Apendicite aguda: devemos fazer antibiótico por curta ou longa duração?

A apendicite aguda é a condição abdominal inflamatória mais frequente nos diferentes serviços de emergência. O uso de antibiótico faz parte do tratamento.

A apendicite aguda é a condição abdominal inflamatória aguda mais frequente nos diferentes serviços de emergência. Por se tratar de uma condição infecciosa, o uso de antibiótico é um dos pilares do tratamento. Recentemente houve, na comunidade cirúrgica, uma grande discussão a respeito do tratamento não operatório da apendicite aguda que, apesar de existir respaldo científico, não é uma modalidade amplamente aceita pois há diversas controvérsias em sua utilização.

Outro ponto que sofreu mudanças ao longo dos últimos anos é o tempo de antibiótico após a apendicectomia. Nos casos sem complicações locais, raramente se faz necessário o uso de antibióticos após a cirurgia. Por outro lado, apendicites complicadas necessitam de complementação com antibioticoterapia após o procedimento. Definiu-se como apendicite complicada aquelas com gangrena, perfuração ou abcesso e o tempo de antibiótico era classicamente determinado de sete a 14 dias.

As diretrizes das sociedades americanas de Infecção Cirúrgica e da Sociedade de Doenças Infecciosas recomendam um curso de quatro a sete dias após apendicectomias com complicação. Diversos estudos corroboram esta conduta, demostrando que cursos mais curtos de antibiótico apresentam resultados semelhantes quando comparados a períodos mais longos. Além disto, um outro trabalho evidenciou que quando se faz um curso mais extenso de antibioticoterapia para infecções intra-abdominal está associado a maior mortalidade devido infecções subsequentes por germes mais resistentes.

mãos de cirurgiões em cirurgia de apendicite aguda

Antibioticoterapia na apendicite aguda

Um estudo recente procurou determinar se um curso mais curto de antibiótico realmente apresentava os mesmos resultados quando comparada com o tempo clássico de antibioticoterapia. Portanto, foram analisados os prontuários de todos os pacientes com diagnóstico de apendicite aguda de agosto de 2011 a dezembro de 2017, de uma instituição americana. Foram excluídos os pacientes com alguma imunossupressão ou gravidez.

Leia também: Apendicite em tempos de Covid-19: como proceder?

Além disto, só foram analisados os pacientes maiores de 18 anos. Todos os dados referentes a complicações infecciosas e a necessidade de readmissão hospitalar foram avaliados.

Resultados

De um total de 543 pacientes, 109 foram apendicites complicadas sendo que 58 antes da troca da prática para cursos mais curtos de antibiótico em 2015 e 51 pacientes após esta data. O tempo de antibiótico variou de dois a 14 dias sendo que uma média de 5,5 dias para o grupo pré 2015 e 4,1 dias pós 2015 (P=0,005). Houve uma significativa redução das readmissões hospitalares quando ocorreu a mudança da prática curta de antibióticos 16% vc 2 % (P <0,017).

Discussão

A prática de antibioticoterapia mais curta tem se mostrado tão eficaz quanto cursos clássicos e mais longos em diversas patologias, como, por exemplo, a pneumonia. Pacientes com infecção intra-abdominal tradicionalmente se utilizavam marcadores séricos como parâmetro e geralmente tratados com sete a dez dias de antibiótico complementar.

Veja mais: Apendicite aguda: como diagnosticar com poucos recursos?

O uso mais curto de antibiótico não se mostrou inferior ao classicamente adotado e inclusive com uma taxa inferior de readmissões, corroborando os achados de ensaios mais amplos sobre o tema. Infelizmente, a natureza retrospectiva do estudo não foi possível analisar as causas das readmissões e outros fatores além do antibiótico podem estar envolvidos.

Um segundo dado que pode ser extraído deste estudo é que os médicos da instituição mudaram a sua prática clínica a partir de 2015 e começaram a seguir os novos protocolos.

Considerações finais

A mudança da prática clínica no meio médico é complexa e sempre envolve algum grau de resistência, principalmente quando envolve procedimentos com baixas taxas de complicação. Infelizmente é comum casos de apendicites pacientes receberem complementação antibiótica desnecessária ou por períodos mais longos que deveriam.

É importante que o cirurgião julgue os seus achados cirúrgicos com as novas práticas correntes e aplique o que seja orientado tanto pelas sociedades como pelas comissões de infecção hospitalar.

 

Referências bibliográficas:

  • David A, et al. Perforated appendicitis: Short duration antibiotics are noninferior to traditional long duration antibiotics. Presented at the Academic Surgical Congress 2019. Surgery. Volume 167, Issue 2, February 2020, Pages 475-477.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.