Antibióticos no Fim de Vida: fatos e um convite à reflexão

O uso de antibióticos em pacientes no fim da vida traz discussões éticas na deliberação de um plano de cuidados proporcional e personalizado ao paciente. 

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É fundamental discutir o uso de antibióticos diante do cenário de resistência antimicrobiana. Que, segundo a Organização Mundial de Saúde, configura como uma das maiores ameaças à saúde global, segurança alimentar e desenvolvimento.

Em Cuidado Paliativo, o uso de antibióticos em pacientes em fase final de vida traz discussões éticas como toda decisão na deliberação de um plano de cuidados proporcional e personalizado ao paciente. 

Nesse sentido, trago o artigo de revisão Antimicrobial therapy in palliative care: an overview” publicado em maio de 2018 no “Supportive Care in Cancer” e alguns de seus fatos para suscitar discussões necessárias nessa temática:

  • Para nós médicos parece ser mais fácil suspender medidas como hemodiálise, ventilação mecânica e nutrição via sonda enteral que deixar de prescrever ou suspender o uso de antibióticos em pacientes em fase final de vida.
  • A frequência de infecções em pacientes oncológicos (não-neutropênicos) em unidades de Cuidados Paliativos gira em torno de 50%.
  • Na última semana de vida, apenas 10% dos pacientes oncológicos em hospitais não estão em uso de terapia antimicrobiana.
  • Pacientes falecidos em cuidados paliativos 27% receberam, pelo menos, um antibiótico na última semana de vida, e 1,3% três ou mais antibióticos. No grupo de pacientes em antibioticoterapia, apenas 15% tinham uma infecção diagnosticada.
  • Para pacientes e seus familiares, a antibioticoterapia é mais aceita que ressuscitação cardiopulmonar ou ventilação mecânica. Para médicos é preferível suspender hemoderivados à antibioticoterapia e a antibioticoterapia ao uso de fluidos intravenosos ou ventilação mecânica.
  • Analgésicos narcóticos são menos prescritos que antibióticos em instituições de cuidados crônicos, 14% contra 53%.
  • Infecções pulmonares e urinárias são as mais comuns. A antibioticoterapia parece aliviar sintomas em pacientes com infecções do trato urinário, enquanto para outras como pulmonar, pele e sangue é mais difícil.
  • O diagnóstico de infecção em pacientes oncológicos em fase final de vida pode ser um desafio, uma vez que as manifestações comumente observadas podem estar influenciadas por uso de medicamentos, ou pela própria doença de base. Ex.: uso regular de paracetamol, dipirona e AINEs podem reduzir a resposta febril; corticoides podem provocar leucocitose, a febre se presente pode ser de origem tumoral.
  • Não há evidência científica que o uso de antibióticos aumente a chance de cura ou que sua não prescrição provoque a morte. Por isso, não se enquadra como tratamento sustentador da vida como a ventilação mecânica.
  • A tomada de decisão quanto ao início da antibioticoterapia deve ser deliberativa baseando-se na fase de doença em que o paciente se encontra, sua funcionalidade, desejos e valores do paciente e sua família, pesar os riscos e benefícios no controle do sintoma. Na dúvida, é razoável realizar um teste terapêutico. Se a despeito da terapia antibiótica o paciente piorar o quadro clínico suspende-se entendendo como progressão de doença.

Café Paliativo – “A Bioética do uso de antibióticos em fim de vida”

Aproveito para fazer um convite aos interessados pela temática a participar do Café Paliativo nessa quinta-feira, dia 8 de agosto de 2019, às 19h no Auditório do Centro de Convenções do IAMSPE (Avenida Ibirapuera 1215- São Paulo- SP) para palestra: “A Bioética do uso de antibióticos em fim de vida” com Dr. Paulo Reis Pina. Evento gratuito, sem necessidade de inscrição. Destinado a profissionais de saúde que trabalhem na área ou que tenham interesse.

 

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