Anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 podem estar presentes no leite humano até 6 meses após a vacinação

Estudo sugere que anticorpos específicos para SARS-CoV-2 podem estar disponíveis no leite materno por até 6 meses.

Os resultados de um estudo publicado recentemente no jornal Pediatrics sugerem que anticorpos específicos para SARS-CoV-2 podem estar disponíveis no leite humano para bebês amamentados no seio materno por até 6 meses. Além disso, a pesquisa mostrou que o leite de doadoras vacinadas retém IgG e a atividade neutralizante.

Dados anteriores da literatura mostram que a vacinação materna com vacina RNA mensageiro (mRNA) contra a Covid-19 estimula a presença de anticorpos contra o vírus SARS-CoV-2 no leite humano por até 6 semanas depois da vacinação, mas pouco se sabe sobre a duração da capacidade de neutralização de anticorpos e sua persistência após a pasteurização. Com base nessas informações, o objetivo dos pesquisadores foi avaliar a atividade de neutralização, o efeito da pasteurização e a persistência de anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2 até 6 meses posteriores à vacinação.

Ouça também: Check-up Semanal: anticorpos da vacina de Covid-19 na gestação, síndrome do impostor e mais! [podcast]

humano até 6 meses após a vacinação

Metodologia

Foi realizado um estudo longitudinal prospectivo nos Estados Unidos, envolvendo gestantes ou lactantes que planejavam receber a vacinação contra Covid-19. Essas mulheres foram recrutadas por meio de panfletos postados e boca a boca. Na inscrição, as participantes preencheram um questionário para coletar informações demográficas, condições preexistentes e histórico de Covid-19 prévia. O status anterior de Covid-19 foi confirmado pela análise de soro e leite pré-vacinação quanto à presença de IgG específica para SARS-CoV-2 em todos os participantes. Data, marca das e efeitos adversos das vacinas foram verificados após cada dose.

Os anticorpos e a capacidade de neutralização do SARS-CoV-2 foram analisados usando um ensaio imunoenzimático comparado à pré-vacinação e 1, 3 e 6 meses após a vacinação e por meio da pasteurização de Holder. Amostras pareadas de sangue e leite humano de lactantes foram coletadas na linha de base (pré-vacinação) e em 1, 3 e 6 meses após a primeira dose da vacina contra a Covid-19. O leite humano foi coletado em cada visita até que a participante parasse de amamentar.

Os anticorpos séricos IgG e IgA específicos para o epítopo do domínio de ligação ao receptor SARS-CoV-2 dentro da proteína spike foram medidos através de ELISA. Já os anticorpos IgM, IgG e IgA do leite humano foram analisados por meio de ELISA modificado.

Resultados

Entre dezembro de 2020 e agosto de 2021, foram incluídas 30 gestantes ou lactantes, com idade média de 34,9 anos. Das 27 participantes incluídas na análise longitudinal, 25 (92,6%) receberam a vacina BNT162b2 (Pfizer) e 2 (7,4%) receberam a vacina mRNA-1273 (Moderna). Todas receberam ambas as doses da vacina de mRNA para completar a série primária. Os efeitos adversos locais e sistêmicos após a primeira e a segunda dose da vacina foram semelhantes aos relatados em ensaios clínicos. Não foram descritos efeitos adversos graves.

Os níveis de IgG específicos para SARS-CoV-2 no leite humano atingiram o pico 1 mês após a vacinação e persistiram acima dos níveis pré-vacinação por, pelo menos, 6 meses (P = 0,005). A IgA específica para SARS-CoV-2 foi detectada em 1 e 3 meses (ambos P < 0,001), mas diminuiu em 6 meses em comparação com a linha de base (P = 0,07). IgG e IgA específicos para SARS-CoV-2 no leite humano correlacionaram-se com IgG sérico no mesmo momento (R2 =0,37, P < 0,001 e R2 = 0,19, P < 0,001).

Saiba mais: Hospitais de Belo Horizonte recrutam voluntários para estudar anticorpos contra a Covid-19

A atividade de neutralização foi observada em 83,3%, 70,4% e 25% das amostras de leite em 1, 3 e 6 meses após a vacinação. A neutralização foi mais fortemente correlacionada com IgG específica para SARS-CoV-2 (R2 = 0,57, P < 0,001).

Amostras de pré e pós-pasteurização mostraram IgG semelhante (0,84 vs 1,07, P= 0,36) e atividade neutralizante (57,7% vs 58,7% de inibição, P = 0,27), mas menores níveis de IgM e IgA pós-pasteurização (0,09 vs 0,06, P = 0,004 e 0,21 vs 0,18, P = 0,043).

Conclusão

Esse estudo mostrou que os anticorpos específicos para SARS-CoV-2, especialmente o subtipo IgG, no leite humano induzido pela vacinação com mRNA contra a Covid-19 persistem por, pelo menos, 6 meses e a neutralização persiste por, pelo menos, 3 meses. No entanto, a pasteurização do leite humano não afeta os níveis de IgG ou a atividade de neutralização. Portanto, os pesquisadores reforçam as evidências de recomendações de amamentação após a vacinação das mães. Esses dados, inclusive, ajudam a informar as políticas de bancos de leite sobre doações de leite de mulheres vacinadas, porque os anticorpos fornecidos pelo leite podem oferecer proteção às crianças alimentadas com leite humano contra a infecção por SARS-CoV-2. Em suma: essa pesquisa mostrou que a vacinação induziu uma forte resposta de anticorpos específicos para SARS-CoV-2 no leite humano e se correlacionou com a atividade neutralizante que não é significativamente reduzida com métodos de pasteurização.

Comentário

Mais uma vez, o leite materno confirma seu fabuloso e poderoso papel de melhor alimento para o bebê.

Referências bibliográficas:

  • E Perez S, Luna Centeno LD, Cheng WA, et al. Human Milk SARS-CoV-2 Antibodies up to 6 Months After Vaccination [published online ahead of print, 2022 Jan 3]. Pediatrics. 2022;e2021054260. doi:10.1542/peds.2021-054260.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.