Atuação da enfermagem frente à violência contra idosos

De acordo com a Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003), o idoso é “qualquer pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”.

Por definição, de acordo com a Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003), o idoso é “qualquer pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”. O envelhecimento é um processo natural e individual, no entanto, podemos dividi-lo em dois tipos: senescência que é o envelhecimento normal e senilidade definido como envelhecimento patológico.

É normal que com o passar dos anos haja uma perda de capacidade funcional, esse déficit é um dos principais fatores que predispõe à pessoa idosa ao abuso ou violências, desta maneira, o idoso torna-se em diferentes níveis um indivíduo vulnerável.

idoso com as mãos na cabeça, em cadeira de rodas; sofreu violência contra idosos

Violência contra idosos

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) prevê que em 2031 o número de idosos brasileiros será maior que o de crianças e adolescentes até 14 anos. Em 2018 o governo federal revelou que houve um aumento de 13% em relação a 2017 no número de denúncias sobre violência contra o idoso. Uma análise mais profunda dessas notificações demonstra que a maioria das agressões foi cometida no domicílio das vítimas (85,6%) e o agressor na maioria dos casos são os filhos (52,9%) e em segundo lugar netos (7,8%).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a violência conta a pessoa idosa expressa-se como um conjunto de ações ou omissões praticadas uma ou várias vezes que prejudica a integridade física, psicológica/emocional do idoso restringindo o seu papel social. Outros autores, consideram também como abuso ações que violem a integridade moral e financeira do idoso.

Por estarem cotidianamente presentes em diversos níveis de atenção à saúde, os profissionais de enfermagem são fundamentais na identificação e na prevenção de violações contra integridade do idoso. Portanto, devem estar aptos na identificação de sinais de violência e em intervenções de prevenção, monitoramento e cuidado a vítima de violência.

Leia também: Úlcera Terminal de Kennedy: principais intervenções de Enfermagem

Principais tipos de abuso:

  • Físico: é agressão com uso de força que causa danos físicos, psicológicos ou desconforto;
  • Sexual: uso de força ou intimidação para obter intimidade sexual sem o consentimento da vítima;
  • Psicológico: é o uso de palavras, gestos e atos que causem estresse psicológico e angústia. Aqui também está incluído a infantilização do idoso (tratá-lo como criança, muito comum entre profissionais da saúde);
  • Financeiro ou Econômico: são os abusos relacionados com uso inapropriados dos bens do idoso;
  • Negligência: é o ato de recusa ou omissão diante das necessidades do idoso (ex: alimentação, medicações);
  • Abandono: ausência ou deserção diante das necessidades do idoso. Pode ser governamental, institucional ou familiar.

Principais fatores de risco:

Vítima Agressor
Doença crônica Transtornos psiquiátricos
Baixa funcionalidade Abuso de álcool e drogas
Isolamento social Estresse
Déficit cognitivo Dependência (ex: financeira) do idoso que necessita de cuidado.

Como suspeitar e reconhecer a violência contra o idoso?

  • Alterações de comportamento;
  • Infantilização;
  • Vestuário inadequado e falta de higiene;
  • Alopecia traumática;
  • Sinais de desidratação;
  • Lesões, hematomas em vários estágios de cicatrização;
  • Vergões nas pernas ou no tronco;
  • Lesões por pressão (LPP);
  • Sangramentos (retal, vaginal);
  • Corrimento vaginal;
  • Doença sexualmente transmissível;
  • Lesões em punhos ou cotovelos que sugiram contenções;
  • Dores dispersas sem explicação;
  • Condições como fraturas, déficit de marcha sem explicação;
  • Ansiedade e depressão;
  • Ausência de cuidados;
  • Achados laboratoriais que não condizem com a narrativa durante a anamnese;
  • Narrativa vaga do cuidador principal em relação à lesões ou traumas;
  • Cuidador pouco receptivo durante visitas domiciliares ou em deixar o idoso somente com o profissional da saúde.

