Apendicite aguda não complicada: atualizações sobre tratamento 

Foi publicada uma revisão sumarizando a efetividade da cirurgia versus tratamento conservador na apendicite aguda não complicada.

O tratamento da apendicite aguda permanece sendo um tema amplamente debatido e mesmo a apendicectomia sendo ainda indicada como terapêutica para a maioria dos pacientes, estudos vêm apontando a abordagem conservadora como uma alternativa segura. Visando analisar as mais relevantes evidências sobre esse tema, foi publicada recentemente no New England Journal of Medicine uma revisão de importantes trials multicêntricos sumarizando a efetividade da cirurgia versus tratamento conservador na apendicite aguda não complicada.

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Apendicite aguda não complicada: atualizações sobre tratamento 

Metodologia do estudo

Foram avaliadas populações adultas, no The Finnish trial Appendicitis Acuta (APPAC) e no Comparison of the Outcomes of Antibiotic Drugs and Appendectomy (CODA), além de pediátricas, no estudo do Midwest Pediatric Surgery Consortium (MWPSC). Os pacientes potencialmente aptos ao tratamento conservador, realizado com sintomáticos e antibióticos com cobertura para gram negativos e anaeróbios, foram aqueles que apresentaram estabilidade hemodinâmica (sem sinais de sepse), além de diagnóstico de apendicite localizada sem peritonite, abscesso, perfuração ou tumor. Gestantes, imunocomprometidos, portadores de doença inflamatória intestinal também foram contraindicados para o tratamento conservador. Adicionalmente, a identificação de apendicolito, encontrado em 25% das imagens de pacientes com apendicite, foi critério de exclusão na maioria dos estudos (exceto no CODA trial) devido ao elevado risco de complicações como ruptura do apêndice e sepse em pacientes com esse achado. 

A resposta ao tratamento conservador foi satisfatória durante a hospitalização inicial em relevante proporção dos casos (94%, 86%, 92% e 78% no APPAC, MWPSC e CODA na ausência e presença de apendicolito, respectivamente), porém aproximadamente um quarto precisou ser submetido à apendicectomia em até 1 ano. Maior proporção foi observada no grupo com presença de apendicolito, em que 41% demandou apendicectomia, além de serem submetidos mais frequentemente a drenagens percutâneas (6% a mais) quando comparados aos submetidos à cirurgia. No segmento de 5 anos, em média 30 a 40% dos pacientes tratados inicialmente de forma conservadora demandaram apendicectomia, sendo a maioria realizada nos dois primeiros anos. 

As complicações ou eventos adversos reportados na abordagem conservadora versus cirurgia foram similares, sem evidência respaldando risco aumentado de perfuração no tratamento apenas com antibióticos. Já em pacientes com apendicolito, o risco de complicações foi maior na terapêutica conservadora (14%, comparado à 3% dos submetidos à apendicectomia no CODA trial). 

Outro fator avaliado foi o tempo para reabilitação, sendo aproximadamente o dobro na abordagem cirúrgica. Parâmetros mais subjetivos como qualidade de vida após tratamento também foram analisados, com resultados equivalentes em pacientes adultos, já em crianças observou-se superioridade dos escores de qualidade de vida na abordagem conservadora em 30 dias e similaridade dos resultados em 1 ano do tratamento. 

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Quanto ao tempo de hospitalização, embora tenha sido aceito liberar o paciente que preencha critérios para tratamento conservador com antibiótico via oral por 7 dias e solicitar retorno para reavaliação ou se sinais de alarme, o que reduz o tempo de internação hospitalar nessa abordagem, observou-se que hospitalizações recorrentes a longo prazo são mais comuns na terapêutica com uso isolado de antibióticos. Além disso, foi levantado o questionamento acerca do diagnóstico de neoplasia na apendicectomia, possível em até 1% dos casos, o que pode ser retardado com o tratamento conservador. Todavia, levando em consideração a raridade desta neoplasia, principalmente no perfil de paciente jovem e com apendicite não complicada, esse não deve ser um fator prioritário a ser considerado para indicar abordagem cirúrgica. 

Em resumo, a apendicectomia e a abordagem conservadora se mostraram opções de primeira linha no tratamento da apendicite aguda não complicada, na ausência de apendicolito. 

O que levar para casa 

Considerando a apendicite aguda como um dos diagnósticos mais recorrentes na emergência cirúrgica, cabe ao cirurgião estar ciente de todas as atuais opções seguras de tratamento. Compartilhar a decisão terapêutica com o paciente, desmistificando os potenciais riscos da abordagem conservadora e expondo claramente as desvantagens e benefícios de cada opção, também se torna crucial nesse processo, levando em consideração o potencial impacto dessa decisão na saúde e performance social e financeira do paciente. 

Referências bibliográficas:

  • Talan D, Di Saverio S. Treatment of Acute Uncomplicated Appendicitis. New England Journal of Medicine. 2021;385(12):1116-1123. doi: 10.1056/NEJMcp2107675

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