Anticolinérgicos estão associados a maior risco de demência?

Anticolinérgicos são medicamentos muito utilizados na prática cotidiana. Na literatura, a classe já foi associada ao aumento do risco de demência.

Anticolinérgicos são medicamentos muito utilizados na prática de prescrição cotidiana. Certamente você já prescreveu algum medicamento dessa classe, e é possível que utilize algum de maneira rotineira em sua área de atuação.

Na literatura, a classe já foi associada à possibilidade de aumentar o risco de início dos quadros de demência. Neste ano, pesquisadores da universidade de Nottingham publicaram no Journal of the American Medical Association (JAMA) os resultados de sua investigação acerca do tema.

Os pesquisadores queriam avaliar se a utilização de anticolinérgicos de qualquer classe estava associada à maior chance de desenvolvimento de demências. Dessa forma, realizaram um estudo caso-controle, pareando para cada caso de demência cinco controles sem a condição.

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medicamentos variados, incluindo anticolinérgicos

Anticolinérgicos e demência

A equipe avaliou os registros de prontuários nos cenários de atenção primária de 58769 pacientes com diagnóstico de demência (média de idade 82 anos e 63% do sexo feminino) em seguimento com médicos de família pareados com 225574 pacientes sem esse diagnóstico entre os anos de 2004 e 2016. Foram incluídos pacientes com 55 anos ou mais.

Na avaliação dos registros, os pesquisadores observaram quais pacientes entre os que desenvolveram quadros demenciais haviam utilizado medicações anticolinérgicas. Avaliaram ainda o tempo de exposição ao fármaco bem como o tempo de contato com a droga e o intervalo de início de sintomas.

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Resultados

Os resultados do estudo indicam que o risco de desenvolvimento de demência em pacientes acima de 55 anos com uso continuado de anticolinérgicos por pelo menos três anos foi 50% maior do que o de seus controles. O risco esteve associado especificamente a anticolinérgicos, antidepressivos, antipsicóticos, antiparkinsonianos, para controle vesical e antiepiléticos. Outros fármacos anticolinérgicos não apresentaram incrementos no risco de desenvolvimento de demências.

O intervalo temporal analisado de 1 a 11 anos anteriores ao início do quadro demencial evidenciou outros fatores importantes. Aproximadamente 57% dos casos frente 51% dos controles utilizaram pelo menos uma droga anticolinérgica forte com média de seis prescrições para casos a cada quatro controles. As drogas anticolinérgicas mais comumente prescritas foram antidepressivos, anti-vertiginosos e antimuscarínicos para controle vesical.

O estudo deve ser compreendido no âmbito de suas limitações. O desenho de caso-controle não permite conclusões de vínculo causal entre a causa, prescrição de anticolinérgicos, e o efeito, início de quadros demenciais. Contudo, levanta hipóteses a serem testadas em estudos de coorte e ensaios clínios placebo-controlados.

O que isso muda na prática?

Se observarmos o nexo entre causa e efeito observados como certeza de causalidade o número de casos de demência causados por anticolinérgicos seria em torno de 10% dos diagnósticos anuais de demência. No Reino Unido, onde o estudo foi executado, isso representa algo perto de 20000 casos anualmente, frente aos 209600 casos de demência diagnosticados anualmente lá.

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Esse seria um fator causal modificável de grandeza relevante, comparável aos outros fatores de risco associados à demência, como 5% para hipertensão, 3% para diabetes, 14% para tabagismo tardio e 6,5% para sedentarismo.

Portanto observar o risco benefício do uso de anticolinérgicos para cada caso pode ser determinante nos desfechos duros de longo prazo. Ou seja, pesar essa prescrição é maneira ativa de se evitar agravos previníveis.

Para compreender o manejo de situações complexos e formas de desprescrição você encontra aqui no portal algumas dicas e para avaliar outras opções viáveis para cada quadro a ser tratado ou alternativas às drogas anticolinérgicas você pode contar com o Whitebook.

Referência bibliográfica:

  • Coupland CAC, Hill T, Dening T, Morriss R, Moore M, Hippisley-Cox J. Anticholinergic Drug Exposure and the Risk of Dementia: A Nested Case-Control Study. JAMA Intern Med. 2019;179(8):1084–1093. doi: https://doi.org/10.1001/jamainternmed.2019.0677

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