Principais intervenções:

  • Durante a anamnese: além da investigação habitual o enfermeiro deve estar atento em compreender a dinâmica familiar e/ou dos cuidadores.
  • Realizar avaliação para perfil cognitivo e funcional do idoso.
  • Excluir diagnósticos que justifiquem as manifestações clínicas.
  • Avaliar nível de dependência.
  • Questionar quem é o responsável pelo recebimento de aposentadoria e quem administra os gastos pessoais
  • Observar e questionar os responsáveis pela administração de medicações ou realização de cuidados necessários.
  • Observar relacionamento interpessoal do idoso com família, cuidadores e rede social.
  • Questionar se o idoso se sente prejudicado de alguma forma em relação a sua integridade física, psicológica, moral ou financeira. Atenção aos detalhes que indiquem abuso em idosos não comunicantes.
  • Inspeções as observações durante exame físico: comportamento do idoso em relação à família ou cuidador e para com o profissional da saúde.
  • Avaliar condições clínicas e de higiene; indicadores físicos de agressão; indicadores de violência sexual.
  • Investigar as narrativas que justifiquem possíveis lesões e traumas.
  • Documentar todos os dados inferidos durante a anamnese e exame físico e detalhes que importantes que justifiquem a suspeita de violência contra o idoso.
  • Saber avaliar necessidade de encaminhar o idoso para instituição de referência e afastá-lo do agressor (recomenda-se a discussão em equipe multiprofissional para esta decisão).
  • Ofertar apoio e emocional e promover encaminhamento para suporte psicológico.
  • Aprofundar vínculos: muitas vezes a vítima não compreende como abuso algumas situações, para isso é importante vínculo de confiança e apoio psicológico.
  • Elaborar protocolos institucionais e treinamentos para que a equipe de enfermagem reconheça sinais de abuso.
  • Identificar cuidadores e familiares em situações de estresse que possam interferir na maneira de prestar cuidados e encorajar descanso.
  • Educar quanto aos cuidados necessários: muitas vezes o agressor não está apto em realizar o cuidado, para isso, o profissional de enfermagem deve orientar e treiná-lo sempre que possível.
  • Trabalhar em equipe multiprofissional e com ações multidisciplinares para resolubilidade do caso, o apoio do serviço social é de extrema importância.
  • Manter continuidade dos cuidados (monitoramento) após intervenções.

Veja ainda: Choosing Wisely: práticas comuns que a enfermagem deve questionar

Por certo, que a enfermagem tem papel fundamental na preservação da integridade da pessoa idosa e na identificação de situações de violência, no entanto, é importante salientar que para a definição das melhores intervenções a equipe de enfermagem deve primeiramente compreender que existe todo um plano de fundo para que uma ação culmine em violência e isso inclui o ambiente, a situação econômica, a condição de saúde entre outros fatores.

Deve-se levar em consideração que o agressor também necessita de intervenções e cuidados que devem ser priorizados durante a elaboração de um plano de cuidados. Por último, existe um canal gratuito de denúncias o Disque 100 que pode ser utilizado por qualquer cidadão.

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Referências bibliográficas:

  • Oliveira KSM, Carvalho FPB, Oliveira LC et. al. Violência contra idosos: concepções dos profissionais de enfermagem acerca da detecção e prevenção. Rev Gaúcha Enferm. [Internet]; 2018; [citado em janeiro de 2020].
  • Brasil. Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso. 3 edição. Brasília- DF. [Internet]; 2013; [citado em janeiro de 2020].
  • Brasil. Nações Unidas. Fundo de População da ONU alerta para violência contra idosos no Brasil. [Internet]; 2018; [citado em janeiro de 2020].
  • São Paulo. Prefeitura de São Paulo. Vigilância em Saúde. Violência contra a pessoa idosa. [Internet]; 2018; [citado em janeiro de 2020].

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