Atividade física protege sistema cardiovascular de crianças nascidas com menos de 2,5 kg?

A prática regular de atividades físicas durante a infância pode melhorar o funcionamento de células envolvidas na saúde dos vasos sanguíneos.

Crianças que nascem a termo com menos de 2,5 kg têm risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares na vida adulta. A boa notícia é que um estudo brasileiro, publicado em janeiro no Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases, aponta que a prática regular de atividades físicas durante a infância pode melhorar o funcionamento de células envolvidas na saúde dos vasos sanguíneos e reduzir esse risco.

menina criança fazendo atividade física de natação

Atividade física e sistema cardiovascular

A pesquisadora Maria do Carmo Pinho Franco, da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), e coordenadora do estudo contou em entrevista à Agência Fapesp que a pesquisa foi realizada com 35 crianças entre 6 e 11 anos de idade, divididas em dois grupos: nascidas com peso menor do que 2,5 kg e maior ou igual a 3 kg.

Todos os participantes foram submetidos a um programa de treinamento de dez semanas, incluindo sessões semanais de 45 minutos de atividades físicas lúdicas com intensidade de moderada a vigorosa. Parâmetros antropométricos e amostras de sangue dos participantes foram coletados antes e após a realização dos treinos.

Ao final da pesquisa os pesquisadores perceberam uma melhora significativa na circunferência da cintura e na resposta cardiorrespiratória de todas as crianças. Em quem nasceu abaixo do peso foi possível perceber também a melhora na pressão arterial, assim como nos níveis circulantes e na funcionalidade das células progenitoras endoteliais.

Os impactos positivos dos exercícios

Em um trabalho mais recente, o grupo da pesquisadora avaliou como a prática de atividade física afeta o funcionamento das células progenitoras endoteliais em crianças de 6 a 11 anos que frequentam um centro da juventude na cidade de São Paulo.

“Estudos anteriores demonstraram que a capacidade de deslocamento das células progenitoras endoteliais da medula óssea para a corrente sanguínea, assim como a sua capacidade de transformação em células endoteliais maduras, podem ser alteradas frente a diferentes estímulos. Dentro desse contexto, observamos que o exercício físico desempenha um papel importante e benéfico sobre a mobilização dessas células”, disse Maria do Carmo Pinho Franco.

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Os resultados mostraram que o efeito positivo do treinamento físico foi mais significativo no grupo de crianças com histórico de baixo peso ao nascer. Além de aumentar os níveis de células progenitoras no sangue, houve uma elevação nos níveis de óxido nítrico (NO) e do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF-A).

De acordo com a pesquisadora Maria do Carmo Pinho Franco, essas duas moléculas estão envolvidas nos processos de mobilização e recrutamento das células progenitoras endoteliais.

Como fazer a reprogramação vascular

Dados da literatura científica sugerem que o fenômeno da programação fetal esteja associado aos fatores epigenéticos (modificações bioquímicas que ocorrem nas células e alteram a forma como os genes são expressos) sem que para isso seja necessária uma alteração na sequência genética.

A equipe da pesquisadora acredita que a prática regular de atividade física na infância atue exatamente sobre esses mecanismos epigenéticos, revertendo o padrão prejudicial de expressão gênica induzido pela condição gestacional adversa.

Os resultados do estudo indicaram que simples atitudes podem ter um impacto decisivo na vida adulta de crianças que nascem abaixo do peso.

“Os pais precisam ser orientados para incentivarem os seus filhos para se exercitarem o quanto antes. Além disso, os pediatras dessas crianças devem acompanhá-las com mais atenção, realizando exames regulares de perfil lipídico, aferição de pressão arterial e outros marcadores cardiovasculares”, afirmou a coordenadora do estudo.

Participaram ainda do estudo Livia Victorino de Souza, Franciele de Meneck, Edilamar Menezes de Oliveira e Tiago Fernandes.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

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