Aspectos laboratoriais sobre o teste de avidez de IgG para toxoplasmose

A toxoplasmose é assintomática em grande parte da população, mas pode apresentar morbidades em grupos como gestantes, fetos e imunodeprimidos.

A toxoplasmose é uma doença parasitária de ampla distribuição mundial, com maior prevalência em países tropicais. Seu agente etiológico é o Toxoplasma gondii, protozoário intracelular de ciclo biológico de duplo hospedeiro.  

O gato (hospedeiro definitivo) abriga o ciclo reprodutivo, enquanto outros mamíferos (incluindo os humanos) e aves são considerados hospedeiros intermediários, nos quais ocorre o ciclo proliferativo. Sua transmissão se dá, principalmente, pela ingestão de alimentos contaminados por fezes de gatos contendo ooscistos, ou através de cistos residuais em carnes malcozidas ou cruas. 

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Em indivíduos imunocompetentes, sua infecção é, via de regra, de evolução benigna, com apresentações assintomáticas/oligossintomáticas. Entretanto, quando acomete certos grupos, como gestantes, fetos e imunodeprimidos, a toxoplasmose está associada a uma maior morbidade.

toxoplasmose

Teste de avidez de IgG 

É uma técnica que avalia e quantifica a capacidade da quebra de ligações dos anticorpos do tipo IgG a determinados antígenos, por meio de substâncias caotrópicas/reagentes dissociantes (exemplo: ureia 6M).  

Além da toxoplasmose, há testes comerciais de avidez para a avaliação de outras doenças, como rubéola e citomegalovírus. A metodologia imunoenzimática é usualmente empregada nessa técnica. 

Durante a evolução da produção de anticorpos (resposta humoral) do organismo frente a uma infecção, existe um estágio natural de maturação gradual dos anticorpos IgG ao longo do tempo. 

Quanto maior for o grau de maturação dos anticorpos IgG, maior é a intensidade (avidez) com que os mesmos se ligam a certos antígenos. Ou seja, quanto mais antiga for a infecção, maior será a avidez dos anticorpos IgG, indicando uma infecção pregressa. 

Por outro lado, quando a infecção é mais recente, os anticorpos IgG ainda se encontram em um estágio inicial de maturação. Dessa forma, possuem uma menor afinidade de ligação, apontando que a infecção ocorreu mais recentemente. 

Casos suspeitos de toxoplasmose em gestantes que apresentem anticorpos IgM e IgG positivos, em uma amostra inicial no primeiro trimestre gestacional, exigem uma investigação adicional, já que se faz necessário averiguar o momento em que a infecção possa ter ocorrido. E é justamente nesses casos que a pesquisa da avidez de IgG pode auxiliar no raciocínio clínico-diagnóstico e na conduta a ser tomada. 

Interpretação clínico-laboratorial dos resultados

De acordo com a porcentagem da avidez de IgG apresentada no teste realizado no primeiro trimestre, podemos interpretar os resultados da seguinte forma:

  • Baixa/fraca avidez: inferior a 50% (indica que a infecção tenha ocorrido nas últimas 12-16 semanas, com possibilidade de infecção durante a gestação); 
  • Moderada/média avidez: de 50% a 59,9% (não permite ser determinado o período que ocorreu infecção, podendo ser repetido em 2 semanas para reavaliação); 
  • Alta/forte avidez: igual ou superior a 60% (indica que a infecção tenha ocorrido há mais de 12-16 semanas, adquirida antes da gestação).

Observações importantes:

  • A depender do laboratório clínico, referência, kit diagnóstico e metodologia utilizados, os pontos de corte e, por conseguinte, sua interpretação, podem apresentar variações; 
  • Uma avidez baixa não significa, necessariamente, uma certeza de infecção recente, já que alguns pacientes podem apresentar uma avidez fraca por um período maior de tempo; 
  • A presença de anticorpos IgG na amostra é condição indispensável para a adequada realização/desempenho do teste; 
  • Avidez de IgG realizada após a 16ª semana gestacional, geralmente, não confirma nem exclui doença aguda. Após esse período, uma alta avidez não descarta eventual infecção ocorrida durante o período gestacional; 
  • A interpretação dos resultados pode ser prejudicada em casos de reinfecções ou de tratamento antiparasitário anterior;
  • Em casos duvidosos, outros exames complementares devem ser realizados. 

Mensagem final

A infecção pelo toxoplasma, especialmente, mas não exclusivamente, em gestantes e fetos, pode levar a graves complicações. Dessa maneira, é de fundamental importância o rastreio sorológico para toxoplasmose na primeira consulta do pré-natal, a fim de verificar o status sorológico, o aconselhamento e o seguimento adequados. 

Nesse contexto, na hipótese de uma sorologia IgM e IgG positivas/reagentes, o teste de avidez de IgG é um dos testes diagnósticos que podem ser utilizados. Ele auxilia na determinação do período em que possa ter ocorrido a infecção e, consequentemente, servir de base para a decisão terapêutica apropriada, caso necessário.
 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Kanaan S. Laboratório com interpretações clínicas. 1a ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019. 
  • McPherson RA, Pincus MR. Henry's Clinical Diagnosis and Management by Laboratory Methods. 23rd ed. St. Louis: Elsevier, 2017. 
  •  Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de Notificação e Investigação: Toxoplasmose gestacional e congênita [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 
  • Toxotest IgG ELISA (+Avidity). Wiener lab. 867109022/01, 2000. Bula de fabricante. 
  •  VIDAS® TOXO IgG AVIDITY (TXGA). bioMérieux SA. 047529-03, 2020. Bula de fabricante.