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Desde o surgimento dos primeiros casos até os dias atuais, a Covid-19 vem devastando nações e economias ao redor do mundo, já sendo considerada como a maior pandemia dos últimos 100 anos e por isso, diversas estratégias de tratamento vêm sendo testadas com o objetivo de controlar o processo replicativo viral ou atenuar os efeitos deletérios ao sistema respiratório, com poucas evidências robustas em termos de estratégias com benefícios comprovados, como os resultados do grupo RECOVERY.
Com o avançar da pandemia, diversos estudos populacionais em países como Estados Unidos, Itália e China mostraram uma baixa incidência em pacientes portadores de asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica 4, sendo hipotetizado então que uma possível causa para a baixa incidência de hospitalização nesse grupo fosse em decorrência do uso de corticoides inalatórios.
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Estudos de bancada anteriores já mostravam que os corticoides tinham impacto na redução do processo replicativo viral no epitélio respiratório, bem como na modulação da expressão dos receptores ACE2 e TMPRSS2, vitais no processo patológico da pneumonia por Covid-19.
O estudo Inhaled budesonide in the treatment of early COVID-19 (STOIC): a phase 2, open-label, randomised controlled trial, publicado em julho de 201 na revista The Lancet, consiste em um ensaio de fase 2 projetado para avaliar a eficácia da budesonida inalatória em indivíduos com formas leves de Covid-19.
Trata-se de um estudo aberto e randomizado de fase 2, envolvendo 146 pacientes acima de 18 anos, com sintomas respiratórios há menos de 7 dias da randomização, na cidade de Oxfordshire, Inglaterra, entre julho e dezembro de 2020.
O objetivo do estudo foi avaliar diversos aspectos como a probabilidade de necessidade de atendimento no serviço de urgência ou hospitalização, parâmetros como temperatura e oxigenação, além do efeito da budesonida inalada na carga viral do SARS-CoV-2. Os casos foram confirmados como positivos para Covid-19 em 94% dos casos.
Os pacientes foram randomizados na proporção 1:1 e estratificados conforme idade acima ou não de 40 anos, sexo e número de comorbidades. O grupo controle recebeu cuidado usual com sintomáticos e o grupo controle recebeu budesonida por via inalatória por aero puff, na dose de 400 mcg duas vezes ao dia. O esquema era mantido até que houvesse resolução clínica dos sintomas. Os participantes eram visitados por uma equipe de enfermeiros treinados nos dias 0, 7, 14 e 28 da randomização, quando os dados clínicos eram coletados, bem como as amostras para o PCR qualitativo e quantitativo.
Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Dos 146 pacientes randomizados, o desfecho primário da necessidade de atendimento hospitalar ocorreu em dez (14%) dos 70 participantes no grupo controle e um (1%) dos 69 participantes no grupo da budesonida (IC 95%; p = 0,04). O número necessário para tratar (NNT) com budesonida inalada para reduzir a deterioração da Covid-19 foi de oito.
A recuperação clínica foi um dia mais rápida no grupo da budesonida em comparação com o grupo controle (mediana de 7 dias no grupo da budesonida vs 8 dias no grupo de tratamento usual; p = 0,007). O número de dias com febre nos primeiros 14 dias foi menor no grupo da budesonida (2%) do que no grupo controle (8%; p = 0,051).
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Menos participantes do grupo budesonida apresentaram sintomas persistentes nos dias 14 e 28 em comparação com os participantes do grupo controle (IC 95%; p = 0,03) e a média da pontuação total nos questionários Common Cold Questionnaire (CCQ) e InFLUenza Patient Reported Outcome Questionnaire (FLUPro) ao longo de 14 dias foi significativamente melhor no grupo da budesonida em comparação com o grupo controle (IC 95%; p=0,016].
De acordo com este estudo, corroborando impressões prévias em relação ao uso de corticoide inalatório em pacientes com formas leves de Covid-19, a budesonida parece ser um tratamento seguro e eficaz para Covid-19 em fase precoce, que pode ser usado com facilidade pelos pacientes e é amplamente acessível. Os achados sugerem a avaliação do uso especialmente no contexto de um tratamento dado no início do quadro, por ser amplamente disponível e é relativamente seguro do ponto de vista de complicações.
Diante da gravidade e da agressividade da pandemia sobre todos nós, a possibilidade de utilizar um medicamento barato, seguro e com bom racional fisiopatológico é muito tentador. Apesar de ser um estudo com um pequeno grupo de pacientes com doença leve, foi bem desenhado e publicado em uma revista médica de alto prestígio internacional, com um rigoroso sistema de avaliação e publicação. O uso da budesonida inalatória parecer ser um interessante aliado nos casos de Covid-19 em forma leve e com menos de 7 dias de evolução dos sintomas, ou seja, na fase precoce. Ainda carecemos de estudos robustos em pacientes com formas graves.
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