Associações entre H. pylori e inflamação gástrica com asma em pediatria

Estudo avaliou a relação entre a soroprevalência de H. pylori, como marcador de inflamação gástrica, com asma em crianças.

A asma é uma doença crônica de alta prevalência na infância em países desenvolvidos e também nos países em desenvolvimento.

Diversos fatores genéticos e ambientes estão envolvimentos na gênese da doença, porém um importante contribuinte para a asma é o desequilíbrio entre a resposta Th1 e Th2, que vem sendo sustentado pela hipótese da higiene. O que explicaria um aumento da prevalência da asma em países ocidentais, nos quais a melhoria da higiene resultou na diminuição de alguns estímulos ambientais responsáveis por desencadear a doença.

Diversos trabalhos prévios realizados em adultos tentaram correlacionar a soropositividade da Helicobacter pylori (H. pylori), bactéria gram-negativa que coloniza naturalmente a mucosa gástrica podendo ou não gerar sintomas, com asma. No entanto, as evidências são limitadas sobre infecção por H. pylori e asma em pediatria.

Criança em consulta para avaliar H. pylori e asma

Asma x H. pylori

Nesse contexto, um grupo de estudiosos de Israel avaliou a relação entre a soroprevalência de H. pylori de acordo com a soropositividade CagA e os pepsinogênios (PGs) séricos, como marcadores de inflamação gástrica, com asma em crianças.

Na tentativa de elucidar tal correlação, foi realizado um estudo caso-controle em 2016, com duração de dois anos, em crianças com idade que variava entre 4 e 17 anos anos, em Nazaré, Israel.

Os pacientes foram alocados em dois grandes grupos: grupo controle, que incluiu crianças sem asma ou qualquer outra doenças respiratórias que compareceram ao pronto-socorro ou que deram entrada no hospital naquele período; e grupo caso, composto por crianças recrutadas do ambulatório de pneumologia pediátrica do Hospital Saint Vincent de Paul-French, em Nazaré. O diagnóstico de asma foi feito de acordo com as diretrizes da Global Initiative for Asthma (GINA).

Saiba mais: Mortalidade por asma em crianças e adolescentes no Brasil

Resultados

As principais variáveis ​​independentes avaliadas nessas populações foram: soropositividade para H. pylori IgG e PGs séricos. Analisando os dois grupos, os resultados obtidos foram:

  • O índice de aglomeração familiar foi maior entre os casos do que entre os controles. A presença de alergias alimentares foi mais comum entre os casos do que nos controles (9% vs 2% P = 0,014), bem como hospitalizações anteriores por doenças respiratórias (57% vs 9%, P <0,001), como é esperado em crianças com quadros respiratório de base;
  • Já em relação à soropositividade de H. pylori, ela foi menos comum entre crianças com asma do que no grupo controle: 25% vs 40% (P = 0,03);
  • A proporção de crianças com soropositividade para H. pylori com uma relação PGI: PGII ≤6,78 (como uma indicação de inflamação gástrica mais grave) foi menor entre os casos do que entre os controles: 17% vs 23% (P = 0,021). Uma tendência semelhante foi encontrada através da avaliação dos níveis de PGII;
  • Foi evidenciada uma associação inversamente significativa entre a soropositividade de H. pylori , o fator virulento positivo de CagA e asma: OR ajustado, 0,30 (IC de 95%, 0,10-0,87), P = 0,026, mas não para a sorologia negativa para CagA (P = .2);
  • Outro modelo mostrou que crianças com soropositividade para H. pylori e razão PGI: PGII ≤6,78 tinham chance 71% menor de ter asma (P = 0,02) do que crianças com soronegatividade;
  • Entre as crianças asmáticas, a função pulmonar não diferiu significativamente entre aquelas com soropositividade e soronegatividade para H. pylori.

Discussão

Crianças infectadas com H. pylori e com gastrite crônica tinham maior IGP sérica e níveis de PGII, e uma razão PGI: PGII mais baixa do que crianças não infectadas. Isso apoia a suposição de que os achados do estudo refletem uma associação inversa entre gastrite ativa por H. pylori e asma.

A infecção por H. pylori induz vigorosas respostas imunes humorais e mediadas por células. A resposta de células T predominante induzida por H. pylori é a resposta mediada por Th1. O H. pylori também induz respostas Th2 e de células T regulatórias (Treg). A proteção contra asma atribuída à H. pylori pode ser explicada pelas respostas imunes induzidas pela infecção, principalmente Th1 e respostas Treg altamente supressivas, e expressão de IL ‐ 10 e TGF ‐ β.

A prevalência de infecção por H. pylori no estudo foi de 35% (42% CagA positivo). Isso está de acordo com os achados anteriores na população israelense.

Leia também: Asma: confira as novas recomendações da Sociedade Brasileira de Pneumologia

Conclusão

As descobertas do estudo fornecem novas evidências de que a infecção por H. pylori e sua inflamação gástrica relacionada podem ter um papel protetor no risco de asma pediátrica, porém são necessárias pesquisas adicionais sobre uma possível via causal para esse desfecho.

Referência bibliográfica:

  • Elias, N, Nasrallah, E, Khoury, C, et al. Associations of Helicobacter pylori seropositivity and gastric inflammation with pediatric asthma. Pediatric Pulmonology. 2020; 55: 2236– 2245. https://doi.org/10.1002/ppul.24905

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.