Bloqueio neuromuscular: Qual é seu efeito no índice biespectral em crianças graves?

Foi publicado um estudo sobre bloqueio neuromuscular contínuo e alterações nos valores do índice biespectral em crianças graves. Saiba mais.

Um estudo realizado na Espanha e publicado no jornal Anales de Pediatría mostrou que o bloqueio neuromuscular (BNM) contínuo produz pequenas alterações nos valores do índice biespectral (bispectral index – BIS) que não são clinicamente significativas e, portanto, não interferem no monitoramento da consciência pelo BIS em crianças graves.

Efeito do bloqueio neuromuscular no índice biespectral em crianças graves

O índice biespectral 

O BIS estima o nível de atividade cerebral por meio de uma análise matemática das frequências das ondas em sinais de eletroencefalografia (EEG) e também obtém informações de dados de eletromiografia (EMG). Foi introduzido pela primeira vez em 1992 pela Aspect Medical Systems®. Seu principal componente é a análise biespectral, que avalia as relações de fase de um sinal de EEG de canal único medido na testa do paciente. O índice BIS é um número adimensional de 0 a 100. 

Em primeiro lugar, o sinal EEG é digitalizado e pré-processado. O BIS inclui dois tipos de detecção de supressão de surto (BS): a taxa de supressão de surto (BSR) e a supressão de QUAZI. Os dados pré-processados ​​são usados ​​para calcular o parâmetro -ratio (uma razão de bandas de frequência medidas empiricamente, 30-47 Hz e 11-20 Hz). Simultaneamente, o segundo parâmetro, sincronização rápida-lenta, é calculado a partir da análise biespectral. Por fim, todos os parâmetros são enviados ao algoritmo de ponderação, que produz o índice BIS. Os dados eletromiográficos correspondem à faixa de 30 a 50 Hz, que pode se sobrepor ao BIS.

O BIS foi inicialmente usado para avaliação objetiva da profundidade da sedação em pacientes submetidos à anestesia geral, mas subsequentemente se mostrou útil no monitoramento do nível de sedação em pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), especialmente sob sedação profunda. Atualmente, inclusive, diretrizes internacionais recomendam seu uso para monitorar pacientes com BNM nos quais não é possível usar o escore clínico para avaliação da sedação. O bloqueio neuromuscular diminui a atividade eletromiográfica.

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Existem teorias que sugerem que o BNM afeta a capacidade de monitoramento do BIS para medir a consciência em crianças sedadas. Dessa forma, o objetivo dos pesquisadores no estudo Effect of neuromuscular blockade on the bispectral index in critically ill patients foi analisar o impacto do bloqueio neuromuscular nos valores do BIS em crianças graves.

O estudo 

Foi realizado um estudo observacional prospectivo de crianças monitoradas com um sistema BIS que receberam uma infusão contínua de vecurônio. O estudo foi conduzido em um hospital terciário de referência em Madrid entre 2011 e 2012. Os pesquisadores analisaram dados sobre variáveis clínicas, diagnósticas e hemodinâmicas, sedativos, analgésicos, relaxantes musculares e parâmetros do BIS. Por fim, foram comparados os parâmetros do BIS antes do uso de um relaxante muscular, durante sua administração, antes de sua descontinuação e nas 24 horas após o término da infusão.

A análise incluiu 35 pacientes com idade média de 30 meses, 52,9% do sexo masculino. O diagnóstico principal em 85% dos casos foi pós-operatório de cirurgia cardíaca, seguido de traumatismo cranioencefálico (9%) e bronquiolite (6%). As razões mais frequentes para o uso de BNM foram instabilidade hemodinâmica (baixo débito cardíaco, ECMO, taquicardia ectópica juncional; 49%), melhora da sincronia paciente-ventilador (23%), hipertensão pulmonar (14%) e aumento da pressão intracraniana (6%). O bloqueio neuromuscular não produziu uma mudança significativa nos valores do BIS. Os pesquisadores descreveram uma diminuição nos valores de EMG em 6 h (34,9 ± 9,4 vs 31,2 ± 7; P = 0,008) e 12 h após o início do BNM (34,9 ± 9,4 vs 28,6 ± 4,8; P = 0,006). Um pequeno aumento significativo no BIS após a descontinuação do BNM (de 42,7 ± 11 para 48,4 ± 14,5, P = 0,001) e 6 e 12 horas depois (51,3 ± 16,6; P = 0,015) foi observado. Não houve diferenças nas doses de sedativos ou analgésicos, exceto para fentanil, cuja dose foi reduzida após a interrupção do vecurônio.

O estudo possui limitações. O tamanho da amostra foi relativamente pequeno, o que pode reduzir a validade estatística das comparações. Além disso, todos os participantes estavam sob sedação profunda, pois, por questões éticas, não foi utilizado BNM em pacientes com sedação leve. Além disso, o grau de relaxamento muscular não foi aferido.

Conclusão 

O estudo concluiu que a infusão contínua de BNM produz pequenas alterações nos valores do BIS em crianças graves sob sedação moderada a profunda que não são clinicamente relevantes e, portanto, não compromete o monitoramento do BIS do nível de consciência nesses pacientes. Dessa forma, o BIS parece ser uma ferramenta útil para monitorar a sedação em crianças graves com bloqueio neuromuscular.

Referência bibliográfica:

  • Sanavia E, García M, Castillo JD, González R, López-Herce J, Mencía S. Effect of neuromuscular blockade on the bispectral index in critically ill patients. An Pediatr (Engl Ed). 2020;93(4):251-256. doi10.1016/j.anpedi.2019.07.010

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