Atributos da Atenção Primária: foco na família e orientação comunitária

Dentro dos atributos da Atenção Primária, três são considerados derivados dos essenciais. Falaremos de família e orientação comunitária.

Os quatro atributos essenciais da Atenção Primária à Saúde (APS) foram abordados em uma série de textos aqui no Portal PEBMED: acesso, longitudinalidade, integralidade e coordenação. Deles, segundo Bárbara Starfield, derivam mais três atributos – foco na família, orientação comunitária e competência cultural – que são igualmente importantes na prática do médico de família e comunidade.

Por isso, vamos dar continuidade à nossa série de textos sobre os fundamentos da APS falando sobre os dois primeiros atributos derivados, que denotam a importância da família e da comunidade na saúde dos pacientes.

médico segurando a mão de paciente seguindo os atributos da atenção primária, como orientação comunitária e foco na família

Atributos da Atenção Primária

Do ponto de vista macro, a partir do sistema de saúde como um todo, entende-se os atributos essenciais como mais importantes que os derivados, como o próprio nome sugere. Eles são necessários para a organização de uma APS que permita que o sistema funcione de maneira eficiente.

No entanto, além de também possuírem importância nesse sentido, os atributos derivados são ainda mais prementes quando analisado o contexto do atendimento do médico e da equipe nos encontros com os pacientes.

Foco na família

Ter foco na família significa reconhecer a importância da composição e das relações familiares no processo saúde-adoecimento do paciente, bem como utilizar sua a família como recurso terapêutico e de apoio para ele. Devem ser levados em consideração a estrutura, o contexto e a dinâmica familiar do paciente na sua abordagem. Isso possibilita um grande aumento na potência do cuidado nos encontros. Ao entender essas características, o médico de família direciona e adapta sua conduta de acordo com cada situação.

Uma família composta de uma avó matriarca viúva que cuida dos netos com mães adolescentes vai apresentar desafios diferentes de uma família com um casal jovem que aguarda a chegada do primeiro filho (estrutura).

Um casal de meia-idade que passa pela crise de uma síndrome do ninho vazio, pela saída recente dos filhos de casa, necessita de uma abordagem diferente de uma família composta de mãe, pai, avô e seis filhos, cuja renda é garantida quase inteiramente pelo pai que acabou de perder o emprego (contexto).

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Do mesmo modo, é preciso considerar as grandes diferenças no cuidado a uma família com relações caracterizadas por violência verbal e física e outra cuja comunicação flui de maneira aberta e encorajadora entre seus membros (dinâmica).

É válido lembrar que o médico de família acompanha os membros de uma família ao longo do tempo, possibilitando tanto um maior conhecimento sobre suas características, quanto aproveitá-los como fonte de informações e como recurso para apoiar o acompanhamento dos pacientes.

O entendimento sobre um problema de saúde se torna mais amplo com a contribuição dos pontos de vista dos diferentes membros da família, bem como amplia-se a possibilidade de pontos de apoio para o cuidado.

Orientação comunitária

Em um contexto mais ampliado, fica evidente também a contribuição do meio social e comunitário do paciente em sua saúde. O conhecimento dessas características é essencial para uma abordagem clínica eficaz. Daí a importância da adscrição territorial para a carteira de pacientes de médicos de família: saber as características de sua população influenciará positivamente em seu raciocínio clínico e em sua capacidade de atuar resolutivamente.

Em primeiro lugar, o conhecimento do contexto social da comunidade já contribui com muitas informações relevantes. Populações ribeirinhas vão necessitar de alguns cuidados diferentes de pessoas que vivem em um grande centro urbano; uma população rural não apresentará os mesmos problemas, de uma maneira geral, que pessoas que vivem em uma grande favela. O conhecimento dos fatores epidemiológicos e sociodemográficos de uma determinada comunidade pode fazer toda a diferença no sucesso de um tratamento.

Nesse sentido, é fundamental que o médico de família conheça as doenças mais prevalentes na população que atende, podendo fazer uso, inclusive, de ferramentas como o diagnóstico comunitário para tal. Locais com tuberculose endêmica exigem esforços diferentes de comunidades caracterizadas por uma população majoritariamente idosa, com grande prevalência de doenças crônico-degenerativas, por exemplo.

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Além disso, a orientação comunitária também significa conhecer os recursos que a comunidade apresenta. Associações de moradores, escolas, igrejas, áreas de lazer, entre outras, podem representar um grande apoio no tratamento e acompanhamento de pacientes. É importante, portanto, que a equipe de APS, incluindo o médico, construa laços e parcerias com esses recursos, de modo a ampliar o escopo terapêutico.

Nessa troca entre unidade de saúde e comunidade, é essencial também estimular a participação comunitária, através do envolvimento da população nas decisões sobre saúde, através, principalmente, dos colegiados gestores locais, que são conselhos de saúde no nível mais local de controle social.

Conhecer e se envolver com a comunidade possibilita ao médico de família melhores resultados de saúde em sua prática e maior satisfação – sua e dos pacientes que atende.

Confira a série completa:

Referências bibliográficas:

  • Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO; 2002.
  • Duncan, B .B. Schmidt, M. I.; Giuliani, E. R. J. Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. Cap. 4: Organização de Serviços de Atenção Primária à Saúde. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
  • Gusso G, Lopes JMC. Tratado de Medicina de Família e Comunidade – 2a edição. Cap. 4: Atenção primária à saúde. Editora Artmed, 2019.

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