Anestesia local com paciente acordado e sem torniquete (walant): evidências atuais

As cirurgias com anestesia tipo WALANT são uma alternativa à anestesia local com torniquete com ou sem sedação ou anestesia geral.

As cirurgias com anestesia tipo WALANT (Wide-awake local anestesia no-tourniquet) são uma excelente alternativa às anestesias locais com torniquete com ou sem sedação ou anestesia geral para procedimentos no membro superior. Foi inicialmente utilizada em procedimentos pequenos de partes moles na mão como no tratamento de síndrome do túnel do carpo e dedo em gatilho, porém recentemente seu uso vem sendo expandido para procedimentos maiores como fraturas de radio ou metacarpos e spaghetti wrist.

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A técnica WALANT ganhou popularidade nos últimos 20 anos, quando o “mito da epinefrina” foi refutado. Durante muito tempo acreditou-se que o uso de epinefrina associada a lidocaína para anestesia local de extremidades como dedos, nariz ou pênis levaria a necrose. Trabalhos posteriores demonstraram que existiam fatores confundidores nos antigos estudos e provaram que o uso da epinefrina é seguro nas anestesias de extremidades.

Mesmo assim, ainda há resistência à técnica devido a inúmeros fatores. Os procedimentos podem ser realizados ambulatorialmente, o que corta a necessidade de trabalho de anestesistas e pessoal de centro cirúrgico. Isso leva a uma série de impactos nos modelos de custo e pagamentos pelos procedimentos. Além disso, fatores relacionados ao paciente também estão em questão como o possível desconforto de ficar acordado durante a cirurgia, o controle da dor no intra e pós-operatório e resultados funcionais.

Um artigo de revisão foi publicado esse mês na revista Journal of Hand Surgery Global Online com o objetivo de discutir as evidências atuais referentes a WALANT quanto à esterilização, redução da ansiedade do paciente, controle da dor e redução de custos.

Anestesia local com paciente acordado e sem torniquete (walant) evidências atuais

Esterilização

A esterilização tradicional de todo o membro superior para realização do procedimento não é necessária. É realizada a assepsia apenas no campo cirúrgico e o cirurgião calça apenas luvas estéreis e máscaras na maioria das vezes. Os estudos mais recentes demonstraram que essa sistematização não levou à taxa maior de infecção. Isso contribui para redução de custos e poupa parte de material estéril para procedimentos em que são indispensáveis.

Ansiedade ou conforto do paciente

Estudos recentes não demonstraram diferença no conforto ou ansiedade nos pacientes submetidos à WALANT. Se por um lado o fato de estar acordado pode levar a um efeito negativo, a eliminação do torniquete e a remoção do medo de perda de consciência, intubação ou anestesia geral podem levar ao efeito oposto e dar mais tranquilidade aos pacientes.

Controle da dor

A utilização de opioides foi igual ou menor quando comparados à anestesia tradicional nos últimos estudos, assim como a percepção da dor.

Custo

Todos os trabalhos demonstraram menor custo em relação aos procedimentos convencionais. Em um deles calculou-se que os procedimentos com anestesia WALANT são 44 dólares mais baratos por minuto quando comparado aos tradicionais. Um outro definiu um dedo em gatilho operado pelo método convencional como 3.344,46 dólares mais caro que um gatilho realizado com WALANT.

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Complicaçōes

As complicações relacionadas ao procedimento incluem síncopes vaso-vagais durante a injeção do anestésico e isquemia digital (sem perda do dedo quando realizada reversão com fentolamina). Contrastam com as complicações associadas ao uso de manguito (praxia nervosa) ou anestesia geral (náuseas, cefaleia).

Satisfação do paciente

Nos estudos em que técnicas diferentes foram utilizadas para operar cada mão, a maioria dos pacientes relatou que preferiria repetir o WALANT se pudesse escolher.

Contraindicações:

  • Alergia à lidocaína;
  • Pacientes ansiosos ou pouco cooperativos ou fobia de agulha;
  • Infecção ativa;
  • Discrasias sanguíneas;
  • Anemia falciforme, vasculites, esclerodermia.

Nossa realidade

A técnica WALANT (Wide-awake local anestesia no-tourniquet) é utilizada com maior frequência por cirurgiões americanos ou canadenses em relação a nós brasileiros. Está um pouco longe da realidade da maioria dos cirurgiões de mão brasileiros realizar os procedimentos ambulatorialmente. Por isso vem sendo feito em ambiente de centro cirúrgico.

O entendimento e tranquilidade do paciente quanto ao procedimento também é crucial no WALANT e, talvez pela característica cultural da nossa população, a difusão da técnica seja mais difícil. Há também certo receio quanto a “dispensar” o anestesista pela chance de complicações, que, embora baixa, quando grave pode ser melhor manejada por esse profissional.

A técnica tem inúmeros pontos positivos e apresenta grande redução de custos. Pelas dificuldades já comentadas, o que vemos por aqui hoje é uma tentativa de adaptar essa sistematização à nossa realidade.

Referências bibliográficas:

  • Connors K, Guerra S, Koehler S. Current Evidence Involving WALANT Surgery. Journal of Hand Surgery Global Online. 2002. DOI: 10.1016/j.jhsg.2022.01.009.

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