Anticorpos contra SARS-Cov-2 após infecção: proteção por muito tempo?

Um estudo norte-americano teve como objetivo avaliar a duração de anticorpos após a primeira infecção do coronavírus. Saiba mais.

Os plasmócitos são células essenciais para o sistema imunológico, sendo responsáveis pela produção de anticorpos. Num processo infeccioso, ocorre estímulo à produção de anticorpos específicos. Em alguns casos, isso é suficiente para que o indivíduo permaneça imune a outro episódio infeccioso causado pelo mesmo agente. Por outro lado, observa-se queda progressiva dos níveis séricos de anticorpos contra determinados agentes, o que torna a reinfecção possível.

Diante da pandemia de Covid-19, diversos aspectos vêm sendo estudados na tentativa de conhecer melhor a doença e, dessa forma, reduzir o número e a gravidade dos indivíduos infectados. Há casos relatados na literatura de reinfecção, por vezes, até mesmo após a vacinação. O intervalo entre a primeira infecção e a reinfecção pelo novo coronavírus varia entre as populações estudadas, porém acredita-se que a imunidade adquirida seja curta.

Algumas publicações evidenciam declínio nos títulos de anticorpos contra o coronavírus, o que corrobora a hipótese de imunidade transitória. Recente estudo norte-americano teve como objetivo avaliar a duração de tais anticorpos após a primeira infecção, correlacionando com o número de plasmócitos na medula óssea. Para isso, foram coletadas amostras de sangue de 77 voluntários que tinham sido infectados há aproximadamente um mês e posteriormente a cada três meses em média, totalizando quatro coletas.

Anticorpos contra SARS-Cov-2 após infecção: proteção por muito tempo?

Características do estudo

Apenas 7,8% dos indivíduos tinham necessitado de internação hospitalar, ou seja, a maioria dos casos correspondia à infecção leve. A mediana de idade dos participantes era de 49 anos, sendo 49% do sexo feminino e 51% do sexo masculino. Doze pacientes receberam vacina contra a Covid-19 entre a penúltima e a última coleta de sangue, e tais amostras foram excluídas da análise, a fim de evitar interferências da vacinação nos títulos de anticorpos.

Além das amostras de sangue periférico, 19 participantes foram submetidos à aspirado de medula óssea sete a oito meses após a infecção. Novo estudo medular foi realizado em cinco indivíduos (desses dezoito) cerca de onze meses depois do diagnóstico de Covid-19. A medula óssea de onze voluntários saudáveis, sem histórico de Covid-19 ou vacinação, também foi estudada para comparação.

Anticorpos foram detectados em 74 das 77 amostras coletadas um mês após a Covid-19. Entre o primeiro e o quarto meses após o início da sintomatologia, os níveis de anticorpos caíram, numa média de 6,3 para 5,7. Depois desse período (entre o quarto e o décimo primeiro meses após o início dos sintomas), a taxa de redução foi menor, com média de 5,7 para 5,3.

Plasmócitos e anticorpos

A diferença na taxa de queda dos títulos de anticorpos, com um período de redução relativamente mais rápida seguido por um período de clearance lento, é compatível com as mudanças na secreção dos anticorpos: inicialmente por plasmoblastos com meia-vida curta, passando para uma população menor, porém com maior meia-vida, de plasmócitos.

A fim de investigar se os pacientes desenvolvem uma população plasmócitos especificamente contra o novo coronavírus, os autores estudaram o compartimento medular de voluntários, aproximadamente sete e onze meses após a infecção. Foram quantificados os plasmócitos secretores de IgG e IgA contra o SARS-CoV-2. Plasmócitos com IgG e IgA foram observados em, respectivamente, quinze e nove indivíduos previamente infectados e em nenhum participante do grupo controle. Após quatro meses, os cinco pacientes submetidos ao segundo exame de medula óssea mantinham a contagem de plasmócitos secretados de IgG estável. Em relação ao aos plasmócitos secretores de IgA, o percentual permaneceu estável em quatro indivíduos e reduziu no caso restante.

Paralelamente, notou-se correlação entre a contagem plasmocitária na medula óssea e os níveis de anticorpos no plasma de sete a oito meses após o processo infeccioso.

Resultados

Diante do exposto, os autores sugerem que infecção leve causada pelo coronavírus induz um aumento na sobrevida dos plasmócitos, gerando uma resposta imunológica que dura por alguns meses. Há dois estágios distintos: num primeiro momento, logo após a fase aguda, ocorre um “pico” de anticorpos secretados por plasmoblastos; posteriormente, seus índices caem lentamente, atingindo um nível basal, sustentado pela produção plasmocitária.

Leia também: Doação de sangue e a pandemia de Covid-19

Vale ressaltar que a população estudada teve um quadro leve de Covid-19, com adequada resposta imunológica e consequentemente rápida recuperação. Pode ser que infecções mais graves tenham impacto diferente nos plasmócitos, devido à desregulação da resposta imune humoral.

 

Referência bibliográfica:

  • Ellebedy, Ali, et al. “SARS-CoV-2 infection induces long-lived bone marrow plasma cells in humans.” (2020). doi: 10.21203/rs.3.rs-132821/v1

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