Biomarcadores para detecção precoce de disfunção orgânica

A identificação precoce de quadros de disfunção orgânica pode ajudar a sinalizar pacientes com maior mortalidade e risco de longa internação. 

A disfunção de múltiplos órgãos é um fator prognóstico independente para mortalidade na terapia intensiva. Está associada a maiores taxas de mortalidade, assim como maior tempo de permanência em UTI. A identificação precoce de quadros de disfunção orgânica pode ajudar a sinalizar pacientes com maior mortalidade e risco de longa internação. 

Quando mencionamos disfunção orgânica no paciente grave, o escore SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) é um dos mais utilizados para determinar severidade da doença, avaliação sequencial de disfunção orgânica e predição de mortalidade. Um outro escore derivado do SOFA, o qSOFA (quick SOFA), um composto de sinais clínicos de fácil aplicação em cenários de emergência, foi capaz de melhor predizer mortalidade intra hospitalar em pacientes com suspeita de infecção fora do ambiente da UTI. No entanto, o qSOFA não é superior ao SOFA quando olhamos para os pacientes de UTI.  

disfunção orgânica

Inflamação vs. Disfunção Orgânica 

A resposta imune exacerbada com produção aumentada de mediadores inflamatórios leva à síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), que é crucial para o desenvolvimento da disfunção de múltiplos órgãos. A interleucina-6 (IL-6) é uma das citocinas pró-inflamatórias de destaque nesse contexto. Seus níveis refletem a gravidade e desfecho de cenários sépticos, assim como permite diagnóstico precoce de SIRS.  

Sobre o estudo

Nesse contexto, o estudo “Risk prediction of biomarkers for early multiple organ dysfunction in critically ill patients”, publicado na BMC Emergency Medicine, em 08 de novembro, trouxe algumas hipóteses sobre o tema: a IL-6 é capaz de predizer de forma precoce a disfunção de múltiplos órgãos? A adição de biomarcadores ao qSOFA pode aumentar a sua acurácia na predição dessa condição? 

O estudo foi realizado com dados obtidos a partir dos departamentos de emergência de cinco hospitais universitários japoneses. Uma série de biomarcadores foram aferidos em três períodos a partir da inclusão no estudo (dias 0, 1 e 2). A população incluída, de forma consecutiva, foi de pacientes com SIRS, entre Setembro de 2016 a Setembro de 2018. Os critérios de inclusão foram: admissão na emergência ou UTI, idade ≥ 20 anos, hospitalização prevista ≥ 48 horas e diagnóstico de SIRS. Foram excluídos pacientes recebendo corticóides, drogas imunossupressoras, infecção por HIV, gestantes ou que tivessem recebido formulações que afetassem os níveis séricos de IL-6 dentro de uma semana antes da admissão.  

Resultados 

Um total de 161 pacientes foram incluídos para a análise final: 

  • 99 pacientes apresentaram disfunção de múltiplos órgãos (DMOS) no Dia 0; 
  • No dia 1, doze pacientes desenvolveram nova DMOS, totalizando 102 pacientes com a condição. 

Em relação aos pacientes que cursaram com DMOS, foi observado: 

  • Maiores valores de: qSOFA, SOFA, APACHE II, mortalidade;  
  • Um menor número de dias-livres de ventilação mecânica, da UTI e de terapia renal dialítica.  

Em relação aos biomarcadores: 

  • Leucócitos, proteína C-reativa e procalcitonina: apresentaram pico no D1; 
  • As interleucinas (IL-6, IL-8 e IL-10) apresentaram pico mais precoce, no D0; 
  • A IL-6 apresentou a melhor área sob a curva (AUC: 0,790. IC 95% 0,711-0,852); 
  • No grupo de pacientes com infecção, a procalcitonina apresentou a maior área sob a curva no D0.  

Sumarizando os resultados: 

  • A IL-6 no Dia 1 foi o biomarcador mais acurado para predição precoce de DMOS. Vale ressaltar que trata-se de um marcador que responde rapidamente ao estímulo inflamatório, com pico em 3 a 6 horas; 
  • Na população de pacientes infectados, a procalcitonina confirmou sua relação com prognóstico e progressão para disfunção de múltiplos órgãos; 
  • A adição da IL-6, IL-8 e procalcitonina ao qSOFA mostrou maior acurácica na predição de DMOS precoce; 
  • O estudo também evidenciou que pacientes com disfunção de múltiplos órgãos apresentaram pior prognóstico no dia 2, conforme já evidenciado na literatura. 

Limitações

Os autores reconhecem limitações como o pequeno tamanho amostral e variedade de doenças incluídas na amostra. Além disso, existe dificuldade na determinação do componente neurológico do qSOFA nos pacientes com declínio cognitivo prévio ao quadro infeccioso. 

Mensagens Práticas

  • O estudo atual mostrou que a adição ao qSOFA das dosagens de IL-6, IL-8 e procalcitonina apresentou maior acurácica na predição de DMOS precoce; 
  • A disfunção orgânica é um fator a ser buscado e rapidamente revertido em todo paciente grave. Geralmente, faz parte da sua apresentação clínica nos casos mais graves.  
  • A predição precoce da disfunção de múltiplos órgãos é interessante à medida que nos permite antecipar e intensificar medidas nesse sentido; 
  • No entanto, a utilização de alguns marcadores, como interleucina-6 e até mesmo a procalcitonina, nem sempre é factível por questões relacionadas à disponibilidade e custo. 

  

Referência bibliográfica:

  • Ishikawa, S., Teshima, Y., Otsubo, H. et al. Risk prediction of biomarkers for early multiple organ dysfunction in critically ill patients. BMC Emerg Med 21, 132 (2021). https://doi.org/10.1186/s12873-021-00534-z 

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