Apendicite sempre deve ser tratada com cirurgia?

Saiba mais sobre o estudo APPAC e seus resultado no tratamento apenas com antibióticos, sem cirurgia, para apendicite.

É fato que quando pensamos em apendicite, pensamos em apendicectomia. Afinal, por que manteríamos uma parte acessória de um órgão que não possui função especifica, e que eventualmente evolui com inflamação e infecção abdominal/pélvica?

Desde os primeiros estudos realizados por Fitz, em 1886, o entendimento que a apendicite deveria ter como abordagem final a apendicectomia ficou evidente para a maioria dos médicos. Entretanto, com o avanço das técnicas diagnósticas e o desenvolvimento antibióticos com cobertura para o espectro causador de complicações, uma nova tendência surgiu nos casos não complicados: tratamento sem abordagem cirúrgica.

cirurgiões realizando tratamento cirúrgico para apendicite

Antibioticoterapia para apendicite

Recentemente Salminen e colaboradores, publicaram no JAMA os resultados do estudo Antibiotic Therapy vs Appendectomy for Treatment of Uncomplicated Acute Appendicitis (APPAC). Trata-se de um estudo multicêntrico onde 530 participantes com apendicite aguda não complicada, diagnóstico confirmado por tomografia computadorizada, foram randomizados em tratamento por apendicectomia vs. antibiótico terapia exclusiva.

Foram excluídos pacientes com fecalitos, perfuração, abcessos ou outros achados tomográficos que sugerissem complicação do quadro. Também foram excluídas crianças e grávidas.

Do grupo submetido apenas ao uso de antibióticos (ertapenem por 3 dias, seguido por 7 dias de levofloxacino e metronidazol oral), 72,7% (IC: 95%; 66% – 78%) dos pacientes se recuperaram do quadro sem necessidade de apendicectomia. Apenas 27,3%(IC: 95%; 22% – 33%) precisaram ser submetidos a apendicectomia no primeiro ano por recorrência do quadro.

Leia também: Apendicite aguda: devemos fazer antibiótico por curta ou longa duração?

Além disso, foi observada uma menor taxa de complicações e um maior tempo de permanência hospitalar no grupo antibiótico. Apenas 8 pacientes foram retirados do grupo antibiótico por diagnóstico inadequado de complicação da apendicite.

Os autores esperavam que houvesse uma falha de 24% no grupo submetido a antibióticos. Porém, a taxa de 27% foi considerada positiva pelos os mesmos e pela comunidade médica em geral.

Conclusões

Ainda há necessidade de mais estudos neste tipo de abordagem. O APPAC demonstrou que pacientes com apendicite não complicada podem se beneficiar com terapia antibiótica exclusiva, porém, não houve superioridade sobre a apendicectomia que permanece como escolha principal para tratamento de qualquer apendicite.

Há mais de 100 anos o sucesso da apendicectomia no tratamento da apendicite é observado. Com a evolução da abordagem cirúrgica com a videolaparoscopia reduziu-se ainda mais os riscos do procedimento. A cirurgia de remoção do apêndice previne as complicações infecciosas abdominais e pélvicas, e impede a recorrência do quadro.

A possibilidade de escolha pelo uso exclusivo de terapia antibiótica permite ser aplicada a casos onde o paciente se recusa ser submetido a cirurgia ou existe algum risco maior relacionado. Em todos os outros a apendicectomia ainda permanece como melhor escolha.

Referências bibliográficas:

  • Antibiotic Therapy vs Appendectomy for Treatment of Uncomplicated Acute Appendicitis – The APPAC Randomized Clinical Trial Paulina Salminen, MD, et. Al. JAMA. 2015;313(23):2340-2348. doi:10.1001/jama.2015.6154.
  • Treating AppendicitisWithout Surgery – Edward Livingston, MD; Corrine Vons, MD, PhD – JAMA Editorial

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