Brain Fog no pós-covid-19: uma epidemia?

Não há estudos epidemiológicos sobre a incidência de brain fog no Brasil, porém é uma das sequelas mais reportadas pós-covid-19.

A covid-19 é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS-CoV-2, cuja pandemia foi decretada em março de 2020. Desde então mais de 330 milhões de pessoas já foram acometidas em todo o mundo e o número crescente de casos está relacionado à disseminação da variante ômicron. Os sintomas inicialmente eram respiratórios, mas sabe-se hoje que o vírus pode acometer coração, rins, trato gastrintestinal e até o sistema nervoso central.

Muitos pacientes que sobreviveram à covid-19 podem apresentar sintomas persistentes, que podem ser caracterizados como covid longa. Segundo a Organização Mundial de Saúde este termo é definido como: “condição pós-covid-19 que ocorre em indivíduos com história de infecção por SARS-CoV-2 provável ou confirmada, geralmente 3 meses a partir do inicio da covid-19 com sintomas e que duram pelo menos 2 meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo”.  Os sintomas persistentes podem ser muito variáveis, incluindo fadiga, tosse, dispneia e também sintomas do sistema nervoso cerebral. Dentre estes destacamos as manifestações neurológicas, incluindo brain fog ou névoa cerebral.

Brain Fog no pós-covid-19 uma epidemia

Quais são as manifestações neurológicas na covid-19?

O vírus da SARS-CoV-2 desencadeia resposta inflamatória com liberação exagerada de citocinas que poderão levar a acometimento do endotélio de vasos sanguíneos, com risco de coagulação; mecanismos estes que podem estar relacionados a acometimento do sistema nervoso central, tanto na fase aguda, na convalescença ou na síndrome da covid longa. O vírus pode afetar o Sistema Nervoso devido ao processo inflamatório descrito decorrente da intensa atividade do sistema imunitário ou por invasão direta por via sanguínea ou nervos periféricos.

Síndrome de Guillain-Barré, encefalomielite disseminada, acidente vascular cerebral isquêmico e trombose venosa cerebral já foram descritos em pacientes com covid; porém é difícil dizer se estes processos patológicos são consequências desta infecção ou se estas associações são apenas coincidências. Porém, a manifestação que tem mais sido relatada pelos pacientes é o Brain Fog.

Mas o que vem a ser brain fog?

Brain fog ou névoa cerebral não é um termo científico, mas usado para descrever uma série de sintomas incluindo:

  • Dificuldade de concentração;
  • Pensamento mais lento que o habitual;
  • Sensação de confusão mental;
  • Esquecimento fácil;
  • Dificuldade de memorização;
  • Dificuldade de raciocínio matemático;
  • Fadiga mental.

Não há estudos epidemiológicos sobre a incidência de brain fog no Brasil, porém é uma das sequelas mais reportadas por pessoas que estiveram infectadas com covid-19. Afeta não apenas casos graves, que necessitaram de cuidados intensivos, mas também pacientes assintomáticos.

No Brain Fog não há lesão estrutural identificável e também não há relação com demência ou senilidade. Os sintomas parecem mais com sintomas de privação de sono, jet lag, depressão ou estresse.

Becker et al (2021) analisaram coorte de pacientes com covid-19 de abril de 2020 a maio de 2021, por meio de um registro do Sistema de Saúde Mount Sinai, Estados Unidos. Foi avaliado desempenho cognitivo usando medidas neuropsicológicas bem validadas: Number Span para frente (atenção) e para trás (trabalho memória). A idade média dos 740 participantes foi de 49 anos (38-59) anos e 63% (n = 464) eram mulheres. O tempo médio do diagnóstico de COVID-19 foi de 7,6 (2,7) meses. Neste estudo, encontrou-se frequência relativamente alta de comprometimento cognitivo vários meses após pacientes contraíram COVID-19.  A maioria dos déficits foram na velocidade de processamento das informações (18%, n = 133), funcionamento executivo (16%, n = 118), fluência fonêmica (15%, n = 111), codificação de memória (24%, n = 178) e recuperação de memória (23%, n = 170). Os prejuízos foram mais intensos nos pacientes que foram hospitalizados. Autores sugeriram que futuros estudos são necessários para identificar os fatores de risco e mecanismos subjacentes de disfunção cognitiva, bem como opções de reabilitação.

Leia também: Teste neuropsicológico confirmam déficits cognitivos pós-Covid-19

Como tratar o brain fog por coronavírus?

A maioria dos pacientes se recuperam espontaneamente deste nevoeiro cerebral. Durante o período de convalescença os sintomas podem variar.

A Universidade de Harvard sugere aos pacientes para melhoria dos sintomas:

  • Exercícios aeróbicos que devem ser progressivos e individualizados. Geralmente recomendam-se 30 minutos por dia, cinco dias na semana;
  • Dieta saudável, incluindo azeite, frutas e legumes, nozes e feijões e grãos integrais, que provaram melhorar o pensamento e a memória;
  • Evitar álcool e drogas;
  • Sono adequado;
  • Participação em atividade sociais;
  • Participar de atividades cognitivamente estimulantes (música; praticar a atenção plena e manter uma atitude mental positiva).

O uso de psicobióticos para brain Fog já foi aventado devido a possível relação com disbiose intestinal e parece ser promissor.

Saiba mais: “Brain fog”, disbiose e probióticos: o que há de novo?

Conclusão

Podemos concluir que o Brain Fog tem tido incidência crescente durante a epidemia de covid-19 e que profissionais de saúde devem estar preparados para realizar este diagnóstico e orientações terapêuticas.

Referências bibliográficas:

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