Associação de hiperóxia arterial com desfechos em crianças criticamente doentes 

Embora a oxigenoterapia possa salvar vidas em muitas ocasiões, evidências sugerem que seu uso em excesso pode levar à hiperóxia arterial.

A administração de oxigênio suplementar é um tratamento fundamental em  Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) para prevenir e tratar a hipóxia celular. Embora a oxigenoterapia possa salvar vidas em muitas ocasiões, evidências sugerem que seu uso em excesso pode levar a níveis acima dos fisiológicos da pressão parcial de oxigênio arterial (PaO2), ou seja, hiperóxia, que está associada a resultados deletérios.  

Em estudos com pacientes adultos criticamente enfermos, a hiperóxia arterial está associada ao aumento da mortalidade, principalmente em níveis extremos de PaO2. A PaO2 utilizada com mais frequência para avaliar hiperoxia foi acima de 120mmHg e a normoxia foi definida como de 60 a 120 mmHg. 

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Em pacientes pediátricos, damos maior atenção à toxicidade do oxigênio em bebês prematuros. Esses apresentam uma alta vulnerabilidade para desenvolver doenças crônicas associadas à hiperóxia, como displasia broncopulmonar e retinopatia da prematuridade. 

Dessa forma, com o objetivo de descrever as definições de hiperóxia e avaliar a associação entre hiperóxia arterial e desfechos em crianças criticamente enfermas internadas em UTIP, pesquisadores conduziram uma revisão sistemática cujas fontes de dados foram estudos do EMBASE, MEDLINE, Cochrane Library e ClinicalTrials.gov de 1947 a fevereiro de 2021. 

Foram selecionados ensaios clínicos e estudos observacionais de pacientes internados em UTIP que apresentaram hiperóxia, por qualquer definição, e que descreveram, pelo menos, um desfecho de interesse. O desfecho primário foi a mortalidade em 28 dias. Os desfechos secundários incluíram tempo de internação, desfechos relacionados à ventilação mecânica, suporte orgânico extracorpóreo e desempenho funcional. 

Resultados

Nesta revisão sistemática, 16 estudos (27.555 pacientes) foram incluídos. Todos, exceto 1 ensaio clínico randomizado, foram estudos observacionais de coorte. As populações incluídas foram: pacientes em pós-parada cardíaca (n = 6), pacientes que sofreram traumatismo crânio-encefálico (n = 1), pacientes submetidos a oxigenação por membrana extracorpórea (n = 2) e pacientes sob cuidados intensivos gerais (n = 7). As definições e avaliação de hiperóxia diferiram entre os estudos incluídos. A PaO2 foi o parâmetro mais utilizado para definir a hiperóxia. No total, 11 estudos (23.204 pacientes) foram agrupados para meta-análise. 

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A hiperóxia, por qualquer definição, mostrou um odds ratio de 1,59 para mortalidade com heterogeneidade substancial entre os estudos.  Essa associação também foi encontrada em subconjuntos menos heterogêneos. Algum dano foi observado em limiares mais altos de oxigênio arterial quando agrupados por definição de hiperóxia. Os desfechos secundários foram inadequados para essa meta-análise. 

Conclusões

Esta revisão sistemática com meta-análise de estudos observacionais sugere uma associação entre hiperóxia e mortalidade em pacientes pediátricos criticamente enfermos, apesar das limitações metodológicas dos estudos incluídos como: os estudos incluídos na análise eram observacionais e a maioria retrospectivos, muitos estudos não corrigiram a gravidade da doença (pois sabemos que pacientes mais graves necessitam de mais oxigênio), amostragem pequena e o desfecho primário predefinido nessa publicação não foi relatado por nenhum estudo incluído. 

Esse estudo mostra que o oxigênio pode ser prejudicial acima de uma certa dose (a maioria relata uma associação entre hiperóxia e mortalidade foi observada com PaO2 acima de 200 mmHg) em crianças criticamente doentes e que deve ser fornecido com cautela. Pesquisas futuras devem examinar ainda mais as implicações dessa associação e suas complicações.  

Referências: bibliográficas: 

  • Lilien TA, Groeneveld NS, van Etten-Jamaludin F, et al. Association of Arterial Hyperoxia With Outcomes in Critically Ill Children: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Netw Open. 2022;5(1):e2142105. Published 2022 Jan 4. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.42105.

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