Bronquiolite viral aguda: Qual a relação com a ventilação mecânica invasiva e sua duração?

A investigação no período de ventilação mecânica trazem medidas que podem reduzir o período de internação por bronquiolite viral. Saiba mais.

A bronquiolite viral aguda é um quadro clínico comum e uma das maiores causas de morbidade em crianças abaixo de 2 anos de idade. Também é uma das causas mais frequentes de internação em unidades de terapia intensiva pediátrica. Apesar disso, apresenta uma reduzida mortalidade, mas por apresentar um caráter sazonal, a bronquiolite leva a uma grande pressão no sistema de saúde, por aumentar a demanda de leitos hospitalares para a população pediátrica. Além disso, alguns estudos sugerem aumento na proporção de crianças com bronquiolite que necessitam de ventilação mecânica no decorrer dos últimos anos, o que aumenta ainda mais a necessidade de leitos para esses pacientes.

Bronquiolite e ventilação mecânica invasiva

Bronquiolite e a ventilação mecânica

A investigação dos fatores que levam ao aumento do período de ventilação mecânica e do número de dias de hospitalização são de relevância para a saúde pública, uma vez que podem gerar dados a respeito das necessidades de leitos hospitalares e implicar em intervenções que consigam reduzir o período de internação de pacientes com bronquiolite viral.

Numa tentativa de avaliar quais fatores podem estar relacionados ao período de ventilação mecânica invasiva em crianças com bronquiolite viral, um grupo de pesquisadores britânicos realizou um estudo retrospectivo avaliando os resultados de três centros com relação a esse desfecho. A hipótese foi que as diferenças entre as práticas dos centros levaram à variações na duração da ventilação mecânica invasiva, após ajuste de potenciais fatores de confundimento. 

Coleta de dados do estudo

O estudo incluiu crianças internadas em uma das três UTI pediátricas participantes do estudo, em ventilação mecânica invasiva por bronquiolite viral, no período entre janeiro de 2013 e dezembro de 2016. Crianças acima de 1 ano de idade, que utilizavam ventilação em casa antes da internação, e as que necessitaram de oxigenação por membrana extra-corpórea (ECMO) foram excluídas do estudo. 

Os dados foram coletados retrospectivamente através da base de dados dos hospitais. Foram coletados dados relacionados à idade gestacional no nascimento, peso, presença de vírus sincicial respiratório, presença de comorbidades, presença de coinfecção bacteriana no aspirado traqueal na admissão, e índices prognósticos na admissão, como o Pediatric Indice of Mortality 2 (PIM-2).

Também foram avaliados dados relacionados aos cuidados durante o período de internação, como sedação, analgesia, uso de bloqueador neuromuscular (nos períodos de 24 e 48 horas pós admissão), sítio da colocação do tubo traqueal (se oral ou nasal, após 24 horas de admissão), e manejo dietético e de fluidos (balanço hídrico cumulativo em 48 e 72 horas pós admissão). Também foi avaliada a necessidade de suporte ventilatório não invasivo (CPAP ou ventilação com pressão positiva bilevel) após a extubação. 

O desfecho primário avaliado foi a duração total de ventilação mecânica invasiva (em horas). Desfechos secundários incluíram o número total de estadia na UTI (em horas), duração da ventilação mecânica não invasiva pós extubação (em horas), o número de tentativas falhas de extubação, o número de extubações acidentais durante o período de ventilação mecânica invasiva, e a sobrevivência pós alta da UTI. 

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Resultados

Foram incluídos no estudo 462 crianças, com mortalidade de 1%. Não houve relatos de extubações acidentais. As características basais dos pacientes não diferiram estatisticamente entre os centros, exceto o PIM-2 mais alto no centro A. 

A presença de falha de extubação, uso de bloqueadores neuromusculares, uso de midazolam e opiodes via venosa, uso de tubo orotraqueal (ao invés de nasotraqueal) e balanço hídrico positivo nas primeiras 48 horas estiveram associados a uma duração média maior de ventilação mecânica invasiva. Além disso, houve relação entre uma maior duração de ventilação mecânica invasiva e número de dias de internação na UTI, o que é um resultado esperado. 

O centro A teve uma duração média de ventilação mecânica invasiva de 44% a mais do que o centro de referência (centro C), mesmo quando ajustados os potenciais confundidores, sugerindo que as diferenças do manejo entre os centros estiveram relacionadas com a duração da ventilação mecânica e da internação em UTI. 

Apesar do estudo não apresentar potencial para avaliação de relações causais, os resultados são interessantes, uma vez que podem trazer indícios de que novos protocolos para tratamento da bronquiolite viral podem trazer benefícios para a redução do período de ventilação mecânica invasiva e do tempo de internação para os pacientes, levando a uma menor sobrecarga do sistema de saúde, principalmente nos períodos de maior adoecimento das crianças por esse quadro. 

Estudos prospectivos utilizando protocolos com estratégias de restrição hídrica, intubação nasal, restrição do uso de benzodiazepínicos, e redução do uso de opioides são necessários para melhor esclarecimento desses fatores na relação causal com o tempo de ventilação mecânica em pacientes com bronquiolite viral. 

 

Referência bibliográfica:

  • MITTING, Rebecca B. et al. Invasive Mechanical Ventilation for Acute Viral Bronchiolitis: Retrospective Multicenter Cohort Study. Pediatric Critical Care Medicine, v. 22, n. 3, p. 231-240, 2021. doi: 10.1097/PCC.0000000000002631

 

 

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