Biópsia nas Doenças Pulmonares Intersticiais: como estamos?

Nos últimos anos, a utilização de biópsia nas doenças pulmonares intersticiais tem sido cada vez menos frequente.

Nos últimos anos, com o aperfeiçoamento das técnicas de imagem e acurácia no diagnóstico com a reunião multidisciplinar (MDD), a utilização de biópsia nas doenças pulmonares intersticiais tem sido cada vez menos frequente. Entretanto, ter precisão no diagnóstico clínico pode mudar a conduta em até 20% dos casos e a avaliação histopatológica é um grande pilar nesse contexto.

Biópsia nas Doenças Pulmonares Intersticiais: como estamos

Uso crescente

Desde 2002, com a publicação dos principais documentos das sociedades americana e europeia, a utilização de biópsia pulmonar para diagnóstico das doenças intersticiais pulmonares vem sendo cada vez menos utilizada. Em doenças como a fibrose pulmonar idiopática (FPI), a imagem na tomografia de tórax com padrão de pneumonia intersticial usual tem valor preditivo positivo para diagnóstico de FPI após a reunião MDD de cerca de 95%, dispensando a realização de uma biópsia pulmonar cirúrgica, por exemplo. Durante esse período vários questionamentos contra a avaliação histopatológica surgiram, como possíveis erros de amostragem, sendo minimizados com a escolha adequada do local a ser biopsiado evitando áreas de pulmão terminal e realização de biópsias em mais de um local. Além disso, a concordância entre patologistas pode ser baixa, levando-se em consideração a pouca disponibilidade de profissionais experientes na área. Porém, mesmo com estratégias invasivas, o diagnóstico pode ser inconclusivo em até 10% dos casos devido a sobreposição de achados anatomopatológicos, ou seja, um mesmo padrão pode manifestar-se em diversas doenças como colagenoses, pneumonite de hipersensibilidade e doenças induzidas por drogas.

A Sociedade Fleischner, entidade responsável pela classificação radiológica das doenças pulmonares, classifica o padrão usual em quatro categorias: pneumonia intersticial usual típica (PIU típica), PIU provável, indeterminada e um padrão alternativo sugestivo de outro diagnóstico. Tanto o padrão PIU provável ou indeterminado são os mais favoráveis à realização de biópsia visto que possuem pouca confiança no diagnóstico após a reunião MDD. A depender da suspeita clínica de FPI sendo a causa desses padrões pode-se ou não indicar abordagem invasiva.

No Brasil, em estudo recentemente publicado, pacientes com padrão PIU provável foram submetidos à biópsia cirúrgica e, logo após, à realização da reunião MDD. A principal doença encontrada foi a pneumonite de hipersensibilidade, seguida pela FPI, essa última com uma prevalência abaixo de 50%. Ou seja, a avaliação invasiva foi imprescindível para o diagnóstico e manejo desses pacientes. No cenário brasileiro, a doença intersticial mais prevalente foi a pneumonite de hipersensibilidade, seguida pelas doenças autoimunes e a FPI em terceiro, diferente do restante do mundo em que a FPI é a doença mais prevalente.

Diante disso, a individualização dos casos sobretudo após reunião MDD é de fundamental importância na decisão ou não de biópsia. A mortalidade gira em torno de 1,7% em procedimentos eletivos e não é isento de complicações, sobretudo dependendo da performance dos pacientes. Atualmente, as doenças autoimunes, ocupacionais e àquelas secundárias à exposição à drogas não devem ser biopsiadas.

Mensagens práticas:

  • O padrão PIU associado a informações clínica é suficiente para diagnóstico da FPI em 90% dos casos;
  • A biópsia cirúrgica é indicada em casos de dúvida diagnóstica ou ausência de resposta aos tratamentos propostos;
  • Doenças autoimunes, ocupacionais e relacionadas ao uso de drogas não devem ser biopsiadas.

Referências bibliográficas:

  • Tibana RCC, Soares MR, Storrer KM, de Souza Portes Meirelles G, Hidemi Nishiyama K, Missrie I, Coletta ENAM, Ferreira RG, de Castro Pereira CA. Clinical diagnosis of patients subjected to surgical lung biopsy with a probable usual interstitial pneumonia pattern on high-resolution computed tomography. BMC Pulm Med. 2020 Nov 16;20(1):299. doi: 10.1186/s12890-020-01339-9.
  • Tomassetti S, Ravaglia C, Puglisi S, Ryu JH, Colby TV, Cavazza A, Wells AU, Pavone M, Vancheri C, Lavorini F, Matucci-Cerinic M, Rosi E, Luzzi V, Gori L, Rossi G, Donati L, Dubini A, Piciucchi S, Poletti V. Impact of Lung Biopsy Information on Treatment Strategy of Patients with Interstitial Lung Diseases. Ann Am Thorac Soc. 2021 Nov 5. doi: 10.1513/AnnalsATS.202104-466OC.

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