Asma: produtos de limpeza podem aumentar o risco de desenvolver a doença em crianças?

Um estudo observou uma associação entre a exposição a produtos de limpeza doméstica no início da vida e o risco de sibilância e asma aos três anos de idade.

Um estudo canadense de coorte observou uma associação entre a exposição a produtos de limpeza doméstica no início da vida e o risco de sibilância e asma aos três anos de idade. O artigo Association of use of cleaning products with respiratory health in a Canadian birth cohort, de Parks e colaboradores, foi publicado no jornal da Canadian Medical Association Journal (CMAJ).

produtos de limpeza que podem estar relacionados à asma

Asma e produtos de limpeza

Os pesquisadores utilizaram dados do estudo em andamento Canadian Healthy Infant Longitudinal Development (CHILD) Cohort Study. O CHILD é uma avaliação prospectiva longitudinal de uma coorte de nascimentos, acompanhando a criança desde o período gestacional até a infância. Esse estudo envolve 3455 crianças recrutadas, em sua maioria, de centros urbanos de quatro províncias canadenses (Vancouver; Edmonton; Winnipeg, Morden e Winkler, Manitoba; e Toronto).

Questionários relativos a exposições ambientais, estresses psicossociais, nutrição e saúde geral foram preenchidos pelos pais durante o recrutamento, no segundo ou terceiro trimestre de gravidez, e quando seus filhos chegam aos 3, 6, 12, 18, 24, 30 e 36 meses de idade. Avaliações clínicas periódicas, testes cutâneos e amostragem biológica de crianças também são realizados. Essa coorte prospectiva longitudinal analisa se as crianças apresentam maiores chances de sibilância recorrente e sibilância recorrente com diagnóstico de atopia e asma, quando habitam casas com maior frequência de uso de produtos de limpeza.

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Park e colaboradores somaram as respostas dos questionários dos pais que indicaram o uso frequente de 26 produtos de limpeza doméstica nas casas de 2022 crianças dessa coorte de nascimentos quando tinham entre 3-4 meses de idade, para criar um escore cumulativo de frequência de uso (Frequency of Use Score – FUS). Foram aplicados modelos de regressão logística multivariável para avaliar se o uso frequente versus o uso menos frequente foi associado ao diagnóstico recorrente de sibilância, atopia ou asma, conforme definido pelo questionário e pelas avaliações clínicas aos três anos de idade. Os dados foram coletados entre 2008 e 2015.

Resultados

Os pesquisadores descreveram os seguintes resultados:

  • A maioria dos 2022 participantes incluídos era branca (n = 1313, 64,9%), não tinham exposição à fumaça do tabaco até 3 a 4 meses de idade (n = 1545, 76,4%) e não apresentava histórico parental de asma (n = 1308, 64,7%);
  • Os animais de estimação estavam presentes em 57% dos domicílios (n = 862);
  • Mofo visível foi observado em 41,9% dos domicílios (n = 847);
  • 51,8% das famílias tinham uma renda anual superior a US $ 100.000 (n = 1047);
  • Os produtos mais usados ​​eram: detergente para lavagem manual de louças, detergente de lava-louças, produtos de limpeza de várias superfícies, produtos de limpeza de vidro e detergentes de roupa;
  • Entre a população da amostra, 13,8% (n = 280) eram atópicos, 8,6% (n = 174) apresentaram sibilância recorrente, 6,4% (n = 129) receberam diagnóstico de asma e 2,1% (n = 42) apresentaram sibilância recorrente com atopia aos três anos de idade;
  • O FUS variou de 5 a 76 unidades, com uma pontuação média de 31 [intervalo interquartílico (IQR) 24-37] unidades;
  • O FUS tinha um 25º percentil de 24 unidades e um 75º percentil de 37 unidades;
  • Um aumento no IQR (interquartile range increase – IQRI) no FUS (13 unidades) foi associado a chances significativamente mais altas de sibilância recorrente [odds ratio ajustada (aOR) 1,35, intervalo de confiança de 95% (IC 95%) 1,11-1,64], sibilância recorrente com atopia (aOR 1,49, IC 95% 1,02-2,16) e diagnóstico de asma (aOR 1,37, IC 95% 1,09–1,70), mas não a chances de atopia (aOR 1,14, IC 95% 0,96-1,35);
  • A associação entre o IQRI e os resultados foi mais forte para meninas do que meninos para todos os resultados, mas os valores de “p” para interação não foram estatisticamente significativos.

Os pesquisadores concluíram que o uso frequente de produtos de limpeza doméstica no início da vida foi
associado a um risco aumentado de sibilância e asma na infância, mas não atopia aos três anos de idade. Os achados de Parks e colaboradores podem, portanto, auxiliar a compreensão de como as exposições precoces a produtos de limpeza podem estar associadas ao desenvolvimento de doenças alérgicas das vias aéreas e ajudar a identificar comportamentos domésticos como uma área potencial para intervenção.

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O que muda na prática?

Dessa forma, o ideal seria uma abordagem direcionada à prevenção do uso de produtos de limpeza e higiene onde crianças pequenas estão presentes. Os autores destacam que, na busca pela obtenção de um lar limpo e saudável (ou seja, baixo alérgeno, sem mofo e com boa qualidade do ar), é importante que os pais leiam os rótulos e sejam informados sobre os riscos associados ao uso dos produtos de limpeza.

Todavia, pesquisas adicionais são necessárias para se avaliar os benefícios de alternativas aos produtos de limpeza com spray e aerossol, o efeito desses produtos no microbioma e a identificação de métodos aprimorados de medição da exposição.

Referência bibliográfica:

  • PARKS, J. et al Association of use of cleaning products with respiratory health in a Canadian birth cohort. CMAJ, v.192, n.7, p.E154-61, 2020

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