Bacteriúria assintomática: tratamento antibiótico é eficaz?

Bacteriúria assintomática é uma condição frequente na prática clínica, tanto em pacientes internados em CTI, quanto em pacientes de enfermaria.

Bacteriúria assintomática, definida como a presença de bactérias na urina em contagem significativa, mas sem sintomas urinários, é uma condição frequente na prática clínica, tanto em pacientes internados em CTI, quanto em pacientes de enfermaria.

Apesar de raramente haver indicação, o tratamento de bacteriúria assintomática é comum. Entretanto, em pacientes ambulatoriais, o uso de antibióticos nesse contexto não está associado a melhores desfechos, exceto em gestantes ou pacientes que irão ser submetidos a procedimentos urológicos. Além disso, a administração inadequada de antimicrobianos pode resultar em eventos adversos, aumento na pressão de resistência bacteriana e infecção por Clostridium difficile.

Um estudo realizado em 46 hospitais de Michigan, nos EUA, incluindo hospitais de pequeno e grande porte, procurou avaliar fatores associados ao tratamento inadequado de bacteriúria assintomática e avaliar os desfechos clínicos associados. Foram analisados dados retrospectivos de pacientes que apresentaram urinocultura positiva durante o período de hospitalização. Foram excluídos pacientes com menos de 18 anos, gestantes, que apresentavam alterações anatômicas do trato urinário, dispositivos urinários ou que se submeteram a procedimento urológico durante a internação, que foram admitidos em UTI três dias antes ou depois da urinocultura positiva, os com perda de seguimento, imunossuprimidos ou que possuíam infecção concomitante.

Pacientes com urinocultura positiva e sem registro de sinais ou sintomas definidores de infecção do trato urinário (disúria, urgência urinária, dor suprapúbica, febre, dor costovertebral, hematúria ou disreflexia autonômica ou aumento de espasticidade em pacientes com lesão de medula vertebral) foram classificados como tendo bacteriúria assintomática. No caso de pacientes com alteração do nível de consciência, em que seria difícil avaliar a presença dos sintomas mencionados, considerou-se como bacteriúria assintomática os casos de urinocultura positiva sem registro de sinais sistêmicos sugestivos de infecção.

Dos 7252 pacientes com urinocultura positiva identificados, 2772 (38,2%) foram classificados como tendo bacteriúria assintomática. Destes, 2733 possuíam registros completos de tratamento, dos quais 82,7% receberam antibióticos por uma média de sete dias. A maioria foi tratada por pelo menos três dias. Ceftriaxone foi o antibiótico mais usado como tratamento empírico e fluoroquinolonas, os mais prescritos na alta. Em 1565 casos (57,3%) havia registro da indicação de urinocultura, sendo a presença de anormalidades em exames de urina (EAS) a mais comum. Como fatores associados à indicação de tratamento, os autores identificaram idade avançada, alteração aguda do estado de consciência, demência, incontinência urinária, bacteriúria por Escherichia coli, contagens mais altas de bactérias na urina e leucocitose.

bacteriúria assintomática

Tratar ou não tratar a bacteriúria assintomática?

Não houve diferença de mortalidade, número de readmissões, procura por serviços de emergência ou desenvolvimento de infecção por C. difficile entre os pacientes com bacteriúria assintomática que receberam antibióticos e os que não receberam. Entretanto, a média de dias de hospitalização foi 37% maior nos pacientes que receberam tratamento.

Os autores ressaltam que alterações em exames de urina ou uma urinocultura positiva não definem a presença de infecção do trato urinário e nem representam a necessidade de antibioticoterapia. Enquanto um exame de urina normal, especialmente sem piúria, fale contra a presença de infecção urinária, um exame alterado não é capaz de estabelecer esse diagnóstico, uma vez que apresenta baixo valor preditivo positivo.

Os resultados encontrados apoiam as recomendações dos últimos guidelines internacionais, que contraindicam o tratamento de bacteriúria assintomática na maior parte das situações. Além disso, sugerem possível malefício, uma vez que o tratamento esteve associado a mais dias de hospitalização.

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Recomendação de leitura:

  • Schulz L, Hoffman RJ, Pothof J, Fox B. Top Ten Myths Regarding the Diagnosis and Treatment of Urinary Tract Infections. J Emerg Med. 2016;51(1):25-30.

Referência bibliográfica:

  • Petty LA, et al. Risk Factors and Outcomes Associated With Treatment of Asymptomatic Bacteriuria in Hospitalized Patients. JAMA Internal Medicine. 2019

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