncer e podem estar relacionados ao câncer (ex.: perda sanguínea nos casos de tumores gastrointestinais, geniturinários e ginecológicos, hemólise nos casos de leucemia linfocítica crônica, infiltração medular, supressão da produção de eritropoeitina por ação de citocinas), ao tratamento (ex.: hemorragia no perioperatório, supressão medular por quimio ou radioterapia, nefrotoxicidade de agentes quimioterápicos) e/ou ao paciente (ex.: anorexia, má absorção).

bolsas de sangue destinadas a pacientes oncológicos com anemia

Anemia e câncer

A síndrome anêmica impacta negativamente a qualidade de vida nesta população, que já sofre com os sintomas causados pela doença de base. Muitos pacientes têm seus tratamentos postergados ou suspensos por conta da anemia, o que acaba influenciando os seus desfechos (resposta ao tratamento, progressão de doença e sobrevida).

As manifestações clínicas dependem da gravidade e da velocidade de instalação da anemia, bem como da idade e das comorbidades de cada indivíduo. Possíveis queixas incluem fadiga, dispneia aos esforços e/ou em repouso, palpitações e claudicação.

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O manejo da anemia depende do mecanismo fisiopatogênico envolvido. Na maioria das vezes, a condição é multifatorial (ex.: deficiência nutricional, perda sanguínea, mielotoxicidade, nefrotoxicidade), o que torna seu tratamento mais complexo.

Transfusão de hemácias

Transfusão de hemácias deve ser considerada em pacientes com anemia grave e/ou sintomática. Pacientes com hemorragia no peri ou pós-operatório também podem necessitar de transfusão. Se, por um lado, a transfusão pode salvar vidas e melhorar a saúde dos indivíduos, por outro, pode levar a complicações agudas ou tardias, como qualquer outra intervenção terapêutica.

Por isso, a indicação do procedimento não deve ser baseada apenas nos valores de hemoglobina e hematócrito, mas também em achados clínicos, como velocidade de instalação da anemia, volemia e características do próprio indivíduo.

Eritropoietina

A eritropoietina pode permitir controle sustentado da anemia, com consequente melhora na qualidade de vida e redução da necessidade transfusional. A resposta não costuma ser rápida, levando, em geral, de quatro a seis semanas após início da terapia para que os resultados sejam observados. Importante ressaltar que seu uso associa-se a maior risco de eventos tromboembólicos nos pacientes oncológicos, principalmente naqueles com anemia leve (hemoglobina > 10 g/dL).

Além disso, alguns estudos alertam sobre o risco de estímulo do crescimento tumoral; muitos autores recomendam o uso de eritropoietina apenas no contexto de paliação.

Cerca de um terço dos pacientes anêmicos com câncer não responde ao uso isolado de eritropoietina. Há dados na literatura que mostram que a combinação com ferro parenteral melhora a resposta hematológica e a qualidade de vida e reduz a necessidade transfusional e a dose da eritropoietina.

Reposição de ferro

A anemia ferropriva é a principal causa de anemia carencial no mundo e é bastante frequente nos indivíduos com câncer em tratamento quimioterápico. A reposição de ferro pode ser feita por via oral, mas alguns pacientes não toleram devido aos efeitos colaterais gastrointestinais, como gosto metálico, pirose, náuseas, flatulência e constipação.

Além disso, em algumas situações, como processos inflamatórios e sangramentos persistentes, doses maiores de ferro são necessárias para suprir as demandas, o que aumenta ainda mais o risco de efeitos adversos e, consequentemente, de má aderência ao tratamento.

A reposição parenteral é uma alternativa, que permite aumento mais rápido da hemoglobina e dos estoques de ferro, associada ou não à eritropoietina. As desvantagens do ferro parenteral em relação ao ferro oral são o custo e o risco de reações infusionais, sendo que reações anafiláticas graves são extremamente raras.

Referências bibliográficas:

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  • Auerbach, Michael, et al. “Intravenous iron optimizes the response to recombinant human erythropoietin in cancer patients with chemotherapy-related anemia: a multicenter, open-label, randomized trial.” Journal of Clinical Oncology 22.7 (2004): 1301-1307.

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