Atuação do enfermeiro na saúde mental

Prevalece na sociedade a compreensão do discurso psiquiátrico no qual, se entende saúde mental como condição oposta à loucura.

Saúde mental um termo que se associa ao ideal de bem estar, mas que está além desse componente. A Organização mundial de saúde (OMS) trata o termo através de um caráter subjetivo fortemente influenciada pelo contexto social e cultural. Considerado um estado de bem-estar onde o próprio indivíduo compreende as próprias habilidades, conseguindo compreender os determinantes de adoecimento e as necessidades de autocuidado, sendo apto a contribuir com a sociedade. Essa construção do que seria saúde mental se faz em um conjunto de saberes. No entanto, prevalece na sociedade a compreensão do discurso psiquiátrico no qual se entende saúde mental como condição oposta à loucura.

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A falta de saber leva a sociedade à compreensão de que pessoas com diagnóstico de loucura não poderiam ter qualquer grau de saúde mental, qualidade de vida ou bem estar social, o que leva a sociedade a compreender saúde como ausência de doença. Esse paradigma foi quebrado na definição de saúde pela Organização Mundial de Saúde, mas ainda gera suas marcas em todos aqueles que possuem qualquer condição de sofrimento psíquico.

Na década de 1960 e 1970 o psiquiatra Italiano Franco Basaglia apresentou ao mundo novas formas de cuidar de pessoas com doenças mentais, chamados na época de alienados. Buscou um modelo onde a inclusão social, o respeito e a dignidade estariam mais evidente nas práticas de cuidado. Esse processo provocou o movimento de reforma psiquiátrica em todo mundo. Em especial no Brasil, as discussões sobre o que seria saúde mental entraram em pauta e influenciaram o movimento de reforma psiquiátrica brasileira.

Então, sabemos que temos dois paradigmas a ser quebrados, o conceito de doença e suas impossibilidades e o conceito de saúde e suas  possibilidades. Os profissionais de saúde frente as diversas facetas da loucura e do sofrimento psíquico, constituem sua formação historicamente para atuar no tratamento psiquiátrico. A área de atuação é uma das mais potentes, gerando emprego e renda para as pessoas que buscam trabalhar com pessoas com sofrimento psíquico ou doenças mentais de vários níveis. No entanto, o cuidado em saúde orientado para a saúde mental vai muito além disso. No primeiro, o foco é um paradigma biomédico, fazendo da loucura o objeto. No segundo, temos a complexidade humana em aspectos sociais, econômicos, culturais, ambientais e subjetivos do sujeito.

Os profissionais de saúde possuem um vasto campo de atuação na área de saúde mental e como já vimos, essas estão relacionadas com a saúde integrativa e numa proposta que desenvolve o cuidado na vida e em tudo o que ela pode proporcionar. Historicamente essa perspectiva foi suprimida pela perspectiva de cuidado biomédica e tecnicista voltado a psiquiatria. No entanto, estamos aqui para discutir novas possibilidades de atuação, sob esse novo olhar, que possui um amplo potencial de ações profissionais possíveis, nas diversas áreas de atuação dos profissionais de saúde. Respeitando ainda as diversas especialidades e o potencial do conhecimento inter e multiprofissional.

O trabalho no território e no ambiente

Uma das novas perspectivas de atuação profissional é o acompanhamento de pessoas em seus ambientes. Um novo caminho para aqueles que queiram trabalhar técnicas de cuidado na vida e não para a vida do usuário do serviço de saúde. os profissionais podem realizar um acompanhamento domiciliar, escolar, na perspectiva de inserção social e relacional ou afetivo. Os profissionais podem criar propostas de lazer e atividades cotidianas e até participar dessas atividades junto da pessoa. Lembro aqui que o número de doenças mentais leves ou sofrimento psíquico transitório é muito significativo na sociedade, o que faz com que ações de saúde mental pautas necessárias em um projeto terapêutico singular.

A busca de nichos específicos para traçar um plano de cuidados, objetivando a promoção da saúde mental, pode ser direcionada a questões específicas ou a fases da vida e até mesmo a condições situacionais. Por exemplo, jovens que entram na universidade possuem maior probabilidade de ter dificuldade de adaptação, necessitando de ajuda para o estabelecimento de saúde mental; pessoas que possuem cargas de trabalhos exaustiva, podem precisar de organização de serviço de saúde mental; Mulheres gestantes que passam por uma fase de dúvida e incerteza, podem necessitar de profissional capacitado para trabalhar questões relativas a saúde mental; esportistas como jogadores de futebol, podem necessitar de ajuda para a construção de uma vida com saúde mental, o que poderia aumentar seu desempenho.

As possibilidades são muitas quando falamos em trabalhar saúde mental das pessoas. Abre um área para especialistas utilizarem seu conhecimento associado ao conhecimento de saúde mental no cuidado de pessoas que possuem as mais diversas demandas. Para tal, se faz necessário buscar conhecimento técnico científico. E, para isso, se faz necessário conhecer profundamente os conteúdos que envolvem a psicologia, a sociologia, a gestão e a valorização da subjetividade pautado no conceito de integralidade. Ainda se faz necessário um estudo complexo sobre a vida da pessoa e as diversas vulnerabilidades, assim como as suas potencialidades. Estamos falando de profissionais que podem ajudar pessoas a enxergar o que não é tão obvio e para que esta, possa se encontrar, com suas emoções, dores, frustrações, medos, além de possibilitar que esta aumente sua potência de agir.

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Descarto aqui a possibilidade desse profissional produzir um mero serviço de Coaching, pois atualmente no Brasil, não é necessário que este profissional tenha formação universitária em saúde. Digo isso, pois para trabalhar com o a saúde humana é necessário formação e compreensão profunda do sofrimento psíquico, de saúde mental e de outras disciplinas relacionadas que fazem parte da construção formativa das graduações e pós-graduações no Brasil. Por tanto, a possibilidade de haver uma nova área de atuação profissional onde seja reconhecida o processo formativo para a melhoria de desempenhos na vida diária, para a produção de melhores condições de saúde e para o estabelecimento de saúde mental, depende de formação e capacitação adequada.

Mensagem final

Sendo assim, fica aqui um chamado para que novas perspectivas empreendedoras possam ser criadas a fim de promover na atuação do trabalho em saúde mental sejam realizadas. Cabe salientar que promover saúde é mais difícil e complexo que tratar a doença, pois trabalha com o metafísica e com as questões ainda não compreendidas pela pessoa, fazendo com que o profissional necessite de grande habilidade nas questões subjetivas do outro. Por isso, pode ser um excelente espaço para novas perspectivas profissionais.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